Ex-CEO das Lojas Americanas é procurado pela PF em operação contra fraude de R$ 25 bilhões

Banco Central vê ‘impacto modesto’ das enchentes no RS no PIB e sobe para 2,3% previsão de crescimento em 2024
Agentes saíram para cumprir 2 mandados de prisão preventiva e 15 de busca e apreensão. Fachada da Lojas Americanas
Divulgação
A Polícia Federal (PF) iniciou nesta quinta-feira (27) a Operação Disclosure, contra as fraudes contábeis nas Lojas Americanas que, segundo as investigações, chegaram a R$ 25 bilhões. Equipes tentam prender o ex-CEO Miguel Gutierrez e Anna Christina Ramos Saicali, uma de suas diretoras. Eles já são considerados foragidos.
Agentes da PF também saíram para cumprir 15 mandados de busca e apreensão contra outros ex-executivos do grupo. A 10ª Vara Federal Criminal ainda determinou o bloqueio de R$ 500 milhões em bens dos envolvidos.
Miguel e Anna Christina estão no exterior. Seus nomes serão incluídos na Difusão Vermelha da Interpol, a lista dos mais procurados do mundo.
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Miguel Gutierres e Anna Christina Ramos Saicali, ex-diretores da Americanas
Reprodução e Vinicius Loures / Câmara dos Deputados
Americanas se diz vítima
A Americanas divulgou a seguinte nota:
“A Americanas reitera sua confiança nas autoridades que investigam o caso e reforça que foi vítima de uma fraude de resultados pela sua antiga diretoria, que manipulou dolosamente os controles internos existentes. A Americanas acredita na Justiça e aguarda a conclusão das investigações para responsabilizar judicialmente todos os envolvidos.”
PF faz operação contra ex-executivos das Lojas Americanas suspeitos de adulterar resultados financeiros
Como era a fraude
De acordo com a PF, a fraude maquiou os resultados financeiros do conglomerado a fim de demonstrar um falso aumento de caixa e consequentemente valorizar artificialmente as ações das Americanas na bolsa.
Com esses números manipulados, segundo a PF, os executivos recebiam bônus milionários por desempenho e obtiam lucros ao vender as ações infladas no mercado financeiro.
A maquiagem foi detectada em pelo menos 2 operações:
Risco sacado: antecipação do pagamento a fornecedores por meio de empréstimo junto a bancos;
Verba de propaganda cooperada (VPC): incentivos comerciais que geralmente são utilizados no setor, mas no presente caso eram contabilizadas VPCs que nunca existiram.
A operação é fruto de investigação iniciada em janeiro de 2023, após a empresa ter comunicado a existência de “inúmeras inconsistências contábeis” e um rombo patrimonial estimado, inicialmente, em R$ 20 bilhões. Mais tarde, a Americanas revelou que a dívida chegava a R$ 43 bilhões.
Foram identificados vários crimes, como manipulação de mercado, uso de informação privilegiada (ou insider trading), associação criminosa e lavagem de dinheiro. Caso sejam condenados, os alvos poderão pegar até 26 anos de prisão.
A força-tarefa contou com procuradores do Ministério Público Federal (MPF) e representantes da Comissão de Valores Mobiliários (CVM). A atual administração do Grupo Americanas também contribuiu com o compartilhamento de informações da empresa.
Disclosure, expressão utilizada pela Polícia Federal para designar a operação, é um termo do mercado de capitais referente ao fornecimento de informações para todos os interessados na situação de uma companhia e tem relação com a necessidade de transparência das empresas de capital aberto.
G1 Explica: o rombo nas contas das Lojas Americanas
CPI não indiciou ninguém
A fraude nas Americanas foi tema de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) na Câmara dos Deputados instalada em maio de 2023. O relatório final, do deputado Carlos Chiodini (MDB-SC), foi aprovado em setembro.
No parecer, Chiodini afirmou que “o conjunto probatório, de fato, converge para o possível envolvimento de pessoas que integravam o corpo diretivo da companhia (ex-diretores e ex-executivos)”. Mas acrescentou não poder indiciar ninguém.
“Contudo, os elementos até então carreados não se mostraram suficientes para a formação de um juízo de valor seguro o bastante para atribuir a autoria e para fundamentar eventual indiciamento.”
A trajetória do grupo
De lojinha de rua a império varejista: veja histórico da Americanas no país
A companhia surgiu basicamente como uma loja de R$ 1,99 no Rio de Janeiro, em 1929. Um grupo de estadunidenses recém-chegados ao Brasil buscava um público de renda estável e usava o slogan "nada além de 2 mil réis". Assim, nasceram as Lojas Americanas.
O negócio ganhou força principalmente a partir da década de 80, quando a 3G Capital Partners — comandada pelos sócios Jorge Paulo Lemann, Marcel Herrmann Telles e Carlos Alberto Sicupira— adquiriu a companhia.
Com a missão de reverter o prejuízo da rede, o trio fez uma revisão do plano de investimentos e reestruturou a operação da Lojas Americanas, conseguindo torná-la lucrativa pouco tempo depois.
De olho nas tendências do varejo, o próximo passo seria adaptar o negócio para o mundo online. Assim, a companhia “entrou na internet” e foi criada a Americanas.com — primeiro de maneira experimental em 1999 e, depois, com o lançamento nacional do site no início dos anos 2000.
A crescente demanda dos consumidores pelo mercado online deu fôlego para a companhia, que fez uma série de aquisições nos anos seguintes. Em 2005, por exemplo, comprou o Shoptime e a Ingresso.com e, um ano depois, o site Submarino.
Em 2006, a fusão da Americanas.com e do Submarino resultou na criação da B2W e, com a incorporação do Shoptime em 2007, a companhia se tornou uma das maiores empresas de comércio eletrônico da América Latina.
O "céu de brigadeiro", no entanto, não durou muito. Em 2011, com o aumento da concorrência no varejo online, a empresa viu seu resultado enfraquecer e enfrentou uma série de dificuldades operacionais, como o atraso de entregas.
Na época, a companhia chegou até a ser multada em R$ 860 mil pela Justiça do Rio de Janeiro por não respeitar uma liminar que suspendia suas vendas pela internet até que todas as entregas atrasadas fossem resolvidas — eram mais de 25 mil reclamações.
Ainda naquele ano, a B2W chegou a anunciar um aumento de R$ 1 bilhão de seu capital privado, por meio da emissão de mais de 46 milhões de ações ordinárias.
O objetivo era acelerar o crescimento da empresa e, segundo comunicado apresentado na época, os recursos permitiram um “aumento significativo dos investimentos destinados à inovação tecnológica e ao desenvolvimento de logística e operações”. Mesmo assim, a empresa reportou um prejuízo líquido de R$ 83,2 milhões em 2011.
Nos anos seguintes, conseguiu reverter o prejuízo e manter os resultados anuais no azul. Uma série de novas aquisições também veio em seguida, bem como novos aumentos de capital.
O próximo grande passo da companhia veio em 2021, quando a B2W anunciou a combinação de suas operações com a Lojas Americanas, resultando na criação da Americanas S.A.
Com a fusão, o trio de sócios da 3G decidiu abrir mão do controle societário da empresa após 40 anos, sem cobrar um prêmio por isso. Eles se tornaram, então, “acionistas de referência”, sem deter mais do que 50% do capital votante — estrutura mantida até o momento.
Em 2022, um ranking feito pelo Instituto Brasileiro de Executivos de Varejo & Mercado de Consumo (Ibevar) em parceria com a Fundação Instituto de Administração (FIA), nomeou a Americanas como a 5ª maior varejista brasileira em faturamento, atrás de Carrefour, Assaí, Magazine Luiza e Via Varejo.
O escândalo
No dia 11 de janeiro de 2023, a Americanas informou que havia identificado “inconsistências em lançamentos contábeis” nos balanços corporativos, em um valor que chegaria a R$ 20 bilhões.
O então presidente da Americanas, Sergio Rial, decidiu deixar o comando da companhia. O escândalo iniciou um processo de derretimento de uma das maiores varejistas do Brasil.
Como consequência da revelação, as principais instituições financeiras colocaram as ações da Americanas sob revisão, e a B3, bolsa de valores de São Paulo, colocou os papéis ordinários (com direito a voto) da empresa em leilão.
Em poucos dias, a situação da Americanas degringolou. Depois de um derretimento das ações na bolsa ao longo da semana e o início de disputas judiciais com credores em busca de pagamentos —, a empresa comunicou que mantinha apenas R$ 800 milhões em caixa, o que tornaria a operação insustentável.
Sem solução para a pressão dos credores, a Americanas foi obrigada a entrar com um pedido de recuperação judicial. As "inconsistências contábeis" haviam levado as dívidas da empresa para a casa dos R$ 43 bilhões, entre aproximadamente 16,3 mil credores.
O plano de recuperação foi aprovado em dezembro, com o apoio de mais de 90% dos votantes.

Dois delatores entregaram esquema da Americanas à PF

Eles compartilharam com os policiais e-mails e mensagens que serviram como meio de obtenção de provas. Polícia acionou autoridades estrangeiras para localizar dois investigados, considerados foragidos. Dois funcionários das Lojas Americanas fecharam delação e entregaram todo o esquema investigado na Operação Disclosure, deflagrada pela Polícia Federal (PF) nesta quinta-feira (27) — da qual 14 ex-executivos são alvo (leia mais abaixo).
As delações serviram de meio de obtenção de prova. Eles entregaram e-mails e mensagens. A PF, então, confirmou as informações a partir de diligências.
Entre os investigados estão Miguel Gutierres, que era CEO, e está na Espanha; e Anna Cristina Ramos Saicali, que era diretora, e está em Portugal.
A PF já está em contato com as autoridades dos dois países, pois ambos são considerados foragidos.
Ex-executivos do grupo Americanas são alvo de operação da PF
Esquema
Catorze ex-executivos das Lojas Americanas são alvo da operação que investiga fraudes contábeis de R$ 25 bilhões dentro da empresa. Os investigados são:
Foragidos
Anna Christina Ramos Saicali
Miguel Gomes Pereira Sarmiento Gutierrez, ex-CEO
Alvos de buscas
Anna Christina da Silva Sotero
Carlos Eduardo Rosalba Padilha
Fabien Pereira Picavet
Fábio da Silva Abrate
Jean Pierre Lessa e Santos Ferreira
João Guerra Duarte Neto
José Timotheo de Barros
Luiz Augusto Saraiva Henriques
Marcio Cruz Meirelles
Maria Christina Ferreira do Nascimento
Murilo dos Santos Correa
Raoni Lapagesse Franco Fabiano
De acordo com a PF, a fraude maquiou os resultados financeiros do conglomerado a fim de demonstrar um falso aumento de caixa e consequentemente valorizar artificialmente as ações das Americanas na bolsa.
Com esses números manipulados, segundo a PF, os executivos recebiam bônus milionários por desempenho e obtinham lucros ao vender as ações infladas no mercado financeiro.
A operação é fruto de investigação iniciada em janeiro de 2023, após a empresa ter comunicado a existência de “inúmeras inconsistências contábeis” e um rombo patrimonial estimado, inicialmente, em R$ 20 bilhões. Mais tarde, a Americanas revelou que a dívida chegava a R$ 43 bilhões.
Foram identificados vários crimes, como manipulação de mercado, uso de informação privilegiada (ou insider trading), associação criminosa e lavagem de dinheiro. Caso sejam condenados, os alvos poderão pegar até 26 anos de prisão.
A força-tarefa contou com procuradores do Ministério Público Federal (MPF) e representantes da Comissão de Valores Mobiliários (CVM). A atual administração do Grupo Americanas também contribuiu com o compartilhamento de informações da empresa.
Disclosure, expressão utilizada pela Polícia Federal para designar a operação, é um termo do mercado de capitais referente ao fornecimento de informações para todos os interessados na situação de uma companhia e tem relação com a necessidade de transparência das empresas de capital aberto.

Americanas: entenda a fraude contábil que levou à operação da PF e à recuperação judicial de R$ 50 bilhões

Banco Central vê ‘impacto modesto’ das enchentes no RS no PIB e sobe para 2,3% previsão de crescimento em 2024
PF cumpre 15 mandatos de busca e apreensão contra ex-executivos da companhia. Fachada das Lojas Americanas em Franca, no interior de SP.
IGOR DO VALE/ESTADÃO CONTEÚDO
Na manhã desta quinta-feira (27) uma operação da Polícia Federal (PF) deu início a um novo capítulo da história sobre a fraude contábil de mais de R$ 25 bilhões que resultou na recuperação judicial da Americanas – a maior vista no Brasil na atualidade, com uma dívida estimada em quase R$ 50,9 bilhões.
No Rio de Janeiro, agentes da PF cumprem 15 mandatos de busca e apreensão contra ex-excutivos da companhia, além de pedir a prisão preventiva e determinar a inclusão dos nomes de Miguel Gutierrez, ex-CEO da empresa, e Anna Christina Ramos Saicali, uma de suas diretoras, na lista de mais procurados do mundo da Interpol, já que os dois estão no exterior.
Segundo a investigação, todos esses executivos estavam envolvidos na fraude, que maquiou os resultados financeiros da Americanas para demonstrar um falso aumento de caixa que valorizava artificialmente as ações da companhia na bolsa de valores brasileira, a B3.
Em nota, a Americanas disse que "reitera sua confiança nas autoridades que investigam o caso e reforça que foi vítima de uma fraude de resultados pela sua antiga diretoria, que manipulou dolosamente os controles internos existentes. A Americanas acredita na Justiça e aguarda a conclusão das investigações para responsabilizar judicialmente todos os envolvidos".
O funcionamento da fraude
De acordo com a PF, a maquiagem dos números foi detectada, até agora, em operações de risco sacado e verba de propagando cooperada (VPC).
Risco sacado é uma operação muito comum entre companhia, principalmente do setor de varejo. O analista de investimentos Vitor Miziara explica que essa prática consiste em repassar dívidas com fornecedores para bancos, fundos ou outras instituições financeiras.
"Quando você tem uma dívida com um fornecedor, no risco sacado, você repassa essa dívida para uma instituição financeira, que vai pagar direto para o fornecedor, e então você fica devendo para a instituição para liberar créditos novos com o fornecedor. Aí a instituição alonga o prazo dessa dívida e você paga o valor em mais tempo", explica o analista.
No entanto, no caso da Americanas, as dívidas que eram repassadas por meio do risco sacado eram retiradas do balanço corporativo da empresa. Ou seja, as acusações são de que os executivos retiravam o valor das dívidas com fornecedores, como se elas já tivessem sido pagas, mas não sinalizavam que a dívida agora era com uma instituição financeira.
"Em vez de somar uma dívida aos valores devidos aos bancos na contabilidade, a empresa apenas subtraia do que era devido aos fornecedores, como se a dívida já tivesse sido completamente resolvida", comenta Miziara.
Já as VPCs são incentivos comerciais comuns no varejos. Nele, a empresa varejista faz propagandas oferecendo os produtos de seus fornecedores – que, quando são vendidos, resultam num desconto do valor que é devido pela companhia.
Porém, a investigação da PF aponta que eram contabilizadas nos balanços da empresa VPCs que nunca existiram ou que tiveram seus valores inflados.
Com os números manipulados e fraudulentos, os executivos recebiam altos bônus por um desempenho que era falso, além de conseguir lucros na venda das ações.
A PF identificou os crimes de manipulação de mercado, uso de informação privilegiada, associação criminosa e lavagem de dinheiros, o que pode gerar uma pena de até 26 anos de prisão, caso os investigados sejam condenados.
Relembre mais detalhes do caso Americanas
A gigante varejista Americanas informou um rombo contábil bilionário no dia 11 de janeiro. Naquele momento, a companhia disse que havia identificado "inconsistências em lançamentos contábeis" nos balanços corporativos no valor de quase R$ 20 bilhões.
Sergio Rial, então presidente da empresa que assumiu após a saída de Miguel, decidiu deixar o comando do negócio após apenas nove dias no comando e os investidores — pessoa física e institucionais — iniciaram uma corrida para se desfazer dos papéis. Isso fez com que as ações da companhia despencassem quase 80% em um único dia, e a fuga continuou nos pregões seguintes.
Em uma conferência após sua demissão, Rial disse "a primeira grande conclusão é que não estamos falando de um número que está fora do balanço. Só que ele não está registrado de forma apropriada ao longo dos últimos anos", disse.
No dia 19 de janeiro, a Americanas pediu a recuperação judicial na Justiça do Rio de Janeiro e teve suas ações retiradas da B3. A primeira versão do plano de recuperação foi apresentada em março, mas a empresa só teve um plano aprovado no último dia 19 de dezembro, exatamente 11 meses depois.
A dívida final apresentada no plano foi de mais de R$ 50 bilhões, sendo uma dívida trabalhista de R$ 82,9 milhões e uma fraude de resultado de R$ 25,2 bilhões ao final de 2022, e o processo de recuperação envolverá um aporte de R$ 12 bilhões dos "acionistas de referências — o trio de bilionários Jorge Paulo Lemann, Carlos Alberto Sicupira e Marcel Herrmann Telles.
A recuperação também envolverá a venda de ativos, inicialmente o Hortifruti Natural da Terra e a Uni.Co (empresa de franquias das marcas Imaginarium e Puket).
As maiores recuperações judiciais do Brasil atualmente
Um levantamento da plataforma de pesquisas para o mercado financeiro Quantum Finance mostra que o valor da dívida envolvida na recuperação judicial da Americanas é o maior do Brasil em andamento.
Veja a lista dos 10 maiores valores de recuperações judiciais do Brasil na atualidade:
Americanas: R$ 50,87 bilhões
Oi: R$ 50,61 bilhões
Light: R$ 16,76 bilhões
OSX Brasil: R$ 8,5 bilhões
Paranapanema: R$ R$ 5,2 bilhões
Coteminas: R$ 2,46 bilhões
Springs: R$ 2,19 bilhões
Renova: R$ 1,7 bilhões
João Fortes: R$ 1,5 bilhões
Teka: R$ 1,2 bilhões

Equipe econômica segue tentando convencer Lula sobre necessidade de cortar gastos

Somadas a fatores externos, as declarações recentes do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) colocando em dúvida a necessidade de corte de gastos já começaram a surtir efeito negativo na economia. O dólar fechou a quarta-feira (26) perto de R$ 5,52 e os juros futuros voltaram a subir.
A equipe econômica, no entanto, vai tentar convencer o presidente de que é preciso, também, fazer o ajuste pelo lado das despesas. Alguns gastos vêm crescendo bem acima da arrecadação.
O cenário dos últimos dias na economia foi oposto ao esperado pela equipe do Ministério da Fazenda, que acreditava numa estabilidade depois de o Comitê de Política Monetária (Copom) ter decidido interromper o ciclo de queda da taxa de juros nos 10,5% ao ano.
A equipe econômica ainda confia, porém, em estabilidade no curto prazo.
Segundo assessores, os números da área fiscal vão melhorar e serão impulsionados por um provável bloqueio orçamentário na casa de R$ 20 milhões em julho 2 – o que deve contribuir para tranquilizar o mercado.
Se a instabilidade se mantiver, pode acabar contaminando a inflação do segundo semestre. E, com isso, adiar ainda mais o momento em que o Banco Central decidirá retomar a queda da Selic.
Lula indica não estar convencido de que o corte de gastos seja necessário e desagrada mercado; Bruno Carazza comenta
Conselhão dará a temperatura
Lula deve sentir hoje a temperatura deste momento da economia na reunião desta quinta-feira (27) do Conselhão, formado por empresários, sindicalistas e ativistas.
Entre os empresários, estarão alguns que, nos últimos dias, criticaram publicamente ou nos bastidores a estratégia do governo de tentar reduzir o déficit nas contas da União e a dívida pública somente com aumento de receita.
Assessores de Lula estão na expectativa de qual será a reação dos empresários às falas do presidente Lula e do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, durante a abertura do encontro no Palácio do Planalto.
A dúvida é se Lula vai seguir também nas suas críticas ao setor privado – a quem tem acusado de ficar atrás de incentivos e benefícios fiscais, sem as devidas contrapartidas.
Já o ministro Fernando Haddad deve falar na necessidade de ajustar as contas públicas e vai pedir o apoio do empresariado na sua missão. Ou seja: de outra forma, também pedirá ajuda para cortar benefícios fiscais.
Situação das contas públicas e declarações de Lula causam nervosismo no mercado

Banco Central vê ‘impacto modesto’ das enchentes no RS no PIB e sobe para 2,3% previsão de crescimento em 2024

Informação consta no relatório de inflação segundo trimestre deste ano, divulgado pela instituição. BC também subiu para 4% sua estimativa para a inflação oficial neste ano. O Banco Central elevou de 1,9% para 2,3% sua estimativa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano. A informação consta do relatório de inflação do segundo trimestre, divulgado nesta quinta-feira (27).
O PIB é a soma de todos os bens e serviços feitos no país, independentemente da nacionalidade de quem os produz, e serve para medir o comportamento da economia brasileira.
Se o PIB cresce, significa que a economia vai bem e produz mais. Se o PIB cai, quer dizer que a economia está encolhendo. Ou seja, o consumo e o investimento total é menor. Nem sempre, entretanto, a alta do PIB equivale a bem-estar social.
"A revisão foi bastante afetada por surpresas positivas no primeiro trimestre, notadamente em impostos, nos componentes mais cíclicos da oferta, no consumo das famílias e na Formação Bruta de Capital Fixo (taxa de investimentos)'", informou o Banco Central.
No ano passado, a economia brasileira cresceu 2,9%, segundo dados oficiais. O resultado ficou acima do esperado pelo mercado financeiro.
Com isso, o resultado para o PIB de 2024 estimado pelo BC também representará, se confirmado, uma desaceleração em relação ao patamar do ano passado.
Com o aumento, a projeção do BC para o crescimento da economia brasileira neste ano passou a ficar um pouco acima da expectativa do mercado – que viu, na semana passada, uma alta de 2,09% para o PIB em 2024.
Já o Ministério da Fazenda estimou, em maio, que o Produto Interno Bruto terá um crescimento de 2,5% neste ano.
Rio Grande do Sul
Segundo o BC, o aumento na estimativa de crescimento do PIB deste ano também incorpora os indicadores mensais disponíveis para o segundo trimestre, que apontam, de modo geral, para desaceleração da atividade econômica, inclusive pelo impacto das enchentes no Rio Grande do Sul (RS).
"Estima-se, com grau elevado de incerteza, que a tragédia climática no RS terá impacto modesto sobre o crescimento anual do PIB nacional. Os efeitos negativos devem ser bastante concentrados no segundo trimestre e compensados pelos esforços de reconstrução e pela aquisição extraordinária de bens de capital, de bens duráveis e de vestuário, que devem ocorrer principalmente na segunda metade do ano. Setorialmente, contudo, deve haver heterogeneidade relevante", avaliou a instituição.
Na análise do BC, o "impacto líquido" das enchentes no resultado da economia neste ano ano tende a ser negativo em alguns setores, como na agropecuária e em “outros serviços” (que inclui serviços prestados às famílias, como alojamento e alimentação fora de casa e atividades de lazer) e positivo para a construção e para a produção de alguns tipos de bens que podem ter sido perdidos.
" Espera-se que os esforços para a reconstrução do RS contribuam positivamente para o crescimento do PIB no segundo semestre, somando-se ao impacto defasado da redução do grau de aperto monetário [aumento da taxa de juros] ocorrido ao longo do último ano", acrescentou o Banco Central.
Inflação
O Banco Central também elevou sua estimativa para a inflação oficial em 2024, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), de 3,5%, em março deste ano, para 4%.
A meta de inflação deste ano é de 3%, e será considerada cumprida se oscilar entre 1,5% e 4,5%.
Segundo a instituição, a probabilidade estimada de a inflação ultrapassar o limite superior do intervalo de tolerância da meta de inflação deste ano, que é de 4,5%, subiu de 19%, em março, para 28%.
Já para o ano de 2025, a estimativa de inflação do Banco Central subiu subiu de 3,2% para 3,4%.
E, para 2026, o governo estimou que o IPCA, a inflação oficial, ficou estável em 3,2%.
A meta de inflação, para 2025 e 2026, foi fixada nesta semana em 3% pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo.
Para definir a taxa básica de juros, atualmente em 10,50% ao ano, e tentar conter a alta dos preços, o BC já está mirando, neste momento, na meta do ano que vem, e também em 12 meses até meados de 2025.
Quanto maior a inflação, menor é o poder de compra das pessoas, principalmente das que recebem salários menores. Isso porque os preços dos produtos aumentam, sem que o salário acompanhe esse crescimento.