Em primeira grande vitória de Milei, Argentina aprova em definitivo projeto de reforma econômica

Americanas: veja como o ex-CEO tentou blindar patrimônio após fraude contábil, segundo a PF
Discussões finais sobre o projeto de reforma primária de Milei e sua contrapartida fiscal começaram na quinta-feira na Câmara dos Deputados. Com a aprovação inicial já garantida, o foco do debate era o acordo sobre os detalhes finais antes de as medidas se tornarem lei. Javier Milei, em março de 2024
Agustin Marcarian/Reuters
O Congresso da Argentina aprovou no início da sexta-feira (28) as medidas de reforma econômica propostas pelo presidente Javier Milei, dando a ele sua primeira grande vitória legislativa pouco mais de seis meses depois de assumir o cargo.
As discussões finais sobre o projeto de reforma primária de Milei e sua contrapartida fiscal começaram na quinta-feira na Câmara dos Deputados. Com a aprovação inicial já garantida, o foco do debate era o acordo sobre os detalhes finais antes de as medidas se tornarem lei.
A legislação, que oferece incentivos ao investimento, aborda a privatização de uma série de entidades estatais e reajusta os impostos, atingirá alguns dos principais objetivos estabelecidos por Milei, que venceu as eleições no ano passado prometendo recuperar a conturbada economia do país.
Em uma publicação nas redes sociais, o governo argentino comemorou a aprovação das reformas econômicas, criticando a oposição e seus "cúmplices habituais" por atrasar o projeto por meses.
Os dois projetos de lei foram alterados significativamente desde as versões iniciais do governo, que negociou para conquistar aliados no Congresso, onde tem apenas uma pequena minoria de assentos.
"O projeto sofreu uma redução significativa se você olhar para o original", disse a empresa de investimentos local Wise Capital. "Mas o partido governista conseguirá aprovar uma estrutura que lhe permita implementar as medidas que considera necessárias para reconstruir a economia argentina."
Milei, que herdou uma bagunça econômica com inflação de três dígitos, reservas líquidas negativas de moeda estrangeira e uma economia em declínio, concentrou-se fortemente em colocar as finanças do Estado em ordem com austeridade rigorosa. Ele teve sucesso em conter os aumentos de preços, reconstruir as reservas e registrar um superávit fiscal, embora a economia tenha sido duramente atingida.
Após as aprovações dos deputados em abril e dos senadores neste mês, a Câmara agora votará as mudanças feitas no Senado. Espera-se que ela aceite uma lista reduzida de empresas estatais a serem privatizadas e ajustes no plano de incentivo ao investimento.
No entanto, o governo espera restabelecer alguns artigos sobre tributação e bens pessoais que foram removidos no Senado.
Os parlamentares da oposição de centro-esquerda disseram que poderiam recorrer aos tribunais para impedir a entrada em vigor de certas leis que, segundo eles, beiram a "inconstitucionalidade".

Venda da Avibras: negociações com empresa australiana continuam

Americanas: veja como o ex-CEO tentou blindar patrimônio após fraude contábil, segundo a PF
Em nota à imprensa nesta sexta, Avibras afirmou que segue negociação com a DefendTex. No dia 13 de junho, ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, afirmou que a empresa australiana havia desistido do negócio. Avibras, em Jacareí
Claudio Vieira/Sindicato dos Metalúrgicos
A Avibras emitiu um comunicado oficial nesta sexta-feira (28) em que afirmou que continua em negociação para venda da empresa à DefendTex, companhia australiana.
No dia 13 de junho, o ministro a Defesa, José Múcio Monteiro, disse em uma evento que a empresa australiana havia desistido do negócio e que a indústria bélica brasileira havia recebido uma outra proposta.
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Nesta sexta-feira (28), porém, a Avibras informou que o contrato de investimento assinado assinado com a DefendTex permanece em vigor.
"Ambas as empresas estão empenhadas em concluir o processo de aquisição (“closing” do contrato) e realizar o aporte de capital a partir do dia 30 de julho, visando a retomada das operações", disse a empresa brasileira.
Ainda de acordo com a Avibras, novas informações serão divulgadas em breve.
Tudo começou em abril, quando a própria Avibras anunciou que tinha negociações em andamento para ser vendida à DefendTex. Segundo a empresa brasileira, as tratativas estavam avançadas.
Avibras
Reprodução/ TV Vanguarda
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O ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, disse no dia 13 de junho que a australiana DefendTex desistiu de comprar a Avibras, mas que a indústria bélica brasileira recebeu uma nova proposta.
A declaração foi feita durante um evento online em comemoração aos 25 anos do Ministério da Defesa. José Múcio disse ainda que uma nova empresa demonstrou interesse na compra da Avibras, sem revelar de onde veio a proposta.
"Havia uma empresa da Austrália interessada, mas que essa semana disse que não está mais interessada. E hoje apareceu um novo candidato, pediu sigilo, hoje à tarde eu recebi uma carta de um país muito forte, de uma empresa, dizendo que tinha interesse em entrar nisso com 49% e o resto seria capital brasileiro. De maneira que nós estamos trabalhando para que isso aconteça. Há um interesse absoluto das forças armadas em manter a Avibras e o presidente Lula, diariamente, me cobra isso”, disse o ministro no evento.
De acordo com o jornal Folha de São Paulo, a proposta foi de uma empresa da China. Segundo apuração do jornal, o interessado na compra da Avibras seria a Norinco, uma empresa estatal chinesa.
A indústria Norinco atua em diversas áreas, como no setor de defesa, com fabricação de blindados e bombas, na área militar, com a fabricação de armamentos, além de estar envolvida em segmentos petroquímicos e de construção civil, entre outras atividades.
De acordo com o site da empresa, a Norinco tem relações econômicas e comerciais com mais de 130 países e investiu no exterior, só no ano passado, quase 20 bilhões de dólares, ou seja, mais de R$ 100 bilhões no câmbio atual.
Anteriormente, a direção da Avibras chegou a admitir que a venda da Avibras é uma forma da companhia se recuperar financeiramente, manter as fábricas no Brasil e retomar a operação para poder cumprir os contratos.
A crise na Avibras já se arrasta há pelo menos uma década. Os funcionários estão há mais de dois anos sem trabalhar e sem receber salários. A Justiça homologou este ano a recuperação judicial solicitada pela empresa, essa é uma das etapas necessárias para uma possível negociação.
Confira aqui um resumo sobre a crise da Avibras
Cerca de 400 funcionários da Avibras entram em licença remunerada em Jacareí
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Governo publica MP que prevê início da taxação de compras de até US$ 50 a partir de 1º de agosto

Lula sancionou nesta quinta lei que estabelece cobrança do imposto de importação para compras internacionais de até US$ 50. Imposto federal não incidirá sobre remédios comprados por pessoas físicas. O governo federal publicou em edição extra do "Diário Oficial da União" desta quinta-feira (26) a medida provisória que estabelece a retomada da taxação de importações de até US$ 50 a partir de 1º de agosto
O texto deixa claro que o imposto federal não incidirá sobre medicamentos comprados por pessoas físicas.
O presidente Lula sancionou nesta quinta a lei que estabelece a cobrança do imposto de importação para compras internacionais de até US$ 50. Embora tenha sancionado, Lula era crítico da medida, que classificou como irracional.
CALCULADORA DO g1 MOSTRA COMO VÃO FICAR OS PREÇOS
Pela regra anterior, essas compras estavam sujeitas apenas à incidência do ICMS, um imposto estadual. O novo texto inclui no preço, antes do ICMS, um imposto de importação de 20% sobre o valor da compra.
Taxação de compras internacionais de até US$ 50 valerá a partir de agosto, diz Padilha
A nova taxa
Desde agosto do ano passado, o governo vinha isentando as compras internacionais feitas na internet de até US$ 50. A medida foi implementada por uma portaria publicada em junho de 2023 pelo Ministério da Fazenda.
De acordo com as regras, as empresas que aderissem ao programa Remessa Conforme, da Receita Federal, e recolhessem o Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), estariam isentas da cobrança.
Com a sanção do projeto, os produtos importados passarão em agosto a ser taxados duas vezes, com o novo imposto federal e com o ICMS. Serão cobradas duas alíquotas diferentes.
Uma de 20% sobre o valor de US$ 50.
E a outra de 60% sobre o valor excedente.
Na prática, será dado um desconto de US$ 20 para compras acima de US$ 50, de modo a abater a tributação dos primeiros US$ 50 de compra.
Numa compra de US$ 60, por exemplo hoje a taxa seria de US$ 36 (60%). Mas, a partir de agosto:
a taxa total passa a ser de US$ 16, porque será cobrada a taxa de 20% sobre a parcela inicial de US$ 50 (o que gera um imposto de US$ 10) e será cobrada a de 60% sobre o restante, de US$ 10 (o que gera um imposto de US$ 6).
No caso de uma compra de US$ 3 mil, o desconto final são os mesmos US$ 20, ao aplicar a taxa sobre o excedente acima de US$ 50.
Hoje em dia, essa compra pagaria um imposto de US$ 1.800. Com a nova regra, vai pagar US$ 1.780.

Lula empoderou Haddad em reunião do Conselhão, dizem empresários

O presidente Lula empoderou o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, durante a reunião do Conselhão nesta quinta-feira (28).
Essa é a avaliação de empresários presentes ao encontro – que, mais uma vez, foram alvo de reclamações do presidente da República. Para esses empresários, a sinalização de Lula a favor de Haddad tem efeito positivo para a economia e tende a acalmar o mercado em breve.
Em mais de uma oportunidade, durante sua fala, Lula fez gestos de apoio na direção de seu ministro da Fazenda, o que acaba também sendo uma sinalização para aqueles que, dentro do próprio governo, estavam querendo minar Haddad.
A ala política aproveitou os últimos episódios, vistos como indícios de enfraquecimento do ministro da Fazenda, para pressionar o Ministério da Fazenda a deixar de lado qualquer tentativa de fazer cortes.
Nesta quinta, Lula manteve sua defesa dos gastos sociais e dos investimentos em infraestrutura. Mas ressaltou que não se pode gastar mais do que se arrecada, citando um conselho que sua mãe lhe dava.
O empresariado entendeu que foi a forma de Lula dizer que haverá espaço para fazer corte de despesas – algo que Lula nunca negou, mas também nunca defendeu como prioridade de governo.
Ou seja: aqueles que estavam apostando no enfraquecimento de Fernando Haddad receberam o recado claro de Lula de que ele segue sendo seu principal ministro.
Lula indica não estar convencido de que o corte de gastos seja necessário e desagrada mercado; Bruno Carazza comenta
Críticas ao mercado
Durante a reunião do Conselhão, Lula voltou a fazer novas críticas ao mercado.
Disse que ele gosta de especular, muitas vezes sem motivo algum, não tendo nenhuma preocupação com a parcela mais pobre da população.
Por outro lado, emitiu sinais para a plateia de que tem um interlocutor no sistema financeiro: o presidente da Febraban, Isaac Sidney, citado por Lula em sua fala mais de três vezes.
Isaac foi um dos escolhidos para falar durante a reunião do Conselhão, reforçando a importância de fortalecer o ministro da Fazenda para afastar as turbulências da economia.
O empresariado gostou do que ouviu, por entender que esta é a forma do presidente se comunicar politicamente. Mas fez ressalvas, é claro, às falas mais duras de Lula, incluindo o momento em que o presidente sinalizou despreocupação com o tamanho da dívida pública do país.
Lula disse que, em comparação com as dívidas dos Estados Unidos, Japão, Alemanha e Itália, "a dívida brasileira é troco".
A dívida pública do Brasil realmente é menor, mas seu custo de financiamento é muito maior proporcionalmente, porque a taxa de juros aqui é muito mais alta.
Além disso, o mercado tem receios de que o Brasil, como já fez no passado, deixe de pagar sua dívida.
'Haddad jamais ficará enfraquecido enquanto eu for presidente', diz Lula

Americanas: veja como o ex-CEO tentou blindar patrimônio após fraude contábil, segundo a PF

Americanas: veja como o ex-CEO tentou blindar patrimônio após fraude contábil, segundo a PF
Agentes saíram nesta quinta-feira (27) para cumprir 2 mandados de prisão preventiva e 15 de busca e apreensão em operação contra as fraudes na varejista. Ex-CEO Miguel Gutierrez está fora do país e teve seu nome incluído na Difusão Vermelha da Interpol. Fachada da Lojas Americanas
Divulgação
A Polícia Federal (PF) aponta que o ex-CEO da Americanas Miguel Gutierrez fez uma série de movimentações para blindar seu patrimônio em meio ao escândalo contábil de mais de R$ 25 bilhões da Americanas.
Gutierrez foi um dos principais alvos da Operação Disclosure, contra a fraude na varejista, deflagrada nesta quinta-feira (27). Ele e a ex-diretora da Americanas Anna Christina Ramos Saicali tiveram prisão preventiva determinada pela Justiça.
Ambos estão fora do país e são considerados foragidos. Por isso, tiveram seus nomes incluídos na lista dos mais procurados do mundo da Interpol.
Além dos 2 mandados de prisão preventiva, foram realizados 15 mandados de busca e apreensão contra outros ex-executivos do grupo.
Americanas: entenda a fraude que levou à operação da PF
Blindagem e transferência de bens
Em um extenso documento, a Polícia Federal afirma que Miguel Gutierrez vinha se empenhando em blindar seu patrimônio logo após deixar seu cargo na Americanas, "sabendo que o escândalo iria explodir".
Segundo as investigações, Gutierrez criou um "engenhoso esquema societário" que inclui o envio de diversas remessas de valores a offshores sediadas em paraísos fiscais. Offshores são rendimentos obtidos fora do Brasil, por meio de aplicações financeiras ou empresas no exterior.
"Os e-mails encontrados na conta institucional de Miguel Gutierrez revelam a criação de um engenhoso esquema societários, com diversas remessas de valores a offshores sediadas em paraísos fiscais", diz a PF em inquérito.
Segundo a Polícia Federal, dias antes de Gutierrez deixar seu cargo na Americanas, ele estabeleceu um "desafio" de blindar seu patrimônio, que teria como premissa básica o "sigilo completo".
A estruturação do plano, de acordo com a PF, tinha como finalidade "dissociar qualquer ligação formal" entre Gutierrez e seu patrimônio.
A estruturação do plano de Miguel Gutierrez, de acordo com a PF, tinha como finalidade 'dissociar qualquer ligação formal' entre Gutierrez e seu patrimônio.
Reprodução
Ainda conforme o documento da PF, o ex-CEO da Americanas traçou 2 etapas em seu plano de blindagem. A 1ª, de longo prazo, seria a "reserva de valor" e a "sucessão". A 2ª, de curto prazo, seria a "blindagem patrimonial", o que a Polícia Federal trata como "ocultação de patrimônio".
Ainda conforme o documento da PF, o ex-CEO da Americanas traçou duas etapas em seu plano de blindagem.
Reprodução
Implementação do 'plano'
Segundo o inquérito, Gutierrez passou, então, a transferir todos os imóveis em seu nome para empresas a ligadas a seus familiares, ficando apenas com um imóvel em seu nome, instituído como "bem de família".
Paralelamente, conforme as investigações, Miguel Gutierrez remetia valores a empresas ligadas a ele e a seus familiares no exterior. Nesse sentido, a PF também aponta anotações do próprio executivo que indicam transferência de valores para a esposa dele.
"Outros e-mails também retratam as operações desenhadas, como por exemplo o contrato de mútuo entre as empresas Tombruan Participações Ltda (sediada no Brasil) e Tombruan Corporation Ltd. (sediada em Nassau, Bahamas) no valor de U$ 1.500.000,00 (um milhão e quinhentos mil dólares americanos)", continua o documento da Polícia Federal.
De acordo com a PF, um assistente de investimentos de um banco na Europa passou orientações a Miguel Gutierrez, a seu filho Tomás e à sua esposa, Maria, sobre movimentações da companhia Tombruan — empresa da família citada na troca de e-mails.
As investigações apontam que o ex-CEO da Americanas e seus familiares começaram a reformular suas sociedades empresariais já em 2022, antes de o escândalo contábil vir à tona.
"Além de constituir novas empresas, Miguel Gutierrez deixa o quadro societário das empresas Sogepe Participações LTDA e Tombruan Participações LTDA no ano de 2023", complementa a PF, relatando uma série de outras alterações em empresas da família de Gutierrez.
Justificativa para o pedido de prisão
Segundo a Polícia Federal, Miguel Gutierrez e sua esposa, Maria Nazareth, viajaram para a Espanha em 29 de junho de 2023, "a fim de evitar qualquer responsabilização" do caso Americanas "nos âmbitos criminal, cível ou administrativo". Gutierrez tem nacionalidade brasileira e espanhola.
"Gutierrez já havia remarcado a passagem de volta para 20/06/2024, mas após ter tido ciência da existência de cautelares penais em face a sua pessoa em 06/05/2024, acabou por não retornar ao Brasil visando garantir a não aplicação da lei penal", diz a PF em inquérito.
Em sua justificativa para pedir a prisão preventiva do ex-CEO da Americanas, a Polícia Federal também informou em inquérito que Gutierrez permanece "ocultando patrimônio".
"O fato de Miguel Gutierrez ainda permanecer ocultando patrimônio, bem como provavelmente praticando outros atos de ocultação patrimonial, demonstram a contemporaneidade dos ilícitos cometidos, bem como a necessidade de decretação de sua prisão preventiva", justificou a PF.
O que diz a defesa de Miguel Gutierrez
A defesa de Miguel Gutierrez declarou que ele jamais participou ou teve conhecimento de qualquer fraude, e que tem colaborado com as autoridades.
Procurada, a assessoria da ex-diretora Anna Saicali não se posicionou.
A operação
A Polícia Federal (PF) deflagrou quinta-feira a Operação Disclosure, contra as fraudes contábeis nas Lojas Americanas que, segundo as investigações, chegaram a R$ 25 bilhões. Equipes tentaram prender Miguel Gutierrez e Anna Christina Ramos Saicali.
Agentes da PF também cumpriram 15 mandados de busca e apreensão contra outros ex-executivos do grupo. A 10ª Vara Federal Criminal ainda determinou o bloqueio de R$ 500 milhões em bens dos envolvidos.
Miguel e Anna Christina estão no exterior. Seus nomes estão incluídos na Difusão Vermelha da Interpol, a lista dos mais procurados do mundo.
Miguel Gutierres e Anna Christina Ramos Saicali, ex-diretores da Americanas
Reprodução e Vinicius Loures / Câmara dos Deputados
Americanas se diz vítima
A Americanas divulgou a seguinte nota:
“A Americanas reitera sua confiança nas autoridades que investigam o caso e reforça que foi vítima de uma fraude de resultados pela sua antiga diretoria, que manipulou dolosamente os controles internos existentes. A Americanas acredita na Justiça e aguarda a conclusão das investigações para responsabilizar judicialmente todos os envolvidos.”
PF faz operação contra ex-executivos das Lojas Americanas suspeitos de adulterar resultados financeiros
Como era a fraude
De acordo com a PF, a fraude maquiou os resultados financeiros do conglomerado a fim de demonstrar um falso aumento de caixa e consequentemente valorizar artificialmente as ações das Americanas na bolsa.
Com esses números manipulados, segundo a PF, os executivos recebiam bônus milionários por desempenho e obtiam lucros ao vender as ações infladas no mercado financeiro.
A maquiagem foi detectada em pelo menos 2 operações:
Risco sacado: antecipação do pagamento a fornecedores por meio de empréstimo junto a bancos;
Verba de propaganda cooperada (VPC): incentivos comerciais que geralmente são utilizados no setor, mas no presente caso eram contabilizadas VPCs que nunca existiram.
A operação é fruto de investigação iniciada em janeiro de 2023, após a empresa ter comunicado a existência de “inúmeras inconsistências contábeis” e um rombo patrimonial estimado, inicialmente, em R$ 20 bilhões. Mais tarde, a Americanas revelou que a dívida chegava a R$ 43 bilhões.
Foram identificados vários crimes, como manipulação de mercado, uso de informação privilegiada (ou insider trading), associação criminosa e lavagem de dinheiro. Caso sejam condenados, os alvos poderão pegar até 26 anos de prisão.
A força-tarefa contou com procuradores do Ministério Público Federal (MPF) e representantes da Comissão de Valores Mobiliários (CVM). A atual administração do Grupo Americanas também contribuiu com o compartilhamento de informações da empresa.
Disclosure, expressão utilizada pela Polícia Federal para designar a operação, é um termo do mercado de capitais referente ao fornecimento de informações para todos os interessados na situação de uma companhia e tem relação com a necessidade de transparência das empresas de capital aberto.
G1 Explica: o rombo nas contas das Lojas Americanas
CPI não indiciou ninguém
A fraude nas Americanas foi tema de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) na Câmara dos Deputados instalada em maio de 2023. O relatório final, do deputado Carlos Chiodini (MDB-SC), foi aprovado em setembro.
No parecer, Chiodini afirmou que “o conjunto probatório, de fato, converge para o possível envolvimento de pessoas que integravam o corpo diretivo da companhia (ex-diretores e ex-executivos)”. Mas acrescentou não poder indiciar ninguém.
“Contudo, os elementos até então carreados não se mostraram suficientes para a formação de um juízo de valor seguro o bastante para atribuir a autoria e para fundamentar eventual indiciamento.”
A trajetória do grupo
De lojinha de rua a império varejista: veja histórico da Americanas no país
A companhia surgiu basicamente como uma loja de R$ 1,99 no Rio de Janeiro, em 1929. Um grupo de estadunidenses recém-chegados ao Brasil buscava um público de renda estável e usava o slogan "nada além de 2 mil réis". Assim, nasceram as Lojas Americanas.
O negócio ganhou força principalmente a partir da década de 80, quando a 3G Capital Partners — comandada pelos sócios Jorge Paulo Lemann, Marcel Herrmann Telles e Carlos Alberto Sicupira— adquiriu a companhia.
Com a missão de reverter o prejuízo da rede, o trio fez uma revisão do plano de investimentos e reestruturou a operação da Lojas Americanas, conseguindo torná-la lucrativa pouco tempo depois.
De olho nas tendências do varejo, o próximo passo seria adaptar o negócio para o mundo online. Assim, a companhia “entrou na internet” e foi criada a Americanas.com — primeiro de maneira experimental em 1999 e, depois, com o lançamento nacional do site no início dos anos 2000.
A crescente demanda dos consumidores pelo mercado online deu fôlego para a companhia, que fez uma série de aquisições nos anos seguintes. Em 2005, por exemplo, comprou o Shoptime e a Ingresso.com e, um ano depois, o site Submarino.
Em 2006, a fusão da Americanas.com e do Submarino resultou na criação da B2W e, com a incorporação do Shoptime em 2007, a companhia se tornou uma das maiores empresas de comércio eletrônico da América Latina.
O "céu de brigadeiro", no entanto, não durou muito. Em 2011, com o aumento da concorrência no varejo online, a empresa viu seu resultado enfraquecer e enfrentou uma série de dificuldades operacionais, como o atraso de entregas.
Na época, a companhia chegou até a ser multada em R$ 860 mil pela Justiça do Rio de Janeiro por não respeitar uma liminar que suspendia suas vendas pela internet até que todas as entregas atrasadas fossem resolvidas — eram mais de 25 mil reclamações.
Ainda naquele ano, a B2W chegou a anunciar um aumento de R$ 1 bilhão de seu capital privado, por meio da emissão de mais de 46 milhões de ações ordinárias.
O objetivo era acelerar o crescimento da empresa e, segundo comunicado apresentado na época, os recursos permitiram um “aumento significativo dos investimentos destinados à inovação tecnológica e ao desenvolvimento de logística e operações”. Mesmo assim, a empresa reportou um prejuízo líquido de R$ 83,2 milhões em 2011.
Nos anos seguintes, conseguiu reverter o prejuízo e manter os resultados anuais no azul. Uma série de novas aquisições também veio em seguida, bem como novos aumentos de capital.
O próximo grande passo da companhia veio em 2021, quando a B2W anunciou a combinação de suas operações com a Lojas Americanas, resultando na criação da Americanas S.A.
Com a fusão, o trio de sócios da 3G decidiu abrir mão do controle societário da empresa após 40 anos, sem cobrar um prêmio por isso. Eles se tornaram, então, “acionistas de referência”, sem deter mais do que 50% do capital votante — estrutura mantida até o momento.
Em 2022, um ranking feito pelo Instituto Brasileiro de Executivos de Varejo & Mercado de Consumo (Ibevar) em parceria com a Fundação Instituto de Administração (FIA), nomeou a Americanas como a 5ª maior varejista brasileira em faturamento, atrás de Carrefour, Assaí, Magazine Luiza e Via Varejo.
O escândalo
No dia 11 de janeiro de 2023, a Americanas informou que havia identificado “inconsistências em lançamentos contábeis” nos balanços corporativos, em um valor que chegaria a R$ 20 bilhões.
O então presidente da Americanas, Sergio Rial, decidiu deixar o comando da companhia. O escândalo iniciou um processo de derretimento de uma das maiores varejistas do Brasil.
Como consequência da revelação, as principais instituições financeiras colocaram as ações da Americanas sob revisão, e a B3, bolsa de valores de São Paulo, colocou os papéis ordinários (com direito a voto) da empresa em leilão.
Em poucos dias, a situação da Americanas degringolou. Depois de um derretimento das ações na bolsa ao longo da semana e o início de disputas judiciais com credores em busca de pagamentos —, a empresa comunicou que mantinha apenas R$ 800 milhões em caixa, o que tornaria a operação insustentável.
Sem solução para a pressão dos credores, a Americanas foi obrigada a entrar com um pedido de recuperação judicial. As "inconsistências contábeis" haviam levado as dívidas da empresa para a casa dos R$ 43 bilhões, entre aproximadamente 16,3 mil credores.
O plano de recuperação foi aprovado em dezembro, com o apoio de mais de 90% dos votantes.