Dólar opera em alta e bate R$ 5,47 à espera de decisão sobre taxa Selic; Ibovespa cai

Os profissionais que abandonaram indústria da carne para abrir negócios veganos
No dia anterior, a moeda norte-americana avançou 0,22%, cotada a R$ 5,4335. O principal índice acionário da bolsa de valores brasileira subiu 0,41%, aos 119.630 pontos. Expectativa por juros faz dólar subir
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O dólar opera em alta nesta quarta-feira (19), e já bateu o nível dos R$ 5,45 nas primeiras horas de pregão, enquanto investidores aguardam pela reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central do Brasil (BC).
A expectativa é que o Copom mantenha a Selic, taxa básica de juros, inalterada em 10,50% ao ano, em um momento em que a inflação volta a acelerar no país, puxada por alimentos e dólar alto.
Já o Ibovespa, principal índice acionário da bolsa de valores brasileira, a B3, opera em queda puxada pelos mesmos motivos.
Campos Neto, aborto, taxa das blusinhas, corte de gastos: veja os principais pontos da entrevista de Lula à CBN
Veja abaixo o resumo dos mercados.
Dólar
Às 10h45, o dólar subia 0,65%, cotado a R$ 5,4686. Na máxima do dia, já bateu R$ 5,4701. Veja mais cotações.
No dia anterior, a moeda norte-americana subiu 0,22%, cotada a R$ 5,4335. Na máxima do dia, chegou a R$ 5,4444. Com o resultado, segue no nível mais alto desde 4 de janeiro de 2023, quando encerrou o dia em R$ 5,4523.
Com o resultado, acumulou altas de:
0,96% na semana;
3,51% no mês;
11,97% no ano.

Ibovespa
No mesmo horário, o Ibovespa caía 0,43%, aos 119.113 pontos.
Na véspera, o índice fechou com alta de 0,41%, aos 119.630 pontos.
Com o resultado, acumulou quedas de:
0,03% na semana;
2,02% no mês;
10,85% no ano.
Entenda o que faz o preço do dólar subir ou cair
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O que está mexendo com os mercados?
O grande destaque do dia fica com a reunião do Copom. A expectativa geral é que o BC mantenha os juros em 10,50% ao ano, mas o mercado aguarda mais detalhes que serão divulgados no comunicado da instituição após o encontro.
Investidores ainda repercutem declarações feitas ontem pelo presidente Lula, em que voltou a criticar a postura do BC em relação aos juros, afirmando que o país não precisa de uma taxa elevada.
"Temos situação que não necessita essa taxa de juros. Taxa proibitiva de investimento no setor produtivo. É preciso baixar a taxa de juros compatível com a inflação. Inflação está controlada. Vamos trabalhar em cima do real", completou.
Lula disse que o BC é a "única coisa desajustada" no Brasil e que o presidente da instituição, Roberto Campos Neto, "trabalha para prejudicar o país".
"Só temos uma coisa desajustada neste país: é o comportamento do Banco Central. Essa é uma coisa desajustada. Presidente que tem lado político, que trabalha para prejudicar o país. Não tem explicação a taxa de juros estar como está", afirmou Lula, em entrevista à Rádio CBN.
Sobre o presidente do BC, Lula disse que Roberto Campos Neto tem pretensões políticas e sugeriu que ele pode assumir um cargo no Governo do Estado de São Paulo quando seu mandato acabar: "A quem esse rapaz é submetido? Como vai a festa em SP quase assumindo candidatura a cargo no governo de SP? Cadê a economia dele?", questionou.
Vale lembrar que o mandato de Campos Neto acaba em 2024 e que, desde 2021, a legislação brasileira determina a autonomia do BC, que deve tomar suas decisões sem interferência política. No entanto, Lula afirmou que vai indicar para a presidência da instituição alguém com "compromisso com o crescimento do país".
A legislação determina que o presidente e os diretores do BC terão mandatos de 4 anos não coincidentes com a presidência da República – um novo presidente assume o BC, então, no terceiro ano de mandato de cada presidente da República.
Cabe ao presidente da república indicar nomes para o comando do BC, mas estes só serão aprovados com aval do Senado Federal.
'Só temos uma coisa desajustada no Brasil: é o comportamento do Banco Central', diz Lula
Junto a isso, pesa a incerteza fiscal sobre o Brasil. Na última semana, falas do presidente Lula aumentaram a percepção de que o governo não conseguirá reduzir seus gastos, o que fez disparar o preço do dólar.
Na entrevista à CBN, Lula também foi questionado sobre corte de gastos do governo, outr ponto de tensão nos mercados nos últimos dias. Ele afirmou que o governo prepara uma proposta de Orçamento para encaminhar ao Congresso, mas não deu detalhes sobre redução de despesas.
Perguntado sobre gastos com previdência, despesas com saúde e educação e aposentadoria de militares, Lula disse que "nada é descartável".
Ontem, em entrevista a jornalistas após reunião com o presidente Lula para analisar as contas do governo e preparar a elaboração do Orçamento de 2025, os ministros da Fazenda, Fernando Haddad e do Planejamento, Simone Tebet, afirmaram que o nível elevado de renúncias fiscais na conta do governo federal chamou a atenção do presidente.
"São duas grandes preocupações: o crescimento dos gastos da Previdência e da renúncia tributária. E o aumento dos gastos da Previdência está relacionado também ao aumento das renúncias tributárias", disse Tebet.
"Esses números foram apresentados ao presidente. Ele ficou extremamente mal impressionado com o aumento dos subsídios", acrescentou a ministra.
Além disso, outro fator que tem impulsionado o dólar nas últimas semanas é a perspectiva de juros altos por mais tempo nos Estados Unidos. Analistas previam que o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) deveria iniciar um ciclo de corte nas taxas no começo do ano, o que não aconteceu.
Agora, o mercado espera que isso ocorra somente uma vez nos últimos três meses de 2024, tendo em vista que a economia dos Estados Unidos se mostrou resiliente durante todo o primeiro semestre.

Dólar opera em alta e bate os R$ 5,46 à espera de decisão sobre taxa Selic

Os profissionais que abandonaram indústria da carne para abrir negócios veganos
No dia anterior, a moeda norte-americana avançou 0,22%, cotada a R$ 5,4335. O principal índice acionário da bolsa de valores brasileira subiu 0,41%, aos 119.630 pontos. Expectativa por juros faz dólar subir
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O dólar opera em alta nesta quarta-feira (19), tendo batido o nível dos R$ 5,45 já nas primeiras horas de pregão. Investidores aguardam pela reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central do Brasil (BC).
A expectativa é que o Copom mantenha a Selic, taxa básica de juros, inalterada em 10,50% ao ano, em um momento em que a inflação volta a acelerar no país, puxada por alimentos e dólar alto.
A decisão também vem em um momento de tensões entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o Banco Central. Na véspera, o presidente fez críticas à gestão da instituição. (veja mais abaixo)
Campos Neto, aborto, taxa das blusinhas, corte de gastos: veja os principais pontos da entrevista de Lula à CBN
O Ibovespa, principal índice acionário da bolsa de valores brasileira, operava em queda. O feriado de Juneteenth nos Estados Unidos, também deve deixar os negócios com volume reduzido nesta quarta-feira.
Veja abaixo o resumo dos mercados.
Dólar
Às 10h13, o dólar subia 0,51%, cotado a R$ 5,4612. Na máxima do dia, já bateu R$ 5,4622. Veja mais cotações.
No dia anterior, a moeda norte-americana subiu 0,22%, cotada a R$ 5,4335. Na máxima do dia, chegou a R$ 5,4444. Com o resultado, segue no nível mais alto desde 4 de janeiro de 2023, quando encerrou o dia em R$ 5,4523.
Com o resultado, acumulou altas de:
0,96% na semana;
3,51% no mês;
11,97% no ano.

Ibovespa
Já o Ibovespa operava em queda de 0,31%, aos 119.259 pontos.
Na véspera, o índice fechou com alta de 0,41%, aos 119.630 pontos.
Com o resultado, acumulou quedas de:
0,03% na semana;
2,02% no mês;
10,85% no ano.
Entenda o que faz o preço do dólar subir ou cair
DINHEIRO OU CARTÃO? Qual a melhor forma de levar dólares em viagens?
DÓLAR: Qual o melhor momento para comprar a moeda?
O que está mexendo com os mercados?
O grande destaque do dia fica com a reunião do Copom. A expectativa geral é que o BC mantenha os juros em 10,50% ao ano, mas o mercado aguarda mais detalhes que serão divulgados no comunicado da instituição após o encontro.
Além disso, investidores ainda repercutem as declarações feitas ontem pelo presidente Lula, que voltou a criticar a postura do BC em relação aos juros, afirmando que o país não precisa de uma taxa elevada.
"Temos situação que não necessita essa taxa de juros. Taxa proibitiva de investimento no setor produtivo. É preciso baixar a taxa de juros compatível com a inflação. Inflação está controlada. Vamos trabalhar em cima do real", completou.
Lula ainda disse que o BC é a "única coisa desajustada" no Brasil e que o presidente da instituição, Roberto Campos Neto, "trabalha para prejudicar o país".
"Só temos uma coisa desajustada neste país: é o comportamento do Banco Central. Essa é uma coisa desajustada. Presidente que tem lado político, que trabalha para prejudicar o país. Não tem explicação a taxa de juros estar como está", afirmou Lula, em entrevista à Rádio CBN.
Sobre o presidente do BC, Lula disse que Campos Neto tem pretensões políticas e sugeriu que ele pode assumir um cargo no Governo do Estado de São Paulo quando seu mandato acabar: "A quem esse rapaz é submetido? Como vai a festa em SP quase assumindo candidatura a cargo no governo de SP? Cadê a economia dele?", questionou.
Vale lembrar que o mandato de Campos Neto acaba em 2024 e que, desde 2021, a legislação brasileira determina a autonomia do BC, que deve tomar suas decisões sem interferência política. No entanto, Lula afirmou que vai indicar para a presidência da instituição alguém com "compromisso com o crescimento do país".
A legislação determina que o presidente e os diretores do BC terão mandatos de 4 anos não coincidentes com a presidência da República – um novo presidente assume o BC, então, no terceiro ano de mandato de cada presidente da República.
Cabe ao presidente da república indicar nomes para o comando do BC, mas estes só serão aprovados com aval do Senado Federal.
'Só temos uma coisa desajustada no Brasil: é o comportamento do Banco Central', diz Lula
Junto a isso, pesa a incerteza fiscal sobre o Brasil. Na última semana, falas do presidente Lula aumentaram a percepção de que o governo não conseguirá reduzir seus gastos, o que fez disparar o preço do dólar.
Na entrevista à CBN, Lula também foi questionado sobre corte de gastos do governo, outr ponto de tensão nos mercados nos últimos dias. Ele afirmou que o governo prepara uma proposta de Orçamento para encaminhar ao Congresso, mas não deu detalhes sobre redução de despesas.
Perguntado sobre gastos com previdência, despesas com saúde e educação e aposentadoria de militares, Lula disse que "nada é descartável".
Na segunda-feira, em entrevista a jornalistas após reunião com o presidente Lula para analisar as contas do governo e preparar a elaboração do Orçamento de 2025, os ministros da Fazenda, Fernando Haddad e do Planejamento, Simone Tebet, afirmaram que o nível elevado de renúncias fiscais na conta do governo federal chamou a atenção do presidente.
"São duas grandes preocupações: o crescimento dos gastos da Previdência e da renúncia tributária. E o aumento dos gastos da Previdência está relacionado também ao aumento das renúncias tributárias", disse Tebet.
"Esses números foram apresentados ao presidente. Ele ficou extremamente mal impressionado com o aumento dos subsídios", acrescentou a ministra.
Por fim, outro fator que tem impulsionado o dólar nas últimas semanas é a perspectiva de juros altos por mais tempo nos Estados Unidos. Analistas previam que o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) deveria iniciar um ciclo de corte nas taxas no começo do ano, o que não aconteceu.
Agora, o mercado espera que isso ocorra somente uma vez nos últimos três meses de 2024, tendo em vista que a economia dos Estados Unidos se mostrou resiliente durante todo o primeiro semestre.

Cartão de crédito: clientes poderão fazer portabilidade e fatura será mais clara a partir de 1º de julho; entenda

Os profissionais que abandonaram indústria da carne para abrir negócios veganos
Mudanças foram determinadas em dezembro pelo CMN. Clientes poderão fazer, sem custos, portabilidade do saldo devedor de uma instituição para outra, que ofereça melhores condições. Novas regras para cartão de crédito entram em vigor a partir de 1º de julho
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Os clientes com dívidas no cartão de crédito rotativo, a linha de crédito mais cara do mercado, poderão fazer a portabilidade gratuita do saldo devedor de uma instituição financeira para outra que ofereça melhores condições para o pagamento.
Além disso, também será exigida mais transparência no formato das faturas.
As mudanças – determinadas em dezembro de 2023 pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) – entram em vigor a partir de 1º de julho.
"Por exemplo, você vai buscar uma instituição financeira que te ofereça juros menores ou melhores condições de pagamento, e pedir a ela uma proposta. Com isso em mãos, você pode checar se o banco onde você tem a dívida original quer fazer uma contraproposta", informou o Banco Central em uma rede social.
No caso da portabilidade das dívidas do cartão de crédito, ficou definido:
a proposta da nova instituição deve ser realizada por meio de uma operação de crédito consolidada, ou seja, que contemple restruturação da dívida antiga;
a instituição credora original que realizar uma contraproposta deve apresentar ao cliente, no mínimo, uma proposta de operação de crédito consolidada de mesmo prazo da operação proposta pela outra, para fins de comparação dos custos.
caso aconteça, a portabilidade do crédito deve ser feita de forma gratuita.
Mais transparência
De acordo com o BC, também a partir de julho do ano que vem, as faturas de cartão de crédito deverão passar a ter as seguintes informações:
uma área de destaque, onde deve estar apenas as informações essenciais para a tomada de decisão pelo titular da conta: valor total; data de vencimento da fatura do período vigente e limite total de crédito;
uma área para alternativas de pagamento, onde deve estar apenas as informações que possibilitem ao titular da conta pós-paga comparar as opções disponibilizadas para liquidar sua dívida; nessa área, devem estar, exclusivamente, as seguintes informações: valor do pagamento mínimo obrigatório;
valor dos encargos a ser cobrado no período seguinte no caso de pagamento mínimo; opções de financiamento do saldo devedor da fatura, apresentadas na ordem do menor para o maior valor total a pagar pelo titular; e taxas efetivas de juros mensal e anual, além do Custo Efetivo Total (CET), relativos às operações de crédito passíveis de contratação;
uma área com informações complementares, onde devem estar as informações como lançamentos realizados na conta de pagamento, por evento; identificação das operações de crédito contratadas; valores relativos aos juros e encargos cobrados no período vigente; valor total de juros e encargos financeiros cobrados referentes às operações de crédito contratadas;
identificação das tarifas cobradas; data de encerramento dos lançamentos na fatura do período seguinte; identificação dos usuários finais beneficiários; limites individuais para cada tipo de operação; saldo total consolidado das operações futuras, além de outras que a instituição emissora do instrumento de pagamento julgar conveniente.
"A resolução ainda determina, para uma maior transparência das informações, que os estabelecimentos em que o detentor do cartão tenha feito compras seja identificado pelo nome fantasia na fatura; e que as transações de pagamento parceladas devem ser apresentadas na fatura em até dois dias úteis a partir da data de abertura da fatura do período, com vistas a maior clareza das obrigações futuras ao titular da conta de pagamento pós-paga", informou o Banco Central.
Também foi determinado que as emissoras de cartão de crédito ainda deverão enviar gratuitamente ao titular da conta, por meio de canais eletrônicos, informações sobre:
o vencimento da fatura, com pelo menos dois dias de antecedência, incluindo esclarecimentos de que o não pagamento do valor total da fatura resulta na cobrança de juros e encargos;
as consequências do eventual não pagamento do valor obrigatório indicado na fatura, do atraso no pagamento, bem como orientações para acesso às informações sobre as formas e opções disponíveis para a liquidação, inclusive antecipadamente, e o financiamento do saldo devedor da fatura, a partir do dia útil imediatamente posterior à data de vencimento da fatura;
o início de eventual parcelamento do saldo do crédito rotativo e da fatura correspondente;
o início da cobrança da tarifa de anuidade, após eventual período de isenção da cobrança, se houver, com pelo menos um mês de antecedência contado da data de início da cobrança.
Linha de crédito mais cara do mercado
O cartão de crédito rotativo é a linha de crédito mais cara do mercado e deve ser evitada. O crédito é acionado por quem não realiza o pagamento o valor total da fatura na data do vencimento.
Em abril, de acordo com informações do Banco Central, os juros médios cobrados pelos bancos nas operações com cartão de crédito rotativo somaram de 423,5% ao ano.
A recomendação é que os clientes bancários paguem todo o valor da fatura do cartão de crédito mensalmente.
Os números também mostram relativa estabilidade nas concessões (novos empréstimos) no rotativo do cartão de crédito. Em abril, foram contratados R$ 30,5 bilhões nessa modalidade de crédito. Patamar pouco acima à média de 2022 (R$ 28,38 bilhões por mês) e de 2023 (R$ 30 bilhões por mês).
Limitação da dívida
Entenda novas regras para dívidas com cartão de crédito
Abril foi o quarto mês de validade da decisão que limitou a dívida total no cartão de crédito – que entrou em vigor em janeiro deste ano.
Pela nova regra, por exemplo, se a dívida inicial for de R$ 100, o débito total, com a cobrança de juros e encargos, não poderá exceder R$ 200. O custo do Imposto Sobre Operações Financeiras (IOF), entretanto, está fora desse cálculo. A norma vale somente para débitos contraídos a partir de janeiro.
Em janeiro, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, indicou que a solução adotada pelo CMN de limitar a dívida do cartão de crédito – que já havia sido aprovada anteriormente pelo Congresso Nacional e sancionada pelo presidente Lula – seria temporária.
A discussão sobre os juros do cartão de crédito rotativo também tem gerado atrito entre os bancos e credenciadoras independentes, as chamadas maquininhas.
Como pano de fundo das discussões, está o parcelado sem juros no cartão de crédito, com prazos longos, questionado pelos bancos, mas defendido pela equipe econômica e pelas credenciadores independentes.

Boca Rosa quer faturar R$ 1 bilhão até 2030 e bater de frente com gigantes nacionais

Os profissionais que abandonaram indústria da carne para abrir negócios veganos
Empresária Bianca Andrade lança linha de maquiagem e diz que nova identidade visual representa o amadurecimento da Boca Rosa, que vive um novo conceito. Boca Rosa lança linha própria de maquiagem, com base, bastão de cor e pó compacto.
Fábio Tito/g1
Quem acompanha o universo das redes sociais, sobretudo o nicho de beleza, se surpreendeu nas últimas semanas com uma mudança radical na identidade visual da Boca Rosa, marca de maquiagens da influenciadora Bianca Andrade. Lembrada pelos tons fortes e coloridos, como rosa choque e amarelo, a marca aposta agora nas cores cinza, preto e branco.
Após o encerramento do contrato de cinco anos com a Payot, tradicional empresa de cosméticos brasileira, em outubro do ano passado, Bianca montou uma equipe para relançar a Boca Rosa, com uma proposta bastante diferente do que era antes, em um tempo recorde de oito meses.
Das paletas de sombras e batons bem coloridos da era da união com a Payot, Bianca passou a apostar em uma linha de maquiagens mais prática, com uma menor variedade de produtos, mas com o objetivo de serem itens multifuncionais, que "acompanham as necessidades da mulher brasileira".
Nesses oito meses de preparação para o lançamento da nova marca, Bianca conta que já investiu R$ 17 milhões.
O valor, segundo a influenciadora, foi distribuído principalmente em pesquisa de mercado e elaboração de maquiagens que atendam diferentes tonalidades de peles — o primeiro produto lançado foi uma base em bastão, disponível em 50 tons.
Sobre os valores, Bianca afirma que não quis recorrer a um sócio investidor e, por isso, desembolsou todo o investimento do próprio bolso.
"Para eu não me descapitalizar, eu fiz alguns acordos com bancos parceiros. Teve muita estratégia para a gente fazer esse investimento de forma segura e sem ser muito agressivo", alega a empresária.
Outros R$ 13 milhões, também de capital próprio, ainda serão utilizados para investir na marca em 2024.
E com um investimento milionário, os objetivos também são grandes. Bianca Andrade espera faturar R$ 120 milhões só no segundo semestre deste ano, e outros R$ 300 milhões em 2025 — um crescimento de 30%.
As expectativas são ainda maiores em um horizonte mais longo: a empresária enxerga um faturamento de R$ 1 bilhão até 2030, quando a Boca Rosa terá seis anos de operação.
Bianca já investiu R$ 17 milhões de capital próprio na nova Boca Rosa
Em entrevista exclusiva ao g1, Bianca Andrade conta como pretende alcançar essa faturamento com a marca recém-lançada e traz detalhes sobre a mudança do conceito da Boca Rosa. Veja os destaques a seguir.
'O rebranding que a gente tá fazendo não é sobre identidade visual, é sobre conceito'
‘O rebranding que a gente tá fazendo não é sobre identidade visual, é sobre conceito’
Para Bianca Andrade, a nova identidade visual de Boca Rosa acompanha o amadurecimento da influenciadora como mulher, que viralizou com vídeos de maquiagem no Youtube há mais de uma década, quando ainda era adolescente.
Hoje com 29 anos, ela destaca que é mãe e empresária e que já não sentia mais que as cores mais fortes e vibrantes representavam sua personalidade.
Foi daí que nasceu a ideia de transformar a marca em um símbolo de produtos práticos, para que mulheres consigam usar "na correria do dia a dia".
Com isso, o foco da empresária ficou em maquiagens que possam ser aplicadas de forma rápida, com itens multifuncionais e usando o próprio dedo para espalhar. Bianca cita como exemplo um bastão com um produto colorido, que pode ser utilizado como blush, batom ou sombra para olhos.
Para Bianca Andrade, a nova identidade visual de Boca Rosa acompanha o amadurecimento da influenciadora como mulher.
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Dessa forma, a nova identidade visual representa o conceito de praticidade. Além disso, Andrade afirma que queria embalagens neutras para que o destaque ficasse com os produtos.
Isso porque, segundo a empresária, "mulheres não compram mais maquiagem por uma embalagem bonita, mas sim pela qualidade."
“O rebranding que estamos fazendo não é sobre uma identidade visual, é sobre um conceito, quem a gente é de fato. Cada detalhe que a gente desenhou, nós colocamos o que aquelas seguidoras mais antigas sentiam falta. Elas queriam ver a nova Bianca, que é a Bianca empresária, mais madura, mãe. Elas viram que eu não era mais a Bianca das embalagens coloridas e divertidas", relata.
"A marca tem uma identidade básica, objetiva, descomplicada, prática. Essa é a Boca Rosa. A identidade visual dividiu opiniões, mas fica o convite para a galera entender um pouco mais dos nossos produtos", declara a empresária.
Público-alvo da Boca Rosa mudou
Para Bianca, pública da Boca Rosa amadureceu junto com ela
Segundo a influenciadora, seu público já não é mais o mesmo de 13 anos atrás, época em que ela começou a postar vídeos na internet.
Naquele período, diz Bianca, quem a acompanhava eram profissionais de maquiagem. Hoje, o público mudou e se ampliou para uma quantidade maior de mulheres, que ela chama de "mulheres reais".
Com isso, a empresária enxergou que o público-alvo de sua empresa também não era mais restrito aos maquiadores e pessoas que utilizam a maquiagem para diversão, o que a fez olhar com mais atenção para o uso dos produtos no dia a dia de trabalho.
“A gente investiu muito em pesquisas sobre as nossas mulheres brasileiras. Com isso, descobrimos que a maior parte do meu público não é formado por profissionais de maquiagem, são mulheres reais, mulheres que querem sentir essa autoestima de estar maquiada, bem consigo mesma, mas nem sempre ela tem facilidade na hora de se maquiar”, afirma.
"Agora eu tenho vários públicos me acompanhando, pois quando a gente fura a bolha é isso que acontece. Tem as minhas fãs que estão desde do começo, aquelas que já usaram batom rosa todos os dias e hoje já não usam mais. É a nossa história. Essas mulheres hoje não são mais as mesmas que começaram comigo. Elas começaram a se maquiar comigo adolescentes e hoje já são mulheres, empresárias".
‘Minha maior concorrência não são minhas amigas influenciadoras, são as marcas tradicionais’
‘Minha maior concorrência não são minhas amigas influenciadoras, são as marcas tradicionais'
Nos últimos anos, diversas influenciadoras entraram no mercado de cosméticos ao lançarem suas próprias marcas de maquiagem e produtos para cabelo.
Além de Bianca Andrade, com a Boca Rosa, outras populares são Bruna Tavares, Mari Maria, Mari Saad, Camila Coutinho e Virgínia Fonseca, com WePink, apenas para citar alguns exemplos.
Bianca, no entanto, não considera que as marcas de influenciadoras são as maiores concorrentes da Boca Rosa, mas, sim, as empresas mais tradicionais do mercado nacional. As maiores companhias de beleza do Brasil, segundo levantamento de 2022 da Euromonitor, são Natura, Unilever, Avon, P&G e Grupo Boticário.
"Minha maior concorrência não são as minhas amigas influenciadoras. São as grandes marcas nacionais. A gente tem que se unir, formar uma potência, para nós alcançarmos esse espaço que ainda é todo deles. Deles porque são homens [que comandam as empresas de beleza]", declara.
'Minha maior concorrência não são as minhas amigas influenciadoras. São as grandes marcas nacionais', diz Boca Rosa
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"Eu tenho uma boa relação com Bruna Tavares, Camila Coutinho e Mari Saad, por exemplo. Mesmo que a gente divida o público, isso não é um problema para nós, pois cada um dos nossos negócios tem uma característica. Isso é muito revolucionário", conta Bianca.
A empresária também afirma que o mercado de cosméticos mudou por conta do trabalho das influenciadoras, na medida em que elas precisaram criar produtos de muita qualidade para ganharem a aprovação do público e não prejudicarem as suas carreiras.
"Quando a gente lança um produto que não é bom é a nossa carreira que está em jogo", diz Bianca.
Bianca conta que o mais difícil para lançar Boca Rosa foi trazer preços acessíveis
Bianca conta que o mais difícil para lançar Boca Rosa foi trazer preços acessíveis
Os primeiros produtos da nova Boca Rosa terão valores entre R$ 59,90 e R$ 89,90.
E Bianca revela que a tarefa mais difícil para o lançamento da marca foi, justamente, decidir os valores dos produtos com sua equipe.
Isso por conta do alto custo de produção e elevados impostos no Brasil, que encarecem os valores, ao mesmo tempo em que a empresária fazia questão de diminuir os preços para tornar seus produtos mais acessíveis.
"A maquiagem pode ser democrática para todo mundo. Mas trazer isso com qualidade é um grande desafio para o Brasil, porque o preço é um fator determinante para a brasileira comprar um cosmético", diz a influenciadora.
Boca Rosa: 'A maquiagem pode ser democrática para todo mundo'
Fábio Tito/g1
Bianca conta que "acredita na venda em quantidade" mais do que no lucro pelos preços altos e, por isso, estudou até chegar nos menores valores, que fossem o suficiente para não desequilibrar os negócios, mas acessível para o máximo de pessoas possível.
A empresária explica que suas estimativas iniciais são de que a principal margem de lucro da Boca Rosa venha das vendas B2B — que são as vendas da marca realizadas em outras lojas, como as de departamento multimarcas.
A projeção é que este canal corresponda por 70% do faturamento, enquanto as vendas pelo e-commerce — uma novidade para a marca — respondam por 30%.
*Estagiária sob supervisão de Bruna Miato e Isabela Bolzani

Os profissionais que abandonaram indústria da carne para abrir negócios veganos

Os profissionais que abandonaram indústria da carne para abrir negócios veganos
Mercado de alimentos de origem exclusivamente vegetal está em crescimento em todo o mundo. Os profissionais que abandonaram indústria da carne para abrir negócios veganos
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Em 2016, Andy Shovel sentia que estava sem rumo.
Ele e seu sócio Pete Sharman venderam sua empresa de hambúrgueres no Reino Unido e sentiam que seu próximo negócio precisava ser mais sustentável.
Primeiro, eles pensaram em gestão de reciclagem de resíduos e carros esporte elétricos. Até que as discussões se voltaram para as proteínas alternativas.
A dupla percebeu que esta é uma indústria em crescimento e que eles poderiam fazer uso da sua experiência na área alimentícia. Os dois começaram então a trabalhar em pesquisa e desenvolvimento.
Alguns meses depois, a namorada de Shovel mostrou a ele um vídeo com pintinhos sendo abatidos na indústria de produção de ovos.
"Achei que fosse algum tipo de vídeo alarmista e que eu não deveria assistir", ele conta. "Acho que, como muitas pessoas, eu tinha o que é chamado de dissonância cognitiva."
A dissonância cognitiva é um viés psicológico que surge quando as pessoas tentam defender duas ou mais crenças contraditórias ao mesmo tempo – neste caso, "eu gosto de animais" e "eu gosto de comer carne".
"Ou seja, eu basicamente tinha uma espécie de desconhecimento deliberadamente autoinfligido sobre o que acontece nos bastidores da nossa indústria alimentícia", explica Shovel. E o vídeo dos pintinhos, para ele, trouxe uma reviravolta.
Enquanto trabalhava nos planos para o novo negócio com bases vegetais, "parti naquela época para uma jornada pessoal". E foi assim que, de amante do KFC e ex-funcionário do McDonald's, Shovel passou a ser vegetariano, depois vegano, e defensor apaixonado do bem-estar animal.
Essas jornadas paralelas, pessoal e profissional, levaram vários anos. Shovel e Sharman acabaram fundando a THIS, uma marca de proteína vegetal que pretende atingir as pessoas que comem carne, com seu marketing provocador, mas sem julgamento.
"Determinei logo no começo que, basicamente, a melhor forma de desarmar a defensiva das pessoas… é tentar fazê-las rir", conta Shovel.
Andy Shovel não é o único empreendedor vegano com passagem pela indústria da carne. A empresa produtora de frango vegetal TiNDLE foi fundada pelo alemão Timo Recker e por um brasileiro, André Menezes. Recker vem de uma família do setor de carne processada e Menezes trabalhou para distribuidores de carne.
As marcas The Vegetarian Butcher e Those Vegan Cowboys foram fundadas pelo fazendeiro holandês de nona geração Jaap Korteweg. Ele decidiu abandonar a criação de animais depois que a febre suína e a doença da vaca louca atingiram a Holanda.
O frango da TiNDLE é produzido com uma combinação de gordura e proteínas de origem vegetal
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E estes empresários não são os únicos a reavaliar seu trabalho com animais para alimentação. Existem criadores de gado que também estão mudando de ideia – como o criador britânico que passou a cultivar vegetais com métodos de produção totalmente veganos.
Mas, para mergulhar de cabeça nos chamados "empregos humanos" – que beneficiam tanto as pessoas, quanto os animais – é preciso encontrar apoio social e financeiro.
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Substituindo animais por plantas
Para a americana Morgan Salis-Deany, "muitas vezes as mudanças vêm de um acontecimento traumático".
Foi o que aconteceu na sua família. Uma combinação de dependência, suicídio e ainda outra morte fez com que eles enfrentassem decisões difíceis sobre o que fazer com sua fazenda de 323 hectares, ou cerca de 3,2 km², no Texas (EUA).
O avô e os tios de Salis-Deany criavam vacas e galinhas em níveis industriais. Eram cerca de 1 mil cabeças de gado e 12 aviários com mais de 55 mil galinhas em cada um.
A escala "é quase inimaginável", ela conta. E as memórias sensoriais da sua infância permanecem nítidas até hoje.
"Eu me lembro de andar por aqueles aviários com dificuldade para respirar, devido aos níveis de amônia", ela conta, "e de ver as aves no chão sem poderem se levantar porque o peso do corpo era grande demais."
Para ela, a mudança de moradia para cursar a universidade na Califórnia foi como entrar em um mundo novo.
Depois da morte do avô, seus tios não conseguiram dar conta da carga de trabalho. E também surgiram dificuldades financeiras.
Por isso, sua mãe e a própria Salis-Deany decidiram voltar para o Texas entre 2017 e 2019. Mas elas queriam que tudo fosse diferente.
A família já se considerava amiga dos animais há muito tempo. Mas havia uma distinção entre o amor aos seus cães e cavalos e o trabalho que elas desempenhavam para viver.
Salis-Deany e sua mãe haviam viajado e dedicado algum tempo ao resgate de animais. E a combinação das suas convicções, pressões financeiras e as dificuldades da criação de galinhas fizeram com que a família decidisse abandonar a pecuária.
Para isso, elas precisaram fazer um empréstimo, mas também tiveram aliados para apoiá-las.
Durante o processo, Salis-Deany contou com o auxílio da ONG Mercy for Animals. A organização administra o programa chamado Transfarmation, nome que mistura a palavra farm (fazenda, em inglês) com a palavra transformation (que significa transformação), sugerindo assim a transformação de fazendas.
O programa oferece assistência técnica e financeira para a transição de fazendas que praticam a pecuária industrial nos Estados Unidos.
Existem projetos similares em outros países. Na Suíça, por exemplo, os fazendeiros estão ajudando uns aos outros para substituir a pecuária leiteira pelo cultivo de aveia.
Mas os programas de transição de fazendas costumam ser realizados em pequena escala. Muitas vezes, é difícil atrair fazendeiros interessados em quantidade suficiente ou fazer com que o trabalho seja economicamente viável.
O projeto Transfarmation trabalhou com 12 fazendeiros em um período de cinco anos, segundo seu diretor, Tyler Whitley. "Trabalhamos com um pequeno número de fazendeiros, de forma muito, muito intensa."
Para isso, é preciso gerenciar com cuidado as expectativas.
"Quando você faz a transição de um negócio que já dura 20 anos para fazer algo totalmente novo, esta mudança pode ser muito assustadora", reconhece Whitley. E mudar para um tipo de fazenda totalmente diferente é um processo complexo.
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ALAMY via BBC
Os fazendeiros geralmente entram em contato com o programa depois de conversar com suas famílias, quando já estão cansados do que estão fazendo.
Seus motivos podem ser diversos, segundo Whitley. Eles incluem problemas financeiros; desejo de melhor qualidade de vida; a busca de mais autonomia em relação aos contratos de produção, nos quais as grandes empresas fornecem os animais; e preocupações com o impacto ambiental ou as condições dos animais.
O projeto Transfarmation fornece informações sobre diversas possibilidades de subsistência e ajuda a testar diferentes usos da infraestrutura já existente nas fazendas, como cultivar cogumelos em aviários.
O programa também costuma conceder pequenos financiamentos, de US$ 10 mil a US$ 20 mil (cerca de R$ 53,5 mil a R$ 107 mil), para ajudar na transição.
A manutenção das dívidas é um problema importante e encontrar mercado para produtos especializados pode ser difícil. Mas Whitley relata que "todos os produtores com quem trabalhamos estão tendo lucro com suas empreitadas".
Ele também acredita que continuar produzindo alimentos permite que os fazendeiros mantenham seu senso de orgulho relacionado à sua identidade.
Salis-Deany certamente sente orgulho quando descreve as novas atividades desenvolvidas na fazenda da família. Agora, ela trabalha no resgate de animais do centro de resgate Let Love Life, destinado principalmente aos cães.
A fazenda começou a produzir cânhamo, que agora é seco nos antigos aviários, para ser transformado em óleo de canabidiol. E ela também está transformando outro aviário em uma operação de cultivo de flores.
Salis-Deany também tem um plano de longo prazo de hospedagem na fazenda.
Ela reconhece que existem riscos nesses planos tão diversificados, como a redução da lucratividade. Mas também haveria riscos se eles continuassem a gerenciar a fazenda como faziam anteriormente.
Ela tenta viver um dia de cada vez. E, a cada dia na fazenda, ela sente o cheiro de madressilva, sálvia e outras plantas, em vez dos odores da amônia das galinhas confinadas.
Salis-Deany vem observando cada vez mais aves e borboletas na fazenda. "Não vejo nada além de possibilidades."
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Como superar os obstáculos
No caso de Andy Shovel, a transição da indústria da carne para produtos de origem vegetal foi acompanhada por uma mudança radical de ideologia, o que o ajudou a também compreender a psicologia dos seus clientes.
Esta é uma das razões por trás da abordagem irreverente da THIS. Shovel acredita que ela pode ajudar a romper as defesas das pessoas em relação ao consumo de carne.
"Talvez todos nós aceitemos bem o terrível comportamento do nosso sistema alimentar porque achamos que é normal", afirma ele.
Para Shovel, o poder da normalização é enorme. Por isso, "é importante observar com novos olhos e simplesmente redefinir as normas".
Mas uma lição dessas transições para alimentos de origem vegetal é que apenas a ética das pessoas costuma ser suficiente. Ela normalmente ajuda se houver também uma razão prática para a mudança.
Uma dessas razões pode ser financeira. As dificuldades criadas pelas dívidas crônicas entre os fazendeiros "facilita muito o trabalho de tentar idealizar uma opção competitiva", segundo Tyler Whitley.
Shovel conta que o impulso inicial para mudar para produtos alternativos à carne foi o seu enorme potencial de mercado.
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GETTY IMAGES via BBC
Outra questão é a importância de manter o senso de comunidade depois de uma transição importante. Uma mudança radical que envolva a atividade de criação de animais, em que a identidade dos produtores é tão intimamente relacionada com a sua forma de vida, pode ser algo especialmente perturbador.
Morgan Salis-Deany conta que faz parte de um grande grupo de voluntários e funcionários no resgate de animais, mas também de uma comunidade maior para conseguir encontrar alguma base em comum.
Mas não tem sido fácil. Ela nunca se sentiu pertencente à região leste do Texas, onde ela percebe que "ainda existem muitas formas antigas de pensamento, muitos ideais conservadores".
Mas, mesmo nos Estados Unidos, até grupos politicamente polarizados podem se unir em torno da proteção dos animais de estimação.
Durante o processo de transição da sua família para abandonar a pecuária, Salis-Deany encontrou conforto no senso de comunidade existente em suas outras atividades, como o resgate de cães.
Tudo isso ajuda a evitar o risco de mergulhar demais em comunidades de nicho. Shovel tem consciência deste risco.
"O veganismo é uma área em que, eu acho, as câmaras de eco são extremamente frequentes."
Como muitos outros veganos, Shovel recebe muitas críticas por suas opiniões sobre os produtos de origem animal.
"Eu me sinto muito isolado, às vezes, quando o assunto é minha ideologia" de não usar produtos animais, explica ele. "É uma dissonância muito forte deixar de seguir as ideologias relativamente comuns para, de repente, passar a se sentir um alienígena."
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Mas existem espaços onde Shovel pode se sentir um pouco menos solitário. Ele estima que cerca de 10% dos funcionários da THIS sejam veganos – mais do que o índice médio do Reino Unido, de cerca de 4%. E ele também fundou recentemente uma ONG dedicada ao bem-estar animal.
Como parte da pequena rede de fazendeiros que trabalharam com o projeto Transfarmation, Salis-Deany também encontrou uma comunidade que consegue ajudá-la a se sentir menos isolada, embora seus participantes estejam espalhados pelos Estados Unidos.
"As comunidades de produtores podem ser muito pequenas", afirma Whitley. Por isso, para os fazendeiros participantes, a equipe do projeto Transfarmation "tenta fazer com que eles tenham possibilidade de acesso a conferências e outras oportunidades de formação de redes, para que não se sintam tão isolados".
Aqui, o elemento social é fundamental, como enfatiza a cientista da conservação Anne Toomey, da Universidade Pace de Nova York, nos Estados Unidos.
Para ela, "se houver formas de permitir que a comunidade ambiental demonstre que ser ambientalista é fazer parte de uma comunidade social, acho que pode ser algo muito poderoso".
Essas comunidades podem ser criadas online, como as redes de apoio a produtores orgânicos na internet.
Toomey acredita que "se as pessoas sentirem que fazem parte de algo e tiverem outras pessoas que possam encontrar para testar isso e aquilo", elas terão ajuda para superar as dificuldades.
Mas tudo isso envolve ouvir além das cisões sem fazer julgamentos, o que nem sempre é fácil colocar em prática.
Como diz Whitley, "esta é uma época de grandes mudanças e, por isso, é de grande auxílio se conseguirmos nos aproximar dos demais, buscando maior compreensão para podermos enfrentar juntos essas mudanças".
Leia a versão original desta reportagem (em inglês) no site BBC Future.
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