Nova presidente da Petrobras promete ‘rentabilidade que o mercado espera’ e alinhamento com Lula

Selic em 10,50%: por que o Banco Central interrompeu o ciclo de cortes e quais os sinais sobre o futuro dos juros
Evento na tarde desta quarta-feira (19), no Cenpes, na Zona Norte do Rio, marca oficialmente o início da gestão de Magda Chambriard na empresa. Ela assume o cargo após a saída de Jean Paul Prates, em maio. Posse de Magda Chambriard como presidente da Petrobras
Raoni Alves
Durante cerimônia de posse como presidente da Petrobras, Magda Chambriard prometeu prezar por "resultados empresariais robustos" e manter uma visão alinhada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A nova dirigente da estatal assume o cargo em solenidade nesta quarta-feira (19) no Rio de Janeiro, com a presença de Lula.
Engenheira e profissional de carreira da companhia, Magda foi indicada para a função pelo chefe do Planalto após a demissão de Jean Paul Prates do cargo, em maio.
"Muitos me perguntam o que vamos fazer, e está registrado no nosso planejamento, potencial para gerar empregos diretos e indiretos, expressivos recursos para estados e municípios, vamos tornar realidade o que foi planejado com celeridade, vamos zelar pela governança, e por resultados empresariais robustos, com eficiência e rentabilidade que o mercado e o Brasil esperam de nós", declarou Magda.
Ela também afirmou que vai conduzir em uma gestão "totalmente alinhada com a visão de país do presidente Lula e do governo federal, afinal, são nossos acionistas majoritários".
Magda Chambriard: Petrobras estará alinhada ao governo
Lula defendeu que a petroleira tem um papel social para a economia do país, mas que "ninguém quer acionista com prejuízo".
"É preciso que prevaleça a verdade para o povo brasileiro. Ninguém quer que nenhum acionista tenha 1 centavo de prejuízo, se investiu tem direito a ter o seu retorno do investimento, ninguém quer isso, ninguém quer que a Petrobras seja empresa deficitária, que ela perca dinheiro", declarou o presidente.
Em alguns momentos deste terceiro mandato, a gestão de Lula vem sendo criticada por setores do mercado por uma política intervencionista na Petrobras.
Foz do Amazonas
Durante o pronunciamento, Magda também se comprometeu com a condução de uma gestão pautada pela transição energética, e pelo respeito à biodiversidade e ao meio ambiente.
"As reservas de petróleo e gás do Brasil são finitas, nossa segurança energética durante a transição justa passa pela sua reposição. É fundamental desenvolver as fronteiras como a margem equatorial e do Sul do Brasil. Mas, iremos desenvolver com padrão de segurança, conformidade com a legislação ambiental e licenciamento", declarou.
A fala da nova presidente é importante também porque cita um embate entre a Petrobras e o Ministério do Meio Ambiente, chefiado por Marina Silva. No caso, a nova presidente da petroleira defendeu a exploração de petróleo na margem equatorial, que engloba parte da Amazônia.
A margem equatorial se estende por mais de 2,2 mil km ao longo da costa entre o Rio Grande do Norte e o Oiapoque, no Amapá. A região é considerada a mais nova fronteira exploratória brasileira em águas profundas e ultraprofundas, e já foi chamada de "novo pré-sal".
A decisão de explorar a região é criticada por ambientalistas que apontam riscos de tragédias ambientais. Marina Silva também foi enfática ao se manifestar contrariamente ao projeto.
Em maio, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) negou o pedido de licença da Petrobras perfurar poço de petróleo no litoral do Amapá. À época, Marina disse que a decisão foi técnica e que teria que ser respeitada.
Nessa terça-feira (18), em entrevista à rádio CBN, o presidente Lula disse que o Ibama e outras pastas podem ter posições diferentes, mas que o governo não poderia abrir mão de explorar uma riqueza para o país.
Durante a cerimônia, o ministro de Minas Energia, Alexandre Silveira, também defendeu a exploração na região e disse ser uma questão de "soberania nacional" e que o Brasil precisa repor as reservas de combustível fóssil.
"A Petrobras do Brasil tem que proteger o meio ambiente e compromisso social, a Petrobras tem que promover uma transição energética, a Petrobras do povo brasileiro, precisa de segurança energética com a reposição da nossa reserva de gás e petróleo, a margem equatorial é questão de soberania nacional."
