
Apólices de seguro automotivo somam R$ 1,3 bilhão em pedidos de ressarcimento. Honda Civic inundado RS
Alexandre Dias/ Arquivo pessoal
O setor com mais pedidos de indenizações por conta de sinistros causados pelas enchentes do Rio Grande do Sul é o automotivo. De acordo com a Confederação Nacional das Seguradoras (CNSeg), no total de todos os tipos de apólices (R$ 3,9 bilhões), R$ 1,3 bilhão foi destinados apenas para ressarcimentos de clientes que tinham veículos segurados.
O estado que ainda se recupera da maior tragédia de sua história, que já soma 177 mortes e 37 desaparecidos.
"O número de sinistros deve continuar crescendo com as chuvas que estão voltando a atingir cidades do Rio Grande do Sul. A cota de inundação do Lago Guaíba está aumentando e a situação ainda não melhorou no estado", comenta Dyogo Oliveira, presidente do CNSeg.
De acordo com novo balanço divulgado pela entidade nesta quarta-feira (19), a quantidade de sinistros aumentou de 23.441, do balanço realizado em 23 de maio deste ano, para 48.870 agora em junho, um aumento de 108%.
Esse novo balanço se justifica porque, no mês anterior, o presidente da CNSeg, Dyogo Oliveira, havia afirmado que a maioria das solicitações de indenização ainda não havia sido reportada. O g1 continuará acompanhando as próximas atualizações; a próxima ocorrerá em julho.
Por segmento, foram 22.673 pedidos de indenizações para seguro habitacional e residencial, que resultaram em um aumento de R$ 239 milhões para R$ 524 milhões em ressarcimentos.
Para o setor rural, o aumento de sinistros foi de 993 para 2.215, o que representa um valor de R$ 181 milhões (284% a mais do que em maio).
O número de veículos que sofreram danos foi atualizado para 19.067 (R$ 1,2 bilhão), ante 8.216 (R$ 557,4 milhões) divulgados em maio, um aumento de 132%.
Balanço de pedidos de sinistros no RS
Arte/g1
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Ainda de acordo com Oliveira, por conta da catástrofe, a quantia de seguros de veículos deve diminuir: "haverá uma redução na contratação de seguro nesse momento, pois há muita dificuldade de operação na região. Contudo, fica o alerta para a população contratar um seguro sempre que puder".
Como acionar o seguro?
Já falamos aqui no g1 sobre a possibilidade de recuperar um carro que foi inundado. Uma das cláusulas básicas que a maioria dos seguros estabelece é que os custos com a recuperação não ultrapassem 75% do valor do veículo.
Antes dessa vistoria, é preciso registrar o sinistro e, de acordo com a maioria das seguradoras, o sinistro deve ser aberto pelos canais de atendimento ao segurado (telefone ou whatsapp) dentro de 30 dias após o ocorrido.
Vale lembrar que, para acionar o seguro e garantir o dinheiro de volta, é preciso consultar o contrato e verificar se o seguro cobre riscos de causas naturais, como as enchentes. "Mais de 95% dos seguros contratados para veículo são do tipo compreensivo, aquele que engloba todos os riscos que possam afetá-lo", diz Oliveira.
Os primeiros sinais de alagamento no RS aconteceram no dia 28 de abril, com consequências fatais nos dias seguintes. Grande parte da população perdeu documentos como RG, CPF, CNH e CRLV (documento do automóvel) e, sem eles, é impossível abrir um pedido de indenização.
Apesar dos esforços para recuperá-los, muitos podem não ter ficado prontos dentro do prazo de trinta dias corridos para solicitar um sinistro.
Contudo, de acordo com o presidente da CNSeg, muitas empresas estão agilizando o ressarcimento ao diminuir a burocracia do processo. "Carro é mais fácil de fazer o aviso e, com isso, os sinistros de veículos devem diminuir nos próximos meses", completa Oliveira.
Segundo ele, algumas seguradoras fazem o ressarcimento em até 48 horas após o pedido do clientes. "As seguradoras tem dispensado a apresentação de todos os documentos que eram exigidos antes", explica.
Ilan Kajan, CEO da Alper Seguros (corretora que trabalha diversas seguradoras na carteira), corrobora com a afirmação de Oliveira. "
Sinistros devem aumentar
Segundo levantamento do Sindipeças (Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores), a frota do Rio Grande do Sul, entre leves e pesados, é de 2,8 milhões de veículos. Conforme informa o presidente da CNSeg, apenas 30% dos consumidores costumam fazer seguro.
Com base nesses dados, podemos estimar que existem 840 mil automóveis segurados no RS, mas nem todos sofreram danos nas enchentes que começaram no fim de abril. Contudo, se considerarmos, de forma hipotética, que apenas 10% deles foram afetados, a conta nos leva a 84 mil carros, número muito superior aos 19 mil divulgados hoje. Apesar de o presidente da CNSeg afirmar que o número de avisos de sinistros deve diminuir nos próximos meses, a probabilidade dos números afirma o oposto.
Um seguro para o seu seguro?
E não são só os clientes físicos que possuem seguros. As seguradoras também possuem os seus meios de assegurar as suas operações. Um deles é contratar uma resseguradora, ou seja, um seguro para a própria seguradora, que é usado nesses momentos de crise ou catástrofes ambientais onde o número de sinistros aumenta repentinamente e muitas vezes não há dinheiro suficiente no caixa para restituir os bens dos clientes.
"O resseguro é contrtado para que as seguradoras fiquem menos expostas a esses tipos de eventos. Isso é muito saudável para o mercado de seguros no Brasil e muitos estão contratando resseguradoras. Essas, muitas vezes, são empresas internacionais e pagam seus clientes em dólar, o que pode trazer outros benefícios para as empresas de seguro que fazem seus pagamentos em real para os clientes.