O 9 x 0 no Banco Central já estava na conta de Lula

Contas do governo registram déficit de R$ 61 bilhões em maio, pior resultado para o mês em quatro anos
Ana Flor: Copom agiu para segurar inflação
Os votos de indicados por Lula ao Banco Central (BC) para manutenção da taxa de juros já estavam “na conta” do Palácio do Planalto e não devem abalar a relação do presidente da República com diretores, em especial o de Política Econômica, Gabriel Galípolo.
Galípolo é o mais cotado para suceder a Roberto Campos Neto, que termina seu mandato na presidência do BC no final deste ano, e havia especial dúvida entre agentes do mercado financeiro sobre como ele votaria.
Segundo relato de assessores próximos a Lula ao blog, o presidente foi convencido nos últimos dias de que ainda mais danoso do que a manutenção da taxa de juros em um patamar alto de 10,5%, seria mais uma demonstração de divisão do Conselho de Política Monetária (Copom), como a que ocorreu em maio, quando a queda da Selic se deu por 5 votos a 4, com todos os indicados por lula sendo vencidos.
Atual composição do Copom.
Raphael Ribeiro/BCB
Como Lula sabe que tem minoria hoje no BC, situação que vai se reverter a partir do próximo ano, o presidente chegou a externar em uma reunião que Campos Neto tem grande influência no colegiado e teria a maioria nesta reunião para manter as taxas de juros intactas.
Um ministro afirmou ao blog que Lula sabia que não seria bom ter seus indicados – em especial Galípolo – expostos numa divergência que aumenta incertezas sobre a condução da política monetária.
'Coisa desajustada'
Na entrevista à rádio CBN nesta terça-feira, Lula atacou o atual patamar da taxa de juros e vociferou contra o presidente do BC, que acredita estar atuando de forma política, não técnica.
“Nós só temos uma coisa desajustada no Brasil nesse instante: é o comportamento do Banco Central. Essa é uma coisa desajustada. Um presidente do Banco Central que não demonstra nenhuma capacidade de autonomia, que tem lado político e que, na minha opinião, trabalha muito mais para prejudicar o país que para ajudar o país", disse o presidente.
Lula critica a atuação do BC e do presidente Roberto Campos Neto; Julia Duailib comenta
Divergências entre integrantes de conselhos monetários são normais, em especial em ambiente de autonomia, mas a decisão de maio levantou dúvidas sobre as motivações dos diretores, em especial num momento em que se sabe que o presidente da República está para anunciar seu indicado para comandar o BC a partir de 2025.
Havia elementos suficientes para defender tecnicamente a manutenção da Selic em 10,50%: perspectiva de inflação mais alta neste ano e no próximo, dólar em alta e uma situação externa ainda mais incerta, apontando para uma manutenção de juros altos lá fora, em especial nos Estados Unidos.
Lula mudou nas últimas semanas, passando a se reunir com a equipe econômica para tratar de enxugamento de gastos. O que antes era um tema quase proibido, o corte de gastos, passou a ser discutido na sala do presidente, que quase diariamente ouve seus ministros econômicos e determinou não só um pente fino para detectar fraudes em programas sociais, mas um estudo sobre a qualidade dos gastos públicos.

Haddad confirma meta de inflação contínua de 3%

Ministro da Fazenda disse também que não vê tensão entre o governo e o Banco Central. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, confirmou que a meta de inflação será de 3% para 2025 e 2026.
Ele falou com jornalistas após a reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN) nesta quarta-feira (26).
Atualmente, o alvo já está nesse mesmo patamar, de 3%, com intervalo de 1,5 ponto para cima ou para baixo.
Com isso, a inflação pode oscilar entre 1,5% e 4,5% sem que a meta seja considerada descumprida.
Haddad afirmou que há esse compromisso com a meta. "Isso foi decidido ano passado", ratificou.
O conselho é composto pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, pela ministra do Planejamento, Simone Tebet, e pelo presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.
O governo federal publicou nesta quarta-feira (26), em edição extra do Diário Oficial da União, o decreto que altera o sistema de metas da inflação para criar uma "meta contínua".
De acordo com o decreto, a meta central, e o intervalo de tolerância (banda para cima ou para baixo), dentro do qual será considerada cumprida, serão fixados pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) – após proposta elaborada pelo ministro da Fazenda.
Há cerca de um ano, Haddad já havia anunciado que o Banco Central passará a adotar a meta contínua de inflação.
O que muda na prática?
Atualmente, a meta de inflação trabalha com um período fechado: de janeiro a dezembro de um determinado ano.
Assim, o objetivo é que a inflação medida em dezembro, acumulada desde janeiro anterior, esteja dentro da meta. No caso de 2025, o centro dessa meta é de 3%.
Com uma meta contínua, passa a importar o intervalo de 12 meses, em qualquer momento do ano. Ou seja: o objetivo é contínuo, mês a mês, o que passa uma mensagem de maior estabilidade e previsibilidade.
Como vai funcionar
O novo sistema entra em vigor em 1º de janeiro de 2025.
A partir de então, segundo o decreto, a inflação será analisada mês a mês, com base nos 12 meses anteriores.
Ou seja: em junho de 2025, por exemplo, o governo vai verificar se a inflação acumulada desde julho de 2024 está perto ou longe dos 3% (se não houver mudança na meta).
O novo decreto prevê que a meta será considerada como descumprida quando esse resultado estiver fora do intervalo de tolerância por seis meses consecutivos.

Dólar sobe e fecha em R$ 5,51, no maior patamar em mais de dois anos, após novas falas de Lula

Contas do governo registram déficit de R$ 61 bilhões em maio, pior resultado para o mês em quatro anos
A moeda norte-americana teve alta de 1,20%, cotada em R$ 5,5188, no maior nível desde janeiro de 2022. Já o principal índice acionário da bolsa operava em alta nos últimos minutos do pregão. Notas de dólar
Gary Cameron/Reuters
O dólar fechou em alta nesta quarta-feira (25), dia em que o mercado analisou os novos dados da prévia da inflação brasileira. O avanço de preços foi de 0,39% em junho, abaixo das expectativas do mercado financeiro, mas com aumento em preços de alimentos e núcleo de serviços preocupante.
Também repercutiu uma entrevista do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em que ele volta a criticar a decisão de juros do Banco Central do Brasil (BC) e relativiza a necessidade de cortar gastos.
Na véspera, a ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) mostrou que os membros vão adotar um discurso mais cauteloso sobre a condução da taxa básica de juros, a Selic, em meio às incertezas sobre a inflação e a economia global. (saiba mais abaixo)
Além disso, o cenário no exterior segue incerto, em especial após uma declaração de uma diretora do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) que também reiterou que os juros americanos devem permanecer altos por mais tempo. O mercado espera dados de inflação americana na sexta-feira para reafirmar essa posição.
Neste cenário, o Ibovespa, principal índice de ações da bolsa de valores, começou o dia em queda, mas passou a subir durante a tarde e operava em alta nos últimos minutos do pregão.
Veja abaixo o resumo dos mercados.
Dólar
Ao final da sessão, o dólar subiu 1,20%, cotado a R$ 5,5188. Na máxima do dia, chegou a R$ 5,5258. Veja mais cotações.
Com o resultado, acumulou:
avanço de 1,43% na semana;
ganho de 5,14% no mês;
alta de 13,73% no ano.
No dia anterior, a moeda norte-americana avançou 1,16%, cotado a R$ 5,4534.

Ibovespa
Já o Ibovespa operava em alta nos últimos minutos do pregão.
Na véspera, o índice fechou em queda de 0,25%, aos 122.331 pontos.
Com o resultado, acumulou:
alta de 0,82% na semana;
ganhos de 0,19% no mês;
perdas de 8,83% no ano.

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DÓLAR: Qual o melhor momento para comprar a moeda?
Entenda o que faz o preço do dólar subir ou cair
O que está mexendo com os mercados?
A principal notícia desta quarta-feira ficou com o resultado do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) — considerado a prévia da inflação oficial do país, divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A prévia da inflação registrou uma alta de 0,39% nos preços de junho. A expectativa do mercado financeiro era de que o IPCA-15 tivesse uma alta de 0,45% em junho.
O índice foi puxado principalmente pela alta de 0,98% no grupo de Alimentação e bebidas, com um impacto de 0,21 ponto percentual (p.p.) no indicador.
"O grupo alimentação no domicílio é o mais afetado pelas enchentes do RS, nele observamos a elevação de itens in natura e leite", diz Leonardo Costa, economista do ASA.
No mês passado, em maio, o indicador registrou um avanço de 0,44%, uma aceleração de 0,23 pontos percentuais (p.p.) em relação a abril, quando teve alta de 0,21%.
Em 12 meses, porém, o IPCA-15 acumulou uma ata de 4,06% até junho, acima dos 3,70% observados nos 12 meses anteriores.
"Foi um resultado com qualitativo não muito bom, pois os preços de serviços subjacentes — que importam bastante à condução da política monetária — se aceleraram para níveis acima do esperado [0,31% para 0,40%]", diz Maykon Douglas, economista da Highpar.
"Os preços se desaceleraram quando se anualiza as variações mais recentes, ou seja, variam um pouco menos do que vimos no início do ano. No entanto, o qualitativo recente da inflação segue exigindo atenção, uma vez que o mercado de trabalho continua aquecido e surpreendendo para cima."
Para o economista-chefe do Banco Master, Paulo Gala, a leitura geral é de uma inflação "salgada" em um momento que o dólar ganha força mesmo contra moedas de países desenvolvidos.
"A expectativa para esse ano já está quase em 4%. O BC vai ter uma vida difícil para controlar a inflação nos próximos meses, dado que a economia está mais aquecida, o mercado de trabalho está mais apertado e o câmbio está mais desvalorizado. […] Um câmbio de R$ 5,50 é muito mais inflacionário que um câmbio de R$ 5", diz.
Ainda durante a manhã, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) voltou a criticar a condução dos juros por parte do Banco Central (BC) em entrevista ao portal "Uol". Esse é um tema sensível para o mercado, que aguarda saber quem será o sucessor de Roberto Campos Neto na cadeira da presidente da instituição no ano que vem.
Sobre Gabriel Galípolo, diretor do BC indicado por seu governo e um dos mais cotados para a posição, Lula disse que "é um companheiro altamente preparado, conhece sistema financeiro. Mas ainda não estou pensando na questão do Banco Central."
"Eu não indico presidente do Banco Central para o mercado. Ele vai ter que tomar conta dos interesses do Brasil. Mercado tem que se adaptar a isso", argumentou Lula.
Lula também comentou as contas públicas, e disse que o governo está fazendo uma análise dos cortes de gastos que podem ajudar a equilibrar as contas.
"O gasto está sendo bem feito? O dinheiro está sendo utilizado para alguma coisa que vai melhorar o futuro deste país? Eu acho que está. Nós estamos agora fazendo uma análise aonde é que tem gasto exagerado, aonde é que tem gasto que não deveria ter, aonde é que tem pessoas que não deveriam receber e que estão recebendo. Isso com muita tranquilidade, sem levar em conta o nervosismo do mercado. Levando em conta a necessidade de manter política de investimento", disse o presidente.
Segundo Lula, o problema não é cortar, mas ter um panorama claro do que fazer.
"O problema é saber se precisa efetivamente cortar ou se a gente precisa aumentar a arrecadação", emendou Lula.
Ainda sobre corte de gastos, Lula disse garantir que não tomará medidas que mexam em salário mínimo e em benefícios sociais — por exemplo, desobrigando a correção desses valores pela inflação do período. "Garanto, salário mínimo não será mexido enquanto eu for presidente da República", disse.
Na terça-feira, um dos fatores de piora do câmbio foi divulgação da ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom). Após sete reduções seguidas na taxa Selic o colegiado decidiu fazer uma pausa no ciclo de cortes e manter os juros em 10,50% ao ano.
A decisão veio em linha com as atuais expectativas do mercado, mas ainda representa uma previsão maior de juros para 2024 em relação ao observado no começo do ano, além de indicativos de que os riscos que o BC leva em conta para mexer na Selic estão mais preocupantes.
O comitê informou, no documento, que o controle das estimativas de inflação, que estão em alta, requer uma "atuação firme" da autoridade monetária, e acrescentou que se manterá "vigilante". Além disso, avaliou que "eventuais ajustes futuros" na taxa de juros, com possíveis aumentos na Selic, "serão ditados pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta".
Lula voltou a criticar a decisão, reforçando no mercado as dúvidas sobre o futuro dos juros no país. "O Banco Central tem necessidade de manter a taxa de 10,50% quando a inflação está a 4%? Não é culpa sequer do BC, é culpa da estrutura que foi criada. BC vai ter plano de meta de crescimento? A gente vai avançar para isso".
"Continuo criticando a taxa. Acho que não deveria ser o presidente que criticasse, mas é preciso que empresários do setor produtivo, CNI [Confederação Nacional da Indústria], Fiesp [Federação das Indústrias do Estado de São Paulo], ao invés de reclamar do governo deveriam fazer passeata contra taxa de juros", completou.
No fim do dia, o mercado também fica de olho na reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN), que deve discutir as metas de inflação. O governo decidiu manter a meta de inflação em 3% para os próximos anos, mas decidiu pela mudança no sistema.
O sistema era o chamado "ano-calendário", que analisa a inflação de janeiro até dezembro. Foi decidido que vai virar um sistema de "meta contínua", em que vai se analisando continuamente se a meta está dentro do que foi definido, se a inflação está dentro da meta definida.
Como explica o blog do Valdo Cruz, a alteração será de um período "janeiro a dezembro" para um prazo de dois a três anos. O BC teria mais tempo para levar a inflação para o centro da meta, evitando uma política mais rígida para ancorar a expectativa de inflação.
O Banco Central já mira uma inflação além do ano-calendário. A interrupção na queda de juros já teve o objetivo de evitar essa desancoragem da inflação principalmente em 2025.
Ontem, outro ponto que deu força ao dólar e continua a repercutir foi a declaração da diretora do Federal Reserve Michelle Bowman, que reiterou sua opinião de que manter a taxa de juros dos Estados Unidos estável "por algum tempo" provavelmente será suficiente para deixar a inflação sob controle.
Juros mais altos nos Estados Unidos tornam os emergentes menos atrativos, o que inclui o Brasil. Assim, os investidores levam investimentos para economias desenvolvidas e o real tende a se desvalorizar ainda mais.
"A inflação nos EUA continua elevada, e ainda vejo vários riscos de aumento da inflação que afetam minha perspectiva", disse Bowman em comentários preparados para uma apresentação em Londres.
Bowman disse ainda que conflitos regionais podem pressionar para cima os preços da energia e dos alimentos, e condições financeiras mais frouxas ou estímulos fiscais também podem estimular a inflação.
"Se os dados que estão chegando indicarem que a inflação está se movendo de forma sustentável em direção à nossa meta de 2%, será apropriado em algum momento reduzir gradualmente a taxa de juros para evitar que a política monetária se torne excessivamente restritiva", disse ela.
Entretanto, Bowman destacou que a economia "ainda" não chegou a esse ponto, acrescentando que "permanecerá cautelosa" em sua abordagem da política monetária e previu que os bancos centrais de outros países poderão afrouxar mais cedo ou mais rapidamente do que o Fed.
Os investidores estarão atentos à divulgação na sexta-feira de números do índice PCE de maio, o indicador de inflação preferido do Federal Reserve, para reiterar a posição de Bowman. Analistas projetam estabilidade, ante alta de 0,3% em abril.

Dólar sobe e bate R$ 5,52, com IPCA-15 e fala de Lula trazendo preocupações; Ibovespa tem alta

Contas do governo registram déficit de R$ 61 bilhões em maio, pior resultado para o mês em quatro anos
Na véspera, a moeda norte-americana teve alta de 1,16%, cotada em R$ 5,4534. Já o principal índice acionário da bolsa encerrou em queda de 0,25%, aos 122.331 pontos. Notas de dólar
Gary Cameron/Reuters
O dólar opera em alta nesta quarta-feira (25), dia em que o mercado analisa os novos dados da prévia da inflação brasileira para junho. A alta de preços foi de 0,39% em junho, abaixo das expectativas do mercado financeiro, mas com alta em preços de alimentos e núcleo de serviços preocupante.
Também repercute uma entrevista do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em que ele volta a criticar a decisão de juros do Banco Central do Brasil (BC) e relativiza a necessidade de cortar gastos. Na véspera, a ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) mostrou que os membros vão adotar um discurso mais cauteloso sobre a condução da taxa básica de juros, a Selic, em meio às incertezas sobre a inflação e a economia global. (saiba mais abaixo)
Além disso, o cenário no exterior segue incerto, em especial após uma declaração de uma diretora do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) que também reiterou que os juros americanos devem permanecer altos por mais tempo. O mercado espera dados de inflação americana na sexta-feira para reafirmar essa posição.
Neste cenário, o Ibovespa, principal índice de ações da bolsa de valores, começou o dia em queda, mas passou a subir durante a tarde.
Veja abaixo o resumo dos mercados.
Dólar
Às 15h45, o dólar operava em alta de 1,17%, cotado a R$ 5,5178. Na máxima do dia, chegou a R$ 5,5216. Veja mais cotações.
No dia anterior, a moeda norte-americana avançou 1,16%, cotado a R$ 5,4534.
Com o resultado, acumulou:
alta de 0,23% na semana;
ganho de 3,89% no mês;
alta de 12,38% no ano.

Ibovespa
No mesmo horário, o Ibovespa operava em alta de 0,13%, aos 122.485 pontos.
Na véspera, o índice fechou em queda de 0,25%, aos 122.331 pontos.
Com o resultado, acumulou:
alta de 0,82% na semana;
ganhos de 0,19% no mês;
perdas de 8,83% no ano.

DINHEIRO OU CARTÃO? Qual a melhor forma de levar dólares em viagens?
DÓLAR: Qual o melhor momento para comprar a moeda?
Entenda o que faz o preço do dólar subir ou cair
O que está mexendo com os mercados?
A principal notícia desta quarta-feira é o resultado do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) — considerado a prévia da inflação oficial do país, divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A prévia da inflação registrou uma alta de 0,39% nos preços de junho. A expectativa do mercado financeiro era de que o IPCA-15 tivesse uma alta de 0,45% em junho.
O índice foi puxado principalmente pela alta de 0,98% no grupo de Alimentação e bebidas, com um impacto de 0,21 ponto percentual (p.p.) no indicador.
"O grupo alimentação no domicílio é o mais afetado pelas enchentes do RS, nele observamos a elevação de itens in natura e leite", diz Leonardo Costa, economista do ASA.
No mês passado, em maio, o indicador registrou um avanço de 0,44%, uma aceleração de 0,23 pontos percentuais (p.p.) em relação a abril, quando teve alta de 0,21%.
Em 12 meses, porém, o IPCA-15 acumulou uma ata de 4,06% até junho, acima dos 3,70% observados nos 12 meses anteriores.
"Foi um resultado com qualitativo não muito bom, pois os preços de serviços subjacentes — que importam bastante à condução da política monetária — se aceleraram para níveis acima do esperado [0,31% para 0,40%]", diz Maykon Douglas, economista da Highpar.
"Os preços se desaceleraram quando se anualiza as variações mais recentes, ou seja, variam um pouco menos do que vimos no início do ano. No entanto, o qualitativo recente da inflação segue exigindo atenção, uma vez que o mercado de trabalho continua aquecido e surpreendendo para cima."
Para o economista-chefe do Banco Master, Paulo Gala, a leitura geral é de uma inflação "salgada" em um momento que o dólar ganha força mesmo contra moedas de países desenvolvidos.
"A expectativa para esse ano já está quase em 4%. O BC vai ter uma vida difícil para controlar a inflação nos próximos meses, dado que a economia está mais aquecida, o mercado de trabalho está mais apertado e o câmbio está mais desvalorizado. […] Um câmbio de R$ 5,50 é muito mais inflacionário que um câmbio de R$ 5", diz.
Ainda durante a manhã, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) voltou a criticar a condução dos juros por parte do Banco Central (BC) em entrevista ao portal "Uol". Esse é um tema sensível para o mercado, que aguarda saber quem será o sucessor de Roberto Campos Neto na cadeira da presidente da instituição no ano que vem.
Sobre Gabriel Galípolo, diretor do BC indicado por seu governo e um dos mais cotados para a posição, Lula disse que "é um companheiro altamente preparado, conhece sistema financeiro. Mas ainda não estou pensando na questão do Banco Central."
"Eu não indico presidente do Banco Central para o mercado. Ele vai ter que tomar conta dos interesses do Brasil. Mercado tem que se adaptar a isso", argumentou Lula.
Lula também comentou as contas públicas, e disse que o governo está fazendo uma análise dos cortes de gastos que podem ajudar a equilibrar as contas.
"O gasto está sendo bem feito? O dinheiro está sendo utilizado para alguma coisa que vai melhorar o futuro deste país? Eu acho que está. Nós estamos agora fazendo uma análise aonde é que tem gasto exagerado, aonde é que tem gasto que não deveria ter, aonde é que tem pessoas que não deveriam receber e que estão recebendo. Isso com muita tranquilidade, sem levar em conta o nervosismo do mercado. Levando em conta a necessidade de manter política de investimento", disse o presidente.
Segundo Lula, o problema não é cortar, mas ter um panorama claro do que fazer.
"O problema é saber se precisa efetivamente cortar ou se a gente precisa aumentar a arrecadação", emendou Lula.
Ainda sobre corte de gastos, Lula disse garantir que não tomará medidas que mexam em salário mínimo e em benefícios sociais — por exemplo, desobrigando a correção desses valores pela inflação do período. "Garanto, salário mínimo não será mexido enquanto eu for presidente da República", disse.
Na terça-feira, um dos fatores de piora do câmbio foi divulgação da ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom). Após sete reduções seguidas na taxa Selic o colegiado decidiu fazer uma pausa no ciclo de cortes e manter os juros em 10,50% ao ano.
A decisão veio em linha com as atuais expectativas do mercado, mas ainda representa uma previsão maior de juros para 2024 em relação ao observado no começo do ano, além de indicativos de que os riscos que o BC leva em conta para mexer na Selic estão mais preocupantes.
O comitê informou, no documento, que o controle das estimativas de inflação, que estão em alta, requer uma "atuação firme" da autoridade monetária, e acrescentou que se manterá "vigilante". Além disso, avaliou que "eventuais ajustes futuros" na taxa de juros, com possíveis aumentos na Selic, "serão ditados pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta".
Lula voltou a criticar a decisão, reforçando no mercado as dúvidas sobre o futuro dos juros no país. "O Banco Central tem necessidade de manter a taxa de 10,50% quando a inflação está a 4%? Não é culpa sequer do BC, é culpa da estrutura que foi criada. BC vai ter plano de meta de crescimento? A gente vai avançar para isso".
"Continuo criticando a taxa. Acho que não deveria ser o presidente que criticasse, mas é preciso que empresários do setor produtivo, CNI [Confederação Nacional da Indústria], Fiesp [Federação das Indústrias do Estado de São Paulo], ao invés de reclamar do governo deveriam fazer passeata contra taxa de juros", completou.
No fim do dia, o mercado também fica de olho na reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN), que deve discutir as metas de inflação. O governo decidiu manter a meta de inflação em 3% para os próximos anos, mas decidiu pela mudança no sistema.
O sistema era o chamado "ano-calendário", que analisa a inflação de janeiro até dezembro. Foi decidido que vai virar um sistema de "meta contínua", em que vai se analisando continuamente se a meta está dentro do que foi definido, se a inflação está dentro da meta definida.
Como explica o blog do Valdo Cruz, a alteração será de um período "janeiro a dezembro" para um prazo de dois a três anos. O BC teria mais tempo para levar a inflação para o centro da meta, evitando uma política mais rígida para ancorar a expectativa de inflação.
O Banco Central já mira uma inflação além do ano-calendário. A interrupção na queda de juros já teve o objetivo de evitar essa desancoragem da inflação principalmente em 2025.
Ontem, outro ponto que deu força ao dólar e continua a repercutir foi a declaração da diretora do Federal Reserve Michelle Bowman, que reiterou sua opinião de que manter a taxa de juros dos Estados Unidos estável "por algum tempo" provavelmente será suficiente para deixar a inflação sob controle.
Juros mais altos nos Estados Unidos tornam os emergentes menos atrativos, o que inclui o Brasil. Assim, os investidores levam investimentos para economias desenvolvidas e o real tende a se desvalorizar ainda mais.
"A inflação nos EUA continua elevada, e ainda vejo vários riscos de aumento da inflação que afetam minha perspectiva", disse Bowman em comentários preparados para uma apresentação em Londres.
Bowman disse ainda que conflitos regionais podem pressionar para cima os preços da energia e dos alimentos, e condições financeiras mais frouxas ou estímulos fiscais também podem estimular a inflação.
"Se os dados que estão chegando indicarem que a inflação está se movendo de forma sustentável em direção à nossa meta de 2%, será apropriado em algum momento reduzir gradualmente a taxa de juros para evitar que a política monetária se torne excessivamente restritiva", disse ela.
Entretanto, Bowman destacou que a economia "ainda" não chegou a esse ponto, acrescentando que "permanecerá cautelosa" em sua abordagem da política monetária e previu que os bancos centrais de outros países poderão afrouxar mais cedo ou mais rapidamente do que o Fed.
Os investidores estarão atentos à divulgação na sexta-feira de números do índice PCE de maio, o indicador de inflação preferido do Federal Reserve, para reiterar a posição de Bowman. Analistas projetam estabilidade, ante alta de 0,3% em abril.

Contas do governo registram déficit de R$ 61 bilhões em maio, pior resultado para o mês em quatro anos

Segundo o Tesouro Nacional, esse foi o segundo pior resultado para meses de maio desde o início da série histórica, em 1997, perdendo apenas para 2020 – ano de pandemia da Covid-19. As contas do governo federal registraram déficit primário de R$ 60,98 bilhões em maio deste ano, informou nesta quarta-feira (26) a Secretaria do Tesouro Nacional.
O déficit primário ocorre quando as receitas com tributos e impostos ficam abaixo as despesas do governo (não são considerados os gastos com o pagamento de juros da dívida pública). Se as receitas superam as despesas, o resultado é de superávit primário.
De acordo com o Tesouro Nacional, em maio:
A receita líquida foi de R$ 164,49 bilhões
A despesa total foi R$ 225,47 bilhões
Segundo o governo, o déficit registrado em maio é o maior, para o mês, desde 2020, quando o rombo somou R$ 165,14 bilhões (valor corrigido pela inflação).
Também foi o segundo pior resultado para este mês desde o início da série histórica do Tesouro Nacional, em 1997.
O déficit registrado das contas do governo em maio aconteceu apesar do bom desempenho da arrecadação – que somou R$ 203 bilhões, recorde histórico para o período.
Parcial do ano e meta fiscal
Ainda segundo o Tesouro Nacional, no acumulado dos cinco primeiros meses deste ano, as contas do governo registraram superávit primário de R$ 29,99 bilhões.
Com isso, houve piora em relação ao mesmo período do ano passado, quando foi registrado um superávit fiscal de R$ 1,83 bilhões nas contas do governo.
O governo informou que busca zerar o rombo das contas públicas neste ano, meta que consta na Lei de Diretrizes Orçamentária (LDO) — aprovada pelo Congresso Nacional e sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Em 2023, o governo federal registrou um déficit primário (sem contar as despesas com juros) de R$ 230,5 bilhões. Foi o segundo pior resultado da série histórica.
O objetivo de zerar o rombo fiscal neste ano é considerado ousado pelo mercado financeiro, que projeta um déficit em torno de R$ 80 bilhões para 2024.
De acordo com o relatório de avaliação de receitas e despesas divulgado na semana passada, entretanto, as contas do governo deverão registrar um déficit de R$ 14,5 bilhões neste ano.
Pelas regras do arcabouço fiscal, há uma banda de 0,25 ponto percentual do PIB para cima e para baixo da meta fiscal.
Com isso, o governo pode registrar um rombo de até R$ 28,8 bilhões em 2024 sem que o objetivo seja descumprido.
Em busca da meta fiscal, o governo aprovou, no ano passado, uma série de medidas para aumentar a arrecadação federal. O objetivo é elevar a arrecadação em R$ 168,5 bilhões em 2024.