Dividendos
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, lembrou o papel da petroleira estatal na economia do país, como uma empresa que "sabe prestar contas aos acionistas" mas não abre mão do papel no desenvolvimento nacional.
Ele também fez referência à distribuição de dividendos, assunto que gerou desgaste na gestão passada.
"A Petrobras é vista como uma geradora de dividendos e royalties. O discurso da Magda foi tão abrangente que ele representa aquilo que nos esperamos de uma empresa, uma visão estratégica, que sabe que deve prestar contas aos seus acionistas, mas que tem um papel no desenvolvimento nacional.
Em alguns momentos deste terceiro mandato, a gestão de Lula vem sendo criticada por setores do mercado por uma política intervencionista na Petrobras.
Um dos exemplos mais marcantes foi em abril deste ano, quando, ao divulgar os resultados financeiros, a empresa disse que não pagaria todo os dividendos extraordinários. A estratégia, alinhada com o Palácio do Planalto, visava robustecer o caixa e empolgar investidores. Mas foi vista no mercado como interferência excessiva. As ações da estatal tiveram forte queda no dia seguinte.
A queda do antecessor de Magda, Jean Paul Prates, se deu exatamente no contexto da pressão que ele vinha sofrendo entre o mercado e o Palácio do Planalto (relembre a polêmica aqui).
Posição de Magda
Em entrevista recente, Magda comentou sobre a questão. Ela disse que a empresa vai "respeitar a lógica empresarial" no que se refere a distribuição de dividendos, tópico de constante debate nas últimas gestões da companhia.
"Nós vamos respeitar a lógica empresarial. Não há como gerir uma empresa dessas sem respeitar a lógica empresarial. Dando lucro, sendo tempestivo, atendendo os interesses tanto dos acionistas públicos quanto dos privados, nós vamos fazer", afirmou no final de maio, na sede da empresa, no Rio.
Antes da posse, Lula esteve com o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, e assinou um acordo com dois financiamentos para o município que ultrapassam o total de R$ 1 bilhão.
Os contratos firmados são de R$ 950 milhões pelo Banco do Brasil e R$ 141 milhões pela Caixa Econômica Federal. O objetivo é investir em obras de infraestrutura e no sistema de BRT no Rio.
Currículo
Formada em engenharia civil pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Magda Chambriard é mestre em engenharia química. Ela também tem especializações em engenharia de reservatórios e avaliação de formações, além de produção de petróleo e gás.
A engenheira começou a trabalhar na Petrobras em 1980, atuando na área de produção por mais de 20 anos. Em 2012, ela assumiu a diretoria-geral da ANP, onde permaneceu até 2016. Enquanto esteve no cargo, liderou estudos técnicos que resultaram na primeira licitação do pré-sal.
Magda Chambriard: quem é a engenheira que assume a presidência da Petrobras
Desde 2021, a engenheira atua na Assessoria Fiscal Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj). Ela também é sócia da empresa Chambriard Engenharia e Energia.
No ano passado, em uma rede social, Magda fez um publicação sobre a posição de mulheres no governo.
"Aqui cabe uma pergunta: quantas mulheres têm cargo de chefia na parte operacional da Bacia de Santos na Petrobras? Muito provavelmente serão de lá os futuros gerentes", escreveu, acrescentando que era necessário haver mulheres buscando esses espaços.

Lula defende papel social da Petrobras mas diz que ninguém quer acionista com prejuízo

Presidente discursou durante posse da presidende da Petrobras, Magda Chambriard, no Rio de Janeiro. Ele fez críticas à Lava Jato, e lembrou denúncias de corrupção envolvendo a petroleira. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) defendeu nesta quarta-feira (19), em discurso durante a posse da presidente da Petrobras, Magda Chambriard, que a petroleira tem um papel fundamental para a economia do país e a pauta social do governo, mas que "ninguém quer que os acionistas tenham prejuízo".
"É preciso que prevaleça a verdade para o povo brasileiro. Ninguém quer que nenhum acionista tenha 1 centavo de prejuízo, se investiu tem direito a ter o seu retorno do investimento, ninguém quer isso, ninguém quer que a Petrobras seja empresa deficitária, que ela perca dinheiro", declarou o presidente.
Ele seguiu: "Não. Eu quero a Petrobras uma empresa lucrativa — quanto mais lucro, mais investimento e mais imposto pago, e mais o [ministro Fernando] Haddad vai ficar feliz com o dinheiro para o tesouro, para ajudar os prefeitos e os estados".
Em alguns momentos deste terceiro mandato, a gestão de Lula vem sendo criticada por setores do mercado por uma política intervencionista na Petrobras.
Um dos exemplos mais marcantes foi em abril deste ano, quando, ao divulgar os resultados financeiros, a empresa disse que não pagaria todo os dividendos extraordinários. A estratégia, alinhada com o Palácio do Planalto, visava robustecer o caixa e empolgar investidores. Mas foi vista no mercado como interferência excessiva. As ações da estatal tiveram forte queda no dia seguinte.
A queda do antecessor de Magda, Jean Paul Prates, se deu exatamente no contexto da pressão que ele vinha sofrendo entre o mercado e o Palácio do Planalto.
Petrobras: entenda a polêmica dos dividendos
Denúncias de corrupção
O presidente também lembrou das denúncias e investigações de corrupção na Petrobras, uma das linhas de atuação da operação Lava Jato.
Lula, que foi condenado e preso pela operação, classificou as investigações como "desmonte" da empresa.
"Lamento o que aconteceu na tentativa de desmonte da empresa [Petrobras], mentiras que se contou sobre a empresa, inverdades que o Brasil recebia 24h por dia, não tem volta, Getúlio Vargas morreu por uma denúncia de corrupção, depois que ele se matou, nunca se provou. O apartamento do Juscelino Kubitschek, nunca se provou."
O presidente também negou a existência de provas de irregularidades na empresa. "Lembro que eu chamei um membro do TCU, ministro, acompanhava a construção dos estádios brasileiros, eu falava: 'Se teve corrupção, diga quem foi'. E ele disse: 'presidente, o TCU terminou a investigação, não teve prova de nenhuma corrupção'. Essa é a verdade do relatório, por que as pessoas não publicam isso? Por que a desgraça da primeira mentira é que vc passa o resto da vida mentido. Não tem agora coragem para pedir desculpas. Pedir desculpas é uma grandeza, e os acusadores não a tem".
Alinhamento ao presidente
Durante a solenidade de posse, a nova dirigente da estatal prometeu prezar por "resultados empresariais robustos" e manter uma visão alinhada ao presidente Lula. Magda assume o cargo em solenidade nesta quarta-feira (19) no Rio de Janeiro, com a presença de ministros do governo.
"Muitos me perguntam o que vamos fazer, e está registrado no nosso planejamento, potencial para gerar empregos diretos e indiretos, expressivos recursos para estados e municípios, vamos tornar realidade o que foi planejado com celeridade, vamos zelar pela governança, e por resultados empresariais robustos, com eficiência e rentabilidade que o mercado e o Brasil esperam de nós", declarou Magda.
Ela também afirmou que vai conduzir em uma gestão "totalmente alinhada com a visão de país do presidente Lula e do governo federal, afinal, são nossos acionistas majoritários".
Magda Chambriard: Petrobras estará alinhada ao governo

Por unanimidade, Copom interrompe ciclo de cortes e mantém Selic em 10,50% ao ano

Decisão era esperada pelo mercado, que prevê estabilidade da taxa básica de juros até o fim de 2024. Lula elevou o tom das críticas contra o Banco Central nos últimos dias, em queixa contra a taxa de juros. Decisão de manter Selic a 10,50 mostra independência de Gabriel Galípolo
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu, nesta quarta-feira (19), manter a taxa Selic em 10,50% ao ano.
A decisão foi unânime. Ou seja, todos os diretores do Copom e o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, votaram para manter a Selic no atual patamar. Isso também significa que todos os diretores indicados por Luiz Inácio Lula da Silva votaram de forma diferente do que pensa o presidente, que nos últimos dias subiu o tom contra o BC e defendeu corte nos juros.
Isso representa o fim de um ciclo de cortes da taxa básica de juros, que começou a recuar em agosto de 2023. Nesse período, foram sete quedas seguidas. A Selic estava em 13,75% ao ano no começo do ciclo.
O Copom justificou que o cenário da inflação ainda exige cuidados e não justifica uma mudança na taxa de juros.
"Entre os riscos de alta para o cenário inflacionário e as expectativas de inflação, destacam-se uma maior persistência das pressões inflacionárias globais; e uma maior resiliência na inflação de serviços do que a projetada", afirmou o comunicado do Copom.
Os fatores que pressionam a inflação são tanto domésticos quanto internacionais, segundo o Copom.
"O comitê avalia que as conjunturas doméstica e internacional seguem mais incertas, exigindo maior cautela na condução da política monetária", continuou o comitê.
Com a decisão de hoje de não cortar a Selic, o BC mudou de postura.
Ao permanecer em 10,50% ao ano, a taxa segue no menor nível desde fevereiro de 2022, quando estava em 9,25% ao ano.
Quem participa do Copom?
O Copom é formado pelo presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e por oito diretores da autarquia.
A Selic é o principal instrumento de política monetária utilizado pelo BC para controlar a inflação. A taxa influencia todas as taxas de juros do país, como as taxas de juros dos empréstimos, dos financiamentos e das aplicações financeiras.
Ataques de Lula
A reunião desta semana ocorreu em meio a críticas ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) — que subiu o tom das críticas ao tamanho da taxa de juros.
"Só temos uma coisa desajustada neste país: é o comportamento do Banco Central. Essa é uma coisa desajustada. Presidente que tem lado político, que trabalha para prejudicar o país. Não tem explicação a taxa de juros estar como está", declarou Lula nesta terça-feira (18), em entrevista à rádio CBN.
O Banco Central não se manifestou sobre as declarações do presidente Lula.
Expectativa do mercado
Desde a semana passada, o mercado financeiro deixou de estimar um corte na taxa básica de juros na reunião do Copom de junho. Até então, as instituições financeiras projetavam uma redução de 0,25 ponto percentual no juro básico, para 10,25% ao ano — estimativa que foi abandonada.
O relatório "Focus", divulgado nesta segunda-feira (17) pelo Banco Central, ouviu mais de 100 instituições financeiras, na semana passada, sobre as projeções para a economia.
O resultado mostrou que a maioria dos bancos também deixou de estimar corte nos juros no restante deste ano. A projeção é que a taxa fique estável em 10,50% ao ano até o fim de 2024.
Reuniões restantes em 2024
O Copom costuma se reunir a cada 45 dias para definir o patamar da Selic. Em 2024, o colegiado vai se reunir mais quatro vezes:
30 e 31 de julho
17 e 18 de setembro
5 e 6 de novembro
10 e 11 de dezembro

Brasil continua com o 2º maior juro real do mundo após BC manter Selic inalterada; veja ranking

País deixou a liderança em dezembro, quando foi superado pelo México. Agora, o topo está com a Rússia, conforme levantamento do MoneYou. A Argentina, que enfrenta uma inflação altíssima, ocupa a última posição. Taxa Selic: entenda o que é a taxa básica de juros da economia brasileira
O Brasil continua a ter o segundo maior juro real do mundo após o Comitê de Política Monetária (Copom) decidir manter a taxa básica de juros inalterada. O juro real é formado, entre outros pontos, pela taxa de juros nominal do país subtraída a inflação prevista para os próximos 12 meses.
O Banco Central do Brasil (BC) decidiu nesta quarta-feira (19) manter a Selic na faixa de 10,50% ao ano. Assim, segundo levantamento compilado pelo MoneYou, os juros reais do país ficaram agora em 6,79%. O líder é a Rússia, com taxa real de 8,91%.
Na última divulgação, em 8 de maio, o Brasil já ocupava a segunda colocação da lista. A combinação de inflação menor e cenário externo positivo ajudou no fechamento de uma taxa real de juros mais baixa, informou o MoneYou.
A Argentina continuou com o último lugar no ranking. Apesar de ter perdido para a Turquia o posto de maiores taxas nominais da lista (40% ao ano, frente aos 50% da Turquia — veja mais abaixo), o país também enfrenta um quadro de inflação altíssima, o que acaba derrubando as taxas reais.
Veja abaixo os principais resultados da lista de 40 países.

um anunciou m da taxa básica de juros, de 0,50 p.p.. Com a redução, a Selic ficou em 12,25% ao ano.
Fim de um ciclo de cortes de juros
Nesta quarta-feira, o Copom anunciou sua decisão de manter a taxa básica de juros na casa de 10,50% ao ano.
Com a medida, a autoridade monetária encerrou um ciclo de sete cortes consecutivos da taxa básica. Antes do início das reduções, a Selic havia permanecido, por cerca de um ano, em 13,75%.
Juros nominais
Considerando os juros nominais (sem descontar a inflação), a taxa brasileira permaneceu na 6ª posição. Veja abaixo:
Turquia: 50%
Argentina: 40%
Rússia: 16%
Colômbia: 11,75%
México: 11%
Brasil: 10,50%
África do Sul: 8,25%
Hungria: 7,25%
Filipinas: 6,50%
Índia: 6,50%
Indonésia: 6,25%
Chile: 6%
Polônia: 5,75%
Hong Kong: 5,75%
Estados Unidos: 5,50%
Nova Zelândia: 5,50%
República Checa: 5,25%
Reino Unido: 5,25%
Canadá: 4,75%
Israel: 4,50%
Austrália: 4,35%
Alemanha: 4,25%
Áustria: 4,25%
Espanha: 4,25%
Grécia: 4,25%
Holanda: 4,25%
Portugal: 4,25%
Bélgica: 4,25%
França: 4,25%
Itália: 4,25%
Suécia: 3,75%
Coreia do Sul: 3,50%
China: 3,45%
Singapura: 3,42%
Dinamarca: 3,35%
Malásia: 3%
Tailândia: 2,50%
Taiwan: 2%
Suíça: 1,50%
Japão: 0,10%

Selic em 10,50%: por que o Banco Central interrompeu o ciclo de cortes e quais os sinais sobre o futuro dos juros

Selic em 10,50%: por que o Banco Central interrompeu o ciclo de cortes e quais os sinais sobre o futuro dos juros
Comitê de política monetária (Copom) decidiu, unanimemente, por manter a Selic inalterada em 10,5% nesta quarta-feira (19). Presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, durante debate no Senado
TON MOLINA/FOTOARENA/FOTOARENA/ESTADÃO CONTEÚDO
Após sete reduções seguidas na taxa básica brasileira, a Selic, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central do Brasil (BC) decidiu fazer uma pausa no ciclo de cortes de juros nesta quarta-feira (19).
Com isso, o colegiado manteve os juros básicos do país inalterados no patamar de 10,50% ao ano (a.a.).
A decisão veio em linha com as atuais expectativas do mercado, mas ainda representa uma previsão maior de juros para 2024 em relação ao observado no começo do ano.
Em janeiro, por exemplo, a previsão era que a Selic terminaria 2024 em 9% (a.a.). Agora, a maior parte do mercado espera que a taxa básica permaneça no atual patamar de 10,50% (a.a.) até o final do ano – e que novos cortes aconteçam somente em 2025.
Com a manutenção dos juros já precificada entre os analistas, as atenções ficaram voltadas para o comunicado divulgado após a decisão do Copom e pela divisão dos votos entre os diretores – tema que gerou polêmica na última reunião, quando houve uma racha entre a diretoria e sucessores. No encontro desta quarta-feira, todos os diretores votaram pela manutenção das taxas.
Entenda nesta reportagem por que o Banco Central decidiu interromper o ciclo de cortes de juros e quais os sinais da instituição para o futuro da Selic.
Por que o BC decidiu interromper o ciclo de cortes de juros?
Segundo economistas consultados pelo g1, o principal motivo para a pausa nos cortes da Selic foi a maior desancoragem das expectativas de inflação.
“A desancoragem que já existia na semana passada aumentou. E não aumentou pouca coisa, aumentou muito”, afirma a economista-chefe da Armor Capital, Andrea Damico, reiterando que as últimas sinalizações dos diretores do Copom também indicam esse como o principal fator para a tomada de decisão.
Segundo comunicado divulgado nesta quarta-feira após a decisão, o colegiado afirmou que o ambiente externo se mantém adverso, "em função da incerteza elevada e persistente sobre a flexibilização da política monetária nos Estados Unidos e quanto à velocidade com que se observará a queda da inflação de forma sustentada em diversos países."
Os diretores também afirmaram que o conjunto de indicadores de atividade econômica e do mercado de trabalho brasileiro continuam apresentando um "dinamismo maior do que o esperado".
Entre os fatores de risco de alta de inflação citados pelo Copom no comunicado divulgado após a decisão, estão:
uma maior persistência das pressões inflacionárias globais; e
uma maior resiliência na inflação de serviços do que a projetada em função de um hiato do produto mais apertado.
Já entre os riscos de baixa estão:
uma desaceleração da atividade econômica global mais acentuada do que a projetada; e
os impactos do aperto monetário sincronizado sobre a desinflação global se mostrarem mais fortes do que o esperado.
"O Comitê avalia que as conjunturas doméstica e internacional seguem mais incertas, exigindo maior cautela na condução da política monetária", disse o colegiado no comunicado.
Piora do cenário doméstico e internacional
Política monetária internacional
Do lado do exterior, dizem especialistas, o ambiente mais adverso em meio às crescentes incertezas sobre a política monetária internacional – principalmente nos Estados Unidos – continuou na mira do BC.
Em sua última reunião de política monetária, o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) decidiu mais uma vez manter os juros do país inalterados na faixa entre 5,25%, e 5,50%, destacando que não considera dar início aos cortes de juros até que tenha “maior confiança de que a inflação está evoluindo de forma sustentável para 2%”.
Além disso, o Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) ainda voltou a dizer que está “preparado para ajustar a orientação da política monetária conforme apropriado caso surjam riscos que possam impedir o alcance de seus objetivos.”
Segundo o economista-chefe da Ágora Investimentos, Dalton Gardimam, havia um diagnóstico muito otimista por parte do Fed no ano passado que mudou ao longo desse ano, em meio aos dados ainda fortes da economia norte-americana.
“Se no começo do ano o mercado esperava sete cortes de 0,25 p.p. pelo Fed, agora a estimativa é que ele só reduza as taxas em dezembro ou um ou dois meses antes. Só isso já justificaria o mundo virar de cabeça para baixo”, afirmou.
Deterioração do ambiente fiscal
Outro fator importante na decisão do BC foi a deterioração do ambiente fiscal brasileiro. Entre os pontos citados pelos especialistas estão:
A mudança da meta fiscal para 2025;
A troca da presidência da Petrobras; e
Dúvidas sobre a capacidade do governo em alcançar o equilíbrio fiscal.
“Não houve, necessariamente, uma terrível piora nos números fiscais deste ano. Então não é necessariamente uma deterioração fiscal do país, mas uma piora do ambiente fiscal, no qual se adicionou muita incerteza à frente”, disse Gardimam.
Em abril desse ano, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou uma mudança na projeção fiscal do Brasil. A nova previsão passou a ser de déficit zero para 2025 — e não mais de superávit de 0,5% do Produto Interno Bruto (PIB), como previsto até o ano passado.
Na leitura do mercado, a mudança na meta significa abrir mais espaço para gastos – mesmo em um cenário de dificuldade do governo em aumentar as receitas e apenas no segundo ano de existência do novo arcabouço fiscal.
Além disso, a “fritura” do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, após derrotas recentes do governo com o Congresso, também tem pesado no mercado financeiro, que continua a questionar a capacidade do ministro de concretizar a agenda econômica e alcançar o equilíbrio fiscal necessário no país.
“Foi uma mudança na meta e, sobretudo, o questionamento de uma estratégia [de aumento de impostos]. Não dá pra passar muito tempo com uma estratégia fiscal baseada exclusivamente em aumento de imposto. Há um limite”, afirmou o economista da Ágora, sinalizando a necessidade de corte de gastos por parte do governo.
DEBATE: O TAMANHO DO RISCO FISCAL
E quais foram os recados do BC para o futuro da Selic?
Em comunicado divulgado nesta quarta-feira, o Copom afirmou que a conjuntura atual já sinaliza um processo desinflacionário mais lento e indica “ampliação da desancoragem das expectativas de inflação” em meio a um cenário global desafiador.
Esse cenário, de acordo com o colegiado, “demanda serenidade e moderação na condução da política monetária” por parte da instituição.
Ainda no comunicado, o Copom também ressaltou que decidiu, com unanimidade, interromper o ciclo de queda de juros, destacando que o cenário global incerto e o cenário doméstico marcado por resiliência na atividade, elevação das projeções de inflação e expectativas desancoradas demandam maior cautela.
"A política monetária deve se manter contracionista por tempo suficiente em patamar que consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas", afirmaram os diretores.
O Comitê ainda reforçou que se manterá vigilante e relembrou que "eventuais ajustes futuros na taxa de juros serão ditados pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta".