As apostas em IA que fizeram Microsoft e Nvidia ultrapassar Apple em valor de mercado podem ser uma bolha?

Cerca de R$ 10 bilhões do pacote de corte de gastos anunciado pelo governo dependem do Congresso
As duas empresas de tecnologia foram das primeiras a enxergar o potencial comercial da inteligência artificial. Sob a liderança de Jensen Huang, a Nvidia viu o preço das suas ações disparar
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A vida pode mudar num passe de mágica.
No mês passado, a Nvidia, fabricante de chips para softwares de inteligência artificial (IA), se tornou brevemente a empresa mais valiosa do mundo, ultrapassando a Microsoft, que por sua vez havia superado a Apple.
Quando esta notícia foi dada no palco de um evento da indústria tecnológica do qual participei em Copenhague, na Dinamarca, arrancou aplausos espontâneos da plateia.
Enquanto escrevo, a Nvidia está agora de volta ao segundo lugar, depois de uma queda no preço de suas ações ter reduzido seu valor de mercado para US$ 3 trilhões, em comparação com US$ 3,4 trilhões da Microsoft.
Dois fatores catapultaram estas duas empresas americanas de tecnologia ao topo: a inteligência artificial e a habilidade de prever o que viria pela frente.
A Microsoft começou a investir na OpenAI, a criadora do popular ChatGPT, em 2019. Enquanto o chefe da Nvidia, Jensen Huang, levou a empresa a desenvolver chips para IA muitos anos antes de a inteligência artificial ​​generativa entrar em cena.
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Ambas as empresas fizeram uma aposta de longo prazo no atual boom da inteligência artificial ​​— e até agora, valeu a pena, uma vez que a Apple, outrora na liderança, ficou para trás.
Mas quanto tempo isso vai durar?
A London Tech Week deste ano, evento anual da cena tecnológica do Reino Unido, poderia muito bem ter sido chamada de London IA Week. As letras IA estavam estampadas em todos os estandes, e foram pronunciadas em todos os discursos.
Encontrei Anne Boden, fundadora do Starling Bank, banco digital que se destaca no setor de fintech (tecnologia financeira). Ela estava muito empolgada.
"Achávamos que sabíamos quem eram os vencedores e os perdedores [na área de tecnologia]", ela me disse.
"Mas com a IA, estamos jogando os dados novamente".
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Boden acredita que está observando a revolução da inteligência artificial ​​remodelar o setor de tecnologia e quer fazer parte disso.
Naquela semana, também participei do Founders Forum, encontro anual de cerca de 250 empreendedores e investidores de alto nível. Com muito dinheiro, em outras palavras. É um evento confidencial, mas não acho que vou arrumar um problema ao dizer que grande parte do bate-papo também girou em torno da inteligência artificial.
Poucos dias depois, uma notícia do jornal Financial Times chamou minha atenção. "A maioria das ações consideradas vencedoras do boom da IA ​​caíram neste ano", dizia o texto, alegando que mais da metade das ações da "cesta de vencedoras da IA" do Citigroup haviam perdido valor em 2024.
A vida muda, de fato, num passe de mágica.
Anne Boden diz que a IA chacoalhou completamente o setor de tecnologia
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"Dado o quão alto o valor das empresas de tecnologia saltaram, passos em falso podem causar grandes oscilações nos preços das ações", adverte Susannah Streeter, responsável pelo departamento financeiro e de mercados da empresa de investimentos Hargreaves Lansdown.
"Assim como a bolha ponto.com, o entusiasmo excessivo corre o risco de se transformar em decepção."
Em 2023, você teria sido perdoado por pensar que qualquer coisa com a sigla IA garantiria a abertura de um canal lucrativo de financiamento, com investimentos inundando todas as coisas relacionadas à inteligência artificial.
Meu amigo Saurabh Dayal, baseado na Escócia, identifica projetos de IA com os quais sua empresa farmacêutica pode potencialmente colaborar.
Ele disse que logo se cansou das propostas enganosas.
"Passo muito tempo dizendo… 'Mas isso não é IA'", ele me conta.
Parece que tanto os investidores quanto os clientes estão finalmente ficando mais conscientes em relação ao termo inteligência artificial — e, como consequência, mais exigentes.
Em declaração ao Financial Times, Stuart Kaiser, do Citi, disse que embora a inteligência artificial continue a ser um grande tema no mundo das ações, "apenas dizer IA 15 vezes não vai resolver mais".
Além disso, há uma maior consciência de que os atuais produtos de inteligência artificial generativa não estão exatamente à altura do seu próprio 'hype'. Há imprecisões, desinformação, demonstrações de viés, violações de direitos autorais e alguns conteúdos que são simplesmente estranhos.
E os primeiros dispositivos habilitados para inteligência artificial, como o Rabbit R1 e o Humane Pin, receberam críticas negativas.
"Estamos vendo o mercado em torno da inteligência artificial generativa amadurecer um pouco agora – os primeiros experimentos estabeleceram muitas expectativas altas, mas quando chegou a hora da verdade, houve muitos resultados inesperados", diz Chris Weston, diretor digital e de informação da empresa de serviços de tecnologia Jumar.
"As empresas têm muito valor associado à boa vontade — a confiança e o conforto que seus clientes sentem em relação a seus serviços. A introdução de chatbots ingovernáveis ​​é um passo grande demais para muitos neste momento."
O analista de tecnologia Paolo Pescatore concorda que existe uma pressão para que as empresas de inteligência artificial cumpram suas promessas. "A bolha vai estourar no momento em que um dos gigantes não conseguir mostrar qualquer crescimento significativo da IA", diz ele.
Mas ele não acredita que isso vá acontecer tão cedo.
"Todos continuam se acotovelando por um espaço, e todas as empresas estão baseando suas estratégias na IA", acrescenta.
"Todos os participantes do mercado estão intensificando suas atividades, aumentando os gastos e alegando sucessos iniciais.”
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O ChatGPT realmente chamou a atenção do público
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Há outra razão pela qual a bolha da inteligência artificial ​​pode estourar. Não tem nada a ver com a qualidade dos produtos ou com seu valor de mercado. É se o próprio planeta pode se dar ao luxo disso.
Um estudo publicado no ano passado previu que o setor de inteligência artificial poderia consumir a mesma quantidade de energia de um país do tamanho da Holanda até 2027, se o crescimento continuar no ritmo atual.
Entrevistei Kate Crawford, professora da Universidade do Sul da Califórnia, nos EUA, para o podcast Tech Life, da BBC, e ela me disse que a preocupação com a quantidade de energia e água necessária para abastecer a inteligência artificial tirava o sono dela.
Sasha Luccioni, da empresa de machine learning (aprendizado automático) Hugging Face, também está preocupada.
"Simplesmente não há energia renovável suficiente para abastecer a IA neste momento — a maior parte dessa bolha é abastecida por petróleo e gás", afirma.
A esperança é que a tecnologia possa ser usada para identificar soluções de sustentabilidade — como, por exemplo, o segredo da fusão nuclear, mesmo processo pelo qual o Sol obtém sua energia.
Mas isso ainda não aconteceu e, enquanto isso, "os sistemas de IA colocam uma enorme pressão sobre as redes energéticas que já estão sob uma forte pressão", acrescenta Luccioni.
Com tanta incerteza, poucos devem apostar contra outra dança das cadeiras entre as empresas mais valiosas do mundo. Mas, atualmente, a Apple tem um desafio pela frente para alcançar a Microsoft e a Nvidia na corrida da inteligência artificial.
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Bugatti Chiron de R$ 50 milhões circula por São Paulo; conheça o novo carro mais caro do país

Cerca de R$ 10 bilhões do pacote de corte de gastos anunciado pelo governo dependem do Congresso
A unidade foi importada pela Paíto Motors, uma importadora independente de veículos de luxo, e foi vista circulando em São Paulo. Motor é um 8.0 W16 quadriturbo de 1.500 cv. Bugatti Chiron Sport
Paíto Motors
Um Bugatti Chiron, um dos veículos mais caros e desejados do mundo, foi visto rodando em São Paulo no último final de semana. A unidade foi importada pela Paíto Motors, uma importadora independente de veículos de luxo.
O modelo importado é um intermediário Chiron Sport, uma das tantas versões que a Bugatti já fez do modelo. O esportivo tem motor 8.0 W16 quadriturbo (ou seja, dois motores V8 lado a lado) que entrega 1.500 cv de potência e 163,2 kgfm de torque.
O conjunto mecânico o faz acelerar de 0 a 100 km/h em apenas 2,4 segundos, e atingir a velocidade máxima de 420 km/h.
Um carro tão potente quanto caro: o Bugatti Chiron Sport tem preço estimado de R$ 50 milhões — entre valor do carro e custos de importação. O modelo passa a ser o mais caro do Brasil até o momento.
O líder do ranking até então era uma edição especial La Ferrari, que custou R$ 40 milhões e que foi importada pela mesma empresa. A identidade do dono do Chiron não foi revelada.
Bugatti Chiron de R$ 50 milhões roda por SP | Imagens: João Vilkas
Chiron por quem viu de perto
Um dos influenciadores que acompanhou o passeio do Chiron pelo bairro de Cidade Jardim, em São Paulo, foi João Vilkas, que tem quase 400 mil seguidores nas redes sociais.
"Eu já faço conteúdo deste tipo de carro, os hiper-carros, há sete anos. Mas eu não esperava ver o Chiron no Brasil. Quando vimos, eu e meus amigos, a gente queria se abraçar, foi um êxtase", conta o influenciador de 20 anos.
Vilkas conta que sempre se emociona ao ver carros do tipo. "E a Bugatti é uma empresa que sempre prezou por unir alta potência com elegância. Presencialmente, foi o carro mais potente que eu já vi e ele é muito bonito", diz.
"O ronco dele é bem mais grave que os V10 ou V12 da Lamborghini e Ferrari. Eu ainda não andei no carro, mas pretendo", disse Vilkas.
Apesar da estética exterior e do motor que é considerado por muitos um primor da engenharia automotiva, o Chiron não tem central multimídia. A marca fez essa escolha para que o interior do modelo não envelhecesse conforme a tecnologia dos displays fosse evoluindo.
Veja mais imagens abaixo.
Bugatti Chiron Sport que rodou por São Paulo
Afinal, o que é um Bugatti Chiron?
Bugatti é uma marca francesa, com sede em Molsheim (França), mas seu fundador foi um italiano, Ettore Bugatti, que criou a empresa em 1909.
A história da Bugatti é recheada de muitos altos e baixos. A marca começou como uma escuderia que projetava belos carros para rua também, assim como a Ferrari. Após a morte de seu fundador em 1941, a fabricante passou por tempos difíceis e teve que fechar as portas na década seguinte.
Na década de 1980, a marca voltou para o mercado sob o controle italiano, mas novamente durou pouco tempo: entrou em falência em 1995. Três anos depois, o Grupo Volkswagen comprou a marca Bugatti e investiu na retomada dos hiper-carros.
O Bugatti Chiron é um dos três icônicos modelos da marca:
O Veyron, seu antecessor, tinha 1.001 cv de potência e acelerava de 0 a 100 km/h em 2,5 segundos. A versão original alcançava 407 km/h. Já a configuração Super Sport foi reconhecida pelo Guinness como o carro de rua mais rápido do mundo, chegando a 431 km/h. O modelo foi lançado em 2005 e no primeiro ano já foi escolhido como o carro da década pelo programa de TV britânico Top Gear.
O sucessor Tourbillon chega aos primeiros compradores em 2026. Ele dispõe de 1.800 cv e faz a prova saindo da inércia até os 100 km/h em 2 segundos. Serão produzidas inicialmente apenas 250 unidades e o preço é de 3,6 milhões de euros, o equivalente a R$ 21 milhões em conversão direta — sem os custos de importação.
De volta ao Chiron: o modelo é uma homenagem ao piloto Louis Alexandre Chiron, um automobilista que participou de corridas de Grandes Prêmios (Grand Prix), antes do surgimento da Fórmula 1.
Chiron participou da primeira corrida da principal categoria do automobilismo mundial e é, até hoje, o piloto mais velho a participar de uma corrida de Fórmula 1: em 1958, aos 58 anos, ele correu pela última vez em seu território, o GP de Mônaco.
A unidade que chegou ao Brasil foi fabricada entre 2018 e 2021, e é da série especial Sport, limitada a 60 unidades das 500 que a marca já fabricou do modelo. No site oficial de imprensa da marca, existem seis versões diferentes: Chiron (tradicional), Profilée, Pur Sport, Sport, Super Sport e Super Sport 300+.
Mas o Chiron não parou por aí. Foram mais 20 unidades da edição comemorativa de 110 anos da Bugatti, a Ans 110. Existe ainda a Chiron Noir (também com apenas 20 unidades no mundo) e a L'Ultime.
A série especial Sport tem alguns componentes a mais que a versão "normal", como as rodas diferentes, de fibra de carbono, e itens mais leves que o deixaram com 18 kg a menos.
Veja a comparação Veyron x Chiron.
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Veja a comparação Chiron x Tourbillon.
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Ibama aponta adulteração de agrotóxicos e pede à Justiça bloqueio de R$ 90 milhões da Syngenta

Cerca de R$ 10 bilhões do pacote de corte de gastos anunciado pelo governo dependem do Congresso
Ação diz que multinacional vendeu 4,5 milhões litros de produtos alterados e tinha protocolo para burlar a fiscalização do órgão ambiental na fábrica de Paulínia. Fábrica da Syngenta em Paulínia, no interior de SP
Divulgação/Syngenta
O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama) pediu à Justiça Federal de São Paulo, por meio da Advocacia-Geral da União (AGU), o bloqueio de R$ 90,2 milhões da multinacional Syngenta para reparar os danos ambientais causados pela comercialização de três agrotóxicos adulterados.
A adulteração, diz a ação na qual o g1 teve acesso, aconteceu com a adição do bronopol, um conservante antibacteriano, nos produtos Engeo Pleno, Karate Zeon 250 CS, Karate Zeon 50 CS em níveis até três vezes acima do permitido.
No processo, o Ibama aponta que a Syngenta vendeu 4,5 milhões de litros dos três produtos adulterados, gerando mais de R$ 400 milhões de receita. "A adulteração e a comercialização dos agrotóxicos ilegais, em seus milhões de litros, estão suficientemente provadas e assumidas pela empresa ré ao longo dos processos administrativos", diz.
Segundo a ação, a Agência Europeia dos Produtos Químicos classifica o bronopol como muito tóxico para a vida aquática e alerta que o produto pode causar sérios danos oculares, irritação de pele e irritação respiratória.
Ao g1, a Syngenta rebateu a ação do Ibama e disse que apresentou à Justiça a comprovação de que não existe qualquer tipo de risco ou dano ambiental decorrente da adição do bronopol aos agrotóxicos. Segundo a multinacional, a composição foi aprovada posteriormente no Brasil.
"Os próprios órgãos responsáveis pela avaliação e registro de defensivos agrícolas – MAPA, ANVISA e o próprio Ibama – recentemente aprovaram a nova formulação do produto ENGEO PLENO, considerando os níveis de BRONOPOL encontrados nas formulações citadas na ação da AGU", diz a empresa.
Tentativa de burlar a fiscalização
A adulteração foi detectada durante uma fiscalização do Ibama na fábrica da Syngenta, em Paulínia (SP), no ano de 2021. No local, foi encontrado um registro feito por funcionários que descrevia ordens para retirar os insumos da linha de produção dos agrotóxicos em razão da visita dos agentes do instituto.
Segundo a ação, isso comprova a tentativa de burlar a fiscalização. "Conforme demonstrado nos processos administrativos, e também exposto na presente peça, a empresa ré construiu toda uma cadeia de tarefas e atribuições voltadas para dificultar e impedir a fiscalização do Ibama sobre os agrotóxicos".
"As atividades foram tomadas com o claro objetivo de a empresa manter a produção e comercialização de agrotóxicos adulterados e ilegais", diz a AGU.
De acordo com o Ibama, a inspeção apontou que o produto foi adicionado aos agrotóxicos após a empresa ter tido prejuízo com devoluções causadas pelo estufamento da embalagem.
"A 'solução' do problema da embalagem encontrada pela empresa foi elevar o nível de toxicidade e letalidade do agrotóxico, sem qualquer anteparo legal ou de estudos de impacto, para reduzir o estufamento de suas embalagens de agrotóxico, nas quais ocorria contaminação microbiológica", diz na ação.
Sobre a tentativa de burlar a fiscalização, a Syngenta afirmou ao g1 que "todas as medidas cabíveis foram tomadas pela empresa diante do ocorrido, incluindo a realização de auditorias externas e internas, implementação de diversas melhorias processuais e de sistema, eliminando qualquer possibilidade de falha da natureza que havia sido apontada na fiscalização do Ibama, ocorrida em 2021".
Bloqueio de R$ 90 milhões e greenwashing
Na ação, AGU e Ibama pedem que a empresa seja condenada a reparar os danos ambientais causados pelos produtos adulterados, bem como a pagar indenização pelos danos morais coletivos e pelos danos derivados da exposição ambiental indevida ao produto tóxico.
O valor das indenizações deverá ser apurado no curso do processo, mas em caráter de urgência (liminar), os órgãos pedem à Justiça:
Que a empresa seja obrigada a dar destinação aos agrotóxicos adulterados já recolhidos, e que continue identificando e recolhendo do mercado os produtos adulterados.
Que a empresa seja obrigada divulgar em seus sites e redes sociais, tanto em português quanto em inglês, a existência da ação assim como das decisões judiciais nela proferidas, e também expor em seus relatórios e programas de sustentabilidade a ocorrência de adulteração de agrotóxico cometida pela empresa, evitando o greenwashing (maquiagem verde).
Que a empresa seja obrigada, no prazo de 90 (noventa) dias, a incorporar medidas de governança, compliance e controle para evitar quaisquer atos futuros que contribuam para a produção e/ou comercialização de agrotóxicos adulterados ou ilegais, e também evitar práticas orientadas a dificultar ou obstaculizar o exercício das atividades de fiscalização ambientais.
Que a empresa seja intimada a apresentar, em 7 dias, a garantia de reparação dos danos. E, na ausência disso, o bloqueio de R$ 90.295.767,07 para garantir a satisfação da reparação dos danos já levantados na ação.
Que a empresa seja impedida de obter benefícios fiscais e linhas de crédito do governo até que se comprometa com a reparação do dano causado.
"A parte ré produziu, comercializou e propiciou o uso de agrotóxico de forma ilegal por todo o país, sem lastro de controle e contenção de previsibilidade de efeitos. Além disso, produziu esquema de ocultação de dados e de elementos químicos, somados a práticas de greenwashing", diz a AGU na ação.
Nota Syngenta na íntegra
A Syngenta Proteção de Cultivos, diante da ação movida pela AGU, apresentou ao juiz seus argumentos, bem como a comprovação da inexistência de qualquer tipo de risco ou dano ambiental decorrente da situação descrita. Demonstrando, ainda, que os próprios órgãos responsáveis pela avaliação e registro de defensivos agrícolas – MAPA, ANVISA e o próprio Ibama – recentemente aprovaram a nova formulação do produto ENGEO PLENO, considerando os níveis de BRONOPOL encontrados nas formulações citadas na ação da AGU. Tais fatos nos fazem questionar o movimento destoante da AGU, considerando todo o diálogo já ocorrido anteriormente com o Ibama, que se materializou em uma conciliação formal endossada pelo órgão.
A Syngenta afirma, ainda, que todas as medidas cabíveis foram tomadas pela empresa diante do ocorrido, incluindo a realização de auditorias externas e internas, implementação de diversas melhorias processuais e de sistema, eliminando qualquer possibilidade de falha da natureza que havia sido apontada na fiscalização do Ibama, ocorrida em 2021.
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Falas de Lula estão realmente fazendo dólar subir?

Cerca de R$ 10 bilhões do pacote de corte de gastos anunciado pelo governo dependem do Congresso
Além de falas de Lula sobre Banco Central, cenário externo e problemas fiscais brasileiros preocupam mercado. Lula fez críticas pesadