Presidente do Banco Central diz não ver motivos para intervir e tentar conter alta do dólar

Lula sobe tom e critica quem investe prevendo alta do dólar: ‘Quem estiver apostando em derivativo vai perder dinheiro’
Dólar atingiu R$ 5,51 no fechamento desta quarta-feira. O entendimento de economistas é de que o dólar alto tende a pressionar a inflação no Brasil: produtos importados ficam mais caros, e isso normalmente é repassado aos consumidores. Presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.
Reuters/Brendan McDermid
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou nesta quinta-feira (27) que não vê motivos, neste momento, para que a autoridade monetária atue para tentar conter a alta do dólar, e evitar o chamado "contágio inflacionário" que a disparada da moeda norte-americana pode causar.
Nesta quarta-feira (26), o dólar fechou em alta, cotado a R$ 5,51, na esteira de dados sobre a inflação brasileira e de novas declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva — que voltou a criticar a decisão de juros do BC e relativizou a necessidade de cortar gastos. Na parcial do ano, a alta foi 13,73%. Nesta quinta-feira, a moeda opera em alta, cotada a R$ 5,53 às 12h20. Veja mais cotações
O entendimento de economistas é de que o dólar alto tende a pressionar a inflação no Brasil pois, os produtos importados ficam mais caros, e isso normalmente é repassado aos consumidores.
Campos Neto explicou que o Banco Central acredita no princípio da separação entre a definição da taxa de juros, que busca conter a inflação, e as chamadas "medidas macroprudenciais", ou seja, voltadas ao bom funcionamento dos mercados — que é o caso de eventuais atuações cambiais.
"O câmbio é flutuante [a cotação varia de acordo com a demanda e a oferta pela moeda] e intervenção tem de ser por conta de disfuncionalidade pontual [como a ausência de moeda, em um momento em que as instituições a procuram]. Não fazemos intervenção visando algum tipo de nível [da taxa de câmbio]", afirmou o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.
Entenda o que faz o preço do dólar subir ou cair
De acordo com ele, a alta do dólar nas últimas semanas está em linha com outros indicadores da economia brasileira, como a curva de juros no mercado futuro, que apontaram deterioração por conta da percepção do mercado financeiro de que houve uma piora do chamado "prêmio de risco". E que, fazer uma intervenção pontual no dólar, por causa disso, teria "pouca efetividade".
"O Banco Central acha que o câmbio flutuante é um fator que absorve choques, e ele se presta a essa funcionalidade. So vamos fazer intervenção se entendermos que há disfuncionalidade [no mercado de câmbio]", acrescentou o presidente do BC.
Valdo Cruz: Dólar foi contaminado por críticas de Lula ao Copom
Formas de intervir no câmbio
Caso queira, o Banco Central tem diferentes instrumentos para intervir no câmbio e tentar conter a alta do dólar. São eles: contratos de "swaps cambiais", leilões de linha e a venda direta de dólares ao mercado.
Por meio dos contratos de “swap cambial”, o BC realiza uma operação que equivale à uma venda de moeda no mercado futuro (derivativos), o que reduz a pressão sobre a alta da moeda. Os swaps são contratos para troca de riscos: o BC oferece um contrato de venda de dólares, com data de encerramento definida, mas não entrega a moeda norte-americana. No vencimento desses contratos, o investidor se compromete a pagar uma taxa de juros sobre o valor deles e recebe do BC a variação do dólar no mesmo período.
A vendas diretas de dólar são feitas no mercado à vista – ou seja, é dinheiro entrando no mercado. Os recursos saem das reservas internacionais brasileiras. O Banco Central reluta em utilizar este instrumento para evitar uma queda das reservas cambiais – que são consideradas importantes para evitar uma desconfiança maior.
Os leilões de linha também são feitos por meio da venda de moeda norte-americana no mercado à vista, com recursos das reservas internacionais brasileiras. Nesse caso, entretanto, os dólares têm de ser devolvidos ao Banco Central nos meses seguintes. Durante esse período, ficam no mercado. Como retornam às reservas cambiais, o BC considera que essas operações não impactam as reservas cambiais.
Dólar dispara em cenário de descontrole de gastos

Lula sanciona taxação de compras internacionais de até US$ 50 e incentivo a veículos sustentáveis

Medidas estavam no mesmo projeto, aprovado pelo Congresso em acordo com a equipe econômica. Lei cria taxação de 20% sobre essas compras; Lula chamou mudança de 'irracional'. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou nesta quinta-feira (27) a lei que estabelece a cobrança do imposto de importação para compras internacionais de até 50 dólares.
Pela regra anterior, essas compras estavam sujeitas apenas à incidência do ICMS, um imposto estadual. O novo texto inclui no preço, antes do ICMS, um imposto de importação de 20% sobre o valor da compra.
Lula sancionou o texto em uma reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, o Conselhão, pela manhã. Até as 12h40, o governo ainda não sabia dizer se havia vetos na proposta.
A introdução dessa cobrança foi negociada entre o Congresso (que não queria aumentar a carga tributária) e a área econômica do governo (que tenta elevar a arrecadação).
Mesmo com esse acordo, nas últimas semanas, Lula vinha fazendo uma série de críticas à medida. Nesta quarta (26), véspera da sanção, o presidente classificou a cobrança como "irracional".
"Nós temos um setor da sociedade brasileira que pode viajar uma vez por mês pro exterior, e pode comprar até 2 mil dólares sem pagar imposto. Pode chegar no free shop e comprar mil, e pode comprar mil no país, e não paga imposto. E é maravilhoso, fiz isso pra ajudar a classe média, a classe média alta", disse Lula, em entrevista ao Uol.
"Agora, quando chega a minha filha, a minha esposa, que vai comprar 50 dólares, eu vou taxar 50 dólares? Não é irracional? Não é uma coisa contraditória?", emendou.
Entenda qual será o novo valor das 'blusinhas?
Veículos sustentáveis
A taxação das compras internacionais foi incluída em um projeto, também do governo, que tratava de outro tema: o incentivo à produção de veículos sustentáveis.
O projeto, agora convertido em lei, cria o Programa Mobilidade Verde e Inovação (Mover), que busca reduzir as taxas de emissão de carbono da indústria de automóveis até 2030. É uma das pautas prioritárias do Ministério da Indústria e Comércio, comandado pelo vice-presidente Geraldo Alckmin.
Em linhas gerais, o texto prevê benefícios fiscais para empresas que investirem em sustentabilidade e também estabelece novas obrigações para a venda de veículos novos no país.
Empresas que investirem em pesquisa, desenvolvimento e produção de tecnologias sustentáveis para a indústria automotiva poderão receber créditos financeiros.
O governo federal poderá estabelecer obrigações ambientais para a venda de carros, tratores e ônibus novos no país.
A eficiência energética e a reciclabilidade do veículo serão alguns dos critérios levados em conta.
O texto também cria um Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) “verde", que será menor para veículos menos poluentes.
O projeto foi apresentado pelo governo do presidente Lula em dezembro passado, junto de uma medida provisória, com o mesmo teor, que perderá a validade no fim deste mês.

Campos Neto não comenta críticas de Lula e diz que nunca conversou com Tarcísio sobre assumir ministério

Presidente do Banco Central participou de coletiva de imprensa sobre política monetária, em São Paulo. Na semana passada, após o Copom interromper ciclo de corte na taxa de juros, Lula subiu tom das críticas ao comportamento do BC e de Campos Neto. O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, não quis comentar, nesta quinta-feira (27), as críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) a ele e ao Banco Central.
Campos Neto também negou que tenha sido convidado pelo governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), ao cargo de ministro de Estado caso seja eleito presidente da República — informação que circulou na imprensa nas últimas semanas.
O presidente do BC participou de uma coletiva de imprensa sobre política monetária, no Banco Central, em São Paulo.
Lula faz novas críticas a Campos Neto: 'Adversário'
Antes da decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) da semana passada, de interromper o ciclo de corte de juros — que vinha desde agosto de 2023 — o presidente Lula subiu o tom das críticas ao comportamento do BC.
Segundo Lula, o patamar da taxa Selic, em 10,50% ao ano, elevada para padrões internacionais, é a única "coisa desajustada" que existe no país neste momento.
Em entrevista à Rádio CBN, Lula voltou a criticar Campos Neto. Para o petista, o presidente do BC tem "lado político" e "trabalha para prejudicar o país" (veja vídeo abaixo).
"Acho que o presidente da República tem todo direito de se manifestar. Não cabe a mim, presidente do BC, entrar em debates políticos. Mostramos e vamos continuar mostrando que a nossa decisão é técnica. Tivemos agora uma reunião do Copom com espirito de equipe para mostra que o movimento é técnico. Vou sair, e as pessoas vão fazer uma análise, depois que eu sair, que eu fui 100% técnico. Não cabe a mim ficar rebatendo ou discutindo temas políticos. Nossa missão é entregar inflação baixa", afirmou o presidente do BC.
A reunião do presidente do BC com o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, em 10 de junho, também foi alvo de críticas do Partido dos Trabalhadores.
A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, afirmou que Campos Neto usa seu mandato no Banco Central "para fazer política, igualzinho ao Sergio Moro, que usava a toga de juiz para beneficiar seu candidato, Jair Bolsonaro". "O [candidato] de Campos Neto é Tarcísio de Freitas. Anotem esses nomes, são inimigos do povo e do Brasil”, disse ela.
Campos Neto afirmou que já participou de reuniões com outras autoridades políticas, até com visões partidárias diferentes, e que comparece a esse tipo de evento representando o Banco Central.
"Acho que é importante comparecer, existe histórico de não só presidentes do BC brasileiro, mas de outros BCs, participarem", acrescentou.
O presidente do Banco Central também negou a informação de que teria sido sondado pelo governador de São Paulo para um cargo em um futuro ministério, caso seja eleito presidente da República.
Ele voltou a dizer que não tem intenção em se candidatar a cargos políticos.
"Nunca tive nenhuma conversa com o Tarcísio para ser ministro de nada. Nunca falei isso, nem o Tarcísio. Sou muito amigo do Tarcísio desde o governo passado, sempre conversamos muito sobre economia, desde quando ele era ministro da Infraestrutura. Continuamos conversando sobre economia, como converso com parlamentares, pessoas do governo e do mercado. Nas conversas que tenho com ele, o pouco que é conversado sobre política, minha percepção é que ele não é candidato agora", disse Campos Neto.
Lula critica a atuação do BC e do presidente Roberto Campos Neto; Julia Duailib comenta
Questionado se aceitaria ser ministro em uma gestão de Tarcísio na Presidência, o presidente do BC declarou que terá 61 anos em 2030, e que "não faz o menor sentido" tentar antecipar o que fará daqui a seis anos.
Nesse caso, Campos Neto indicou que Tarcísio não concorreria à Presidência em 2026.

"Tenho dito que vou ao mundo privado, provavelmente fazer alguma coisa que misture tecnologia com finanças. O resto acho que é especulação para contaminar um trabalho técnico que não tem viés politico. Nunca tratei com o Tarcísio sobre nada de ser ministro de nada", concluiu.

Mover: veja o que muda com o novo programa do governo

Lula sobe tom e critica quem investe prevendo alta do dólar: ‘Quem estiver apostando em derivativo vai perder dinheiro’
Programa deve estimular a produção de veículos híbridos flex para reduzir a emissão de gases do efeito estufa. Linhas da VW já começam adequação para produção de híbridos flex
Divulgação/Volkswagen
O programa Mover (Mobilidade Verde e Inovação), que foi aprovado pela Câmara dos Deputados no dia 11 de junho, foi sancionado nesta quinta-feira (27) pelo Presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva e passa a ser o mais novo marco regulatório de emissão de carbono no país.
Entre os principais pontos abordados pelo programa estão a previsão de incentivos para veículos sustentáveis e para a realização de pesquisas e para o desenvolvimento de novas tecnologias e produtos. (Entenda sobre o programa mais abaixo)
Veja nesta reportagem o que deve mudar na produção e desenvolvimento de novos carros no país a partir deste ano, por meio dos seguintes pontos:
O que é o Mover?
Substituindo o Rota 2030
Como deve ficar o imposto para veículos eletrificados?
Mover na prática: o que veremos nas ruas?
Infraestrutura deficiente
Fugindo do prejuízo
Conexão Globonews entrevista relator do Programa 'Mover' no Senado
O que é o Mover?
O programa Mover, elaborado pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, cria uma política de diretrizes sustentáveis para a produção de veículos no Brasil. Ao todo, são R$ 19 bilhões disponibilizados em créditos financeiros para empresas habilitadas no programa.
Desse montante, a distribuição deve ser de:
R$ 3,5 bilhões em 2024;
R$ 3,8 bilhões em 2025;
R$ 3,9 bilhões em 2026;
R$ 4,0 bilhões em 2027; e
R$ 4,1 bilhões em 2028.
Caso essa previsão se concretize, o programa deve alcançar mais do que os R$ 19 bilhões previstos.
Para além dos R$ 19 bilhões previstos pelo programa, a tendência é que o investimento feito pelas próprias montadoras seja ainda maior. De acordo com a Associação Nacional das Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), a quantia será de aproximadamente R$ 60 bilhões em pesquisa e desenvolvimento (P&D) nos próximos cinco anos.
E ainda há fabricantes que não anunciaram seus investimentos, o que pode modificar essa previsão. Para que esse crédito seja liberado — e ele vem na forma de abatimento de impostos por parte da Receita Federal — as montadoras precisam destinar um mínimo de 0,3% a 0,6% da receita operacional bruta para P&D.
Na prática, isso significa que a cada R$ 1,00 investido, a fabricante receberá de R$ 0,50 a R$ 3,20 em créditos para abater encargos.
Essa habilitação está voltada, entre outras exigências, para:
empresas que tenham projetos de novos produtos ou modelos;
projetos de relocalização;
instalação de unidade de reciclagem;
estímulos para a matriz energética brasileira;
valorização dos biocombustíveis (com prioridade para o etanol para veículos leves e gás natural para pesados);
novas tecnologias de propulsão e eletrificação (desenvolvimento de baterias), entre outros.
Ao todo, são mais de 55 habilitações.
A descarbonização se dará em duas frentes: a primeira na forma de produzir, aumentando a competitividade dos veículos nacionais perante o mercado global. Já o outro ponto de redução de carbono está no desenvolvimento e uso de combustíveis menos poluentes, como etanol, biodiesel e, futuramente, combustíveis sintéticos.
Além disso, a eletrificação dos automóveis é outro capítulo importante para a redução de emissões de gases do efeito estufa — o que faz com que fábricas que já estejam instaladas no Brasil, como as da BYD e GWM, ganhem ainda mais vantagens frente àquelas que estão desembarcando no Brasil apenas com carros importados.
O Mover ainda deve impor índices de reciclagem na fabricação de veículos e cobrar menos impostos das fabricantes e carros que poluírem menos, o chamado “IPI Verde” (IPI é o Imposto sobre Produtos Industrializados).
Substituindo o Rota 2030
O Mover é o terceiro programa que direciona a indústria automotiva para um desenvolvimento mais sustentável e que, ao longo dos anos, trará mais competitividade para os produtos nacionais.
Segundo o consultor automotivo Milad Kalume Neto, o Mover veio "corrigir" alguns temas não previstos pelo marco regulatório anterior.
"Sem possibilidade de grandes investimentos, a indústria nacional automotiva estava condenada, no limite, a morrer", diz.
"A nova regulação possibilita não só a atualização em relação a novas tecnologias de eletrificação já observadas em outros mercados — o que permitiu a chegada de no mínimo duas fábricas chinesas [BYD e GWM] —, quanto permite ao Brasil o desenvolvimento de novas tecnologias, adequadas a nossa matriz energética, capazes de direcionar o Brasil à liderança da mobilidade em novas soluções”, acrescenta o consultor automotivo.
O primeiro programa similar ao Mover foi implementado pelo Governo Federal em 2012 com o Inovar Auto (com vigência de 2013 a 2017). Este, por sua vez, exigia que carros produzidos a partir de 1º de janeiro de 2013 saíssem de fábrica com airbag dianteiro e ABS, por exemplo.
Veículos como Fiat Uno e VW Kombi tiveram suas produções interrompidas justamente porque seus projetos não comportavam esse tipo de tecnologia.

À época, o Inovar Auto aumentou o IPI em 30 pontos percentuais para todos os veículos. A Kia, que liderava o ranking das importadoras, teve que aumentar o preço do hatch Picanto de R$ 38.150 para R$ 49.595, o que praticamente inviabilizou a comercialização do seu compacto em solo nacional.
Em contrapartida, o Inovar Auto também concedeu descontos para as montadoras que se habilitassem ao programa, como as que investissem em P&D, em etapas fabris no país e se comprometessem com metas de eficiência energética.
“O Inovar Auto evoluiu alguns parâmetros de eficiência e de segurança dos veículos, mas deixou algumas arestas”, afirma Kalume Neto.
O mesmo aconteceu em 2018 com o Rota 2030 que, dando um passo adiante, começou a exigir controle de tração e estabilidade em alguns automóveis produzidos a partir daquele ano. Outros equipamentos exigidos foram: luzes diurnas de condução, alerta de uso do cinto de segurança e alerta de frenagem de emergência.
Em termos práticos, o Mover amplia as obrigações do Rota 2030 (2018-2024) e passa a ter novas formas de medições dos índices de emissões. Hoje a medição é feita apenas do “tanque à roda”, ou seja, mede-se a quantidade de gases nocivos emitidos pelo sistema de escape do carro.
Segundo Cassio Pagliarini, diretor de estratégia da Bright Consulting, o Mover é uma continuação do que vinha sendo implementado no Rota 2030 e que vai estabelecer novos critérios para a indústria automotiva.
"O Mover sucede e amplia os programas anteriores", explica o executivo.
De 2025 até 2027, o programa vai modificar essa metodologia e considerar todo o carbono que é produzido do “poço à roda”, o que significa que a medição será realizada desde a extração do combustível (gasolina, etanol, diesel, hidrogênio ou eletricidade) até a utilização dele no propulsor do automóvel.
A partir de 2027 haverá outra transição, devendo considerar não só os gases que são emitidos pelo motor, mas desde o início da fabricação — incluindo os métodos de produção de fornecedores — até a utilização do carro em si, seja ele monocombustível, flex, híbrido ou 100% elétrico.
Segundo Kalume Neto, o motivo de o programa passar a analisar toda a cadeia é pelas eventuais compensação de carbono que aconteçam no processo.
"Quando se troca um combustível derivado de petróleo por um à base de cana de açúcar, durante o processo de crescimento planta, há uma compensação desse carbono emitido pelo carro através da troca de carbono que é feita pelo processo da fotossíntese, que sequestra gás carbônico do meio ambiente, fazendo do etanol um combustível muito menos agressivo", explica o consultor.
"Desta forma, a utilização do etanol no veículo acaba sendo ecologicamente inteligente, sobretudo porque o ciclo completo do etanol está muito próximo da emissão zero de carbono”, acrescenta Kalume Neto.
Estão incluídos no Mover diversos modais de transporte, como bicicletas e motos, mas ficam de foram caminhões e ônibus.
LEIA MAIS:
Chuvas no RS: é possível recuperar carros inundados?
Carros elétricos, concorrência chinesa e lançamento: presidente da Volvo Car Brasil fala ao g1
Cybertruck: veja comparação entre picape elétrica de Elon Musk e veículos à venda no Brasil
Como deve ficar o imposto para veículos eletrificados?
As alíquotas de impostos para fabricantes que estiverem em solo brasileiro será diferente da praticada para as montadoras que optarem apenas pela importação de seus veículos. Essas últimas, por sua vez, terão uma taxação extra de 35% sobre o valor do veículo, mas não haverá teto para a quantidade de unidades importadas.
A taxação para importados será gradual. Confira abaixo:

Segundo Pagliarini, em 2030 teremos aproximadamente 10% de veículos de origem chinesa no mercado brasileiro, considerando tanto os importados quanto os fabricados em solo brasileiro.
Mover na prática: o que veremos nas ruas?
Os incentivos voltados para desenvolvimento e pesquisas que busquem a eletrificação de veículos e a utilização de biocombustíveis devem trazer mais carros com novas tecnologias de propulsão para as ruas brasileiras nos próximos anos.
De acordo com estudo da Bright Consulting, o Mover está numa fase inicial e ainda não há nenhuma portaria ou decretos que estabeleçam novos preços para os combustíveis.
Esse passo será dado a partir de agora, com a sanção presidencial, que faz com o que o Mover ganhe força de lei. Contudo, segundo o consultor, podemos esperar mais estímulos para o uso do etanol neste primeiro momento do marco regulatório.
Para Pagliarini, o país ainda precisa passar por um período de transição, mas o etanol é uma "solução relevante e imediata para a descarbonização".
"Os veículos híbridos operando a etanol são melhores do que os 100% elétricos que operam na Europa. Porque a matriz energética de produção de energia elétrica deles é mais poluidora do que o processo para obtenção do etanol aqui no Brasil", explica.
"Aqui, nós temos a sorte de ter mais possibilidades de desenvolvimento com tecnologia brasileira e sem precisar fazer grandes investimentos", completa Pagliarini.
A estimativa do mercado é que o número de carros elétricos, híbridos convencionais, híbridos plug-in e híbridos leves tenham um aumento significativo.
O veículo movido a hidrogênio deve ser o último passo nessa escala, pois o transporte e armazenamento desse elemento precisa de uma infraestrutura que suporte altíssima pressão e que ainda não é facilmente encontrada nos postos de combustíveis tradicionais.
"O grande problema dos carros à bateria hoje é o preço, e dos movidos a hidrogênio é a distribuição e o armazenamento", fala o diretor da Bright Consulting.
Uma projeção feita por Kalume Neto indica que, até 2030, o Brasil terá 50% dos carros produzidos com motor convencional a combustão, 25% de híbridos leves e outros 25% englobando as outras tecnologias.
Segundo a Bright Consulting, o montante de veículos leves somente a combustão abocanha uma fatia de 88% de tudo que é fabricado no Brasil atualmente. Em 2030, o número de carros com a propulsão tradicional deve cair para 39,17%, e o de híbridos leves subirá para 31,58%.
Confira no gráfico abaixo as projeções em cenários otimista e pessimista:

Com essa análise, dá para afirmar que a atual participação de 7% a 8% dos eletrificados nos emplacamentos deve subir para patamares entre 16,40% a 25,05% em 2030.
Para Kalume Neto, no entanto, ainda é necessário definir qual é a categoria correta para os híbridos leves (eletrificados ou combustão), evitando uma eventual manipulação dos resultados do Mover nos próximos balanços. Isso porque a propulsão dos híbridos leves precisa de ajuda extra de um motor convencional.
“O híbrido leve, apesar de não garantir as maiores reduções de emissões, será a tecnologia mais adotada no mercado brasileiro neste primeiro momento pelo fato de ser a tecnologia mais barata e de fácil implementação”, diz o especialista.
Condomínios discutem carregador de carro elétrico nas garagens
Infraestrutura deficiente
Um veículo híbrido leve carrega uma tecnologia de bateria de até 48 volts, ou seja, são quatro baterias de 12 volts, ligadas em série, que ajudam a tirar o carro da inércia total.
Essa força elétrica, considerada pequena para especialistas, é utilizada em saídas de semáforo, mas não consegue tracionar o carro o suficiente para rodar no modo 100% elétrico.
O mercado automotivo sabe que a infraestrutura de carregadores elétricos ainda não é alta o suficiente para aumentar as vendas desse tipo de automóvel repentinamente.
De tal maneira que a prioridade será investir em híbridos leves, que não dependem de tomada, para não sobrecarregar a incipiente estrutura de recarga que temos no país, diz Kalume Neto.
“Estamos muito aquém de qualquer outra nação europeia”, afirma o especialista, reiterando que, ao final de 2023, o Brasil tinha 3.800 carregadores elétricos.
"Dividindo esse número pela área do país, esse resultado nos coloca numa posição 15,5 vezes pior do que o país europeu com menos carregadores. Estamos com pelo menos uma década e meia de atraso quando nos comparamos a esses países”.
Infraestrutura de recarga ainda é ponto de atenção para quem deseja comprar um carro elétrico
Divulgação
Fugindo do prejuízo
O intuito do Mover não é apenas trazer novas empresas e tecnologias para solo brasileiro. De acordo com Kalume Neto, o Brasil, assim como o restante do globo, enfrentou crises no setor automotivo por conta da pandemia do coronavírus e pela recessão econômica que veio em seguida.
Segundo o especialista, a projeção feita em 2014 para o mercado automotivo de 2024 era que estaríamos, no ano atual, com uma produção anual de 5 milhões de unidades.
O país, no entanto, ainda produz menos da metade dessa previsão, com 2,3 milhões de veículos em 2023. Em termos de venda, o país já alcançou 2,4 milhões de emplacamentos.
"A maioria dos analistas da indústria falava que esse número seria possível, inclusive eu, mas erramos. Capacidade produtiva nós temos: somando GWM e BYD, a nossa produção poderia ser de 4,9 milhões”, diz Kalume Neto.
O desafio que a indústria brasileira enfrenta é uma particularidade do nosso mercado: o custo do carro exportado e o que ele oferece em relação aos concorrentes de outros mercados.
Ainda segundo o consultor, primeiro é preciso pensar em suprir as demandas do mercado brasileiro.
“O etanol não é um vilão, é um aliado que vai nos auxiliar nessa busca por tecnologias limpas com muito mais facilidade do que outras nações, por exemplo. Só que, por ora, ele serve apenas para o Brasil", diz Kalume Neto.
"Assim, quando se fala em exportação para nossos vizinhos, o ideal seria adequar as nossas linhas de produção para enviar produtos baratos que possam competir no cenário global”, finaliza.

Lula sobe tom e critica quem investe prevendo alta do dólar: ‘Quem estiver apostando em derivativo vai perder dinheiro’

Lula sobe tom e critica quem investe prevendo alta do dólar: ‘Quem estiver apostando em derivativo vai perder dinheiro’
Derivativos, ou 'mercado futuro', são negociados com base em expectativas para a economia – e podem ser usados para especulação. Lula vem criticando previsões negativas do mercado. O presidente Lula durante reunião do conselho de governo no Palácio do Planalto
Reprodução/Canal Gov
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva subiu o tom nas críticas, nesta quinta-feira (27), às perspectivas de investidores e do mercado financeiro sobre uma aposta no enfraquecimento do real e em uma piora da economia brasileira – que se reflete em preços de ativos do mercado financeiro (como dolar, bolsa de valores e juros futuros).
"Eu queria dizer para você, Haddad, pode ter certeza: quem estiver apostando em derivativo vai perder dinheiro nesse país. Vai perder dinheiro nesse país. As pessoas não podem ficar apostando no fortalecimento do dólar no enfraquecimento do real", declarou.
"Eu já vi isso em 2008. Quem não lembra a quantidade de empresa que quebrou? Quem não lembra o que aconteceu com a Sadia, a Aracruz? As pessoas achavam que era importante ganhar dinheiro apostando no fortalecimento do dólar e quebraram a cara. E vão quebrar outra vez", seguiu Lula.
Entenda o que faz o preço do dólar subir ou cair
Os "derivativos" citados por Lula são chamados também de "mercado futuro". Isso, porque são investimentos que se baseiam na estimativa de como estará um indicador (o dólar ou o preço do petróleo, por exemplo) no médio ou no longo prazo.
Esse tipo de operação pode funcionar como uma proteção ou seguro para o investidor – um "hedge", no jargão econômico. Se acham que a economia vai piorar, compradores e vendedores preferem negociar antes, em valores pré-fixados, para se proteger desse cenário adverso.
Outras vezes, porém, são apenas apostas especulativas para tentar obter lucro.
O problema é que, em um cenário de expectativas negativas, o mercado se agita para antecipar as negociações. E essa turbulência pode gerar efeitos como inflação, desvalorização de moeda ou antecipação de saques – o que piora os indicadores atuais e, também, as previsões futuras.
Na prática, há o risco de um ciclo vicioso que prejudica a economia do país.
Lula emendou a crítica aos investidores após comentar a escalada recente do dólar – motivada, segundo analistas, por uma série de fatores que incluem a dificuldade do governo em cortar gastos para melhorar as contas públicas.
O presidente classificou como "cretinos" quem atribuiu a alta do dólar a declarações dadas pelo petista em entrevistas.
"Quando eu terminei a entrevista, a manchete de alguns comentaristas era de que o dólar subiu pela entrevista do Lula. E os cretinos não perceberam que o dólar tinha subido 15 minutos antes de eu dar a entrevista. Quinze minutos antes", declarou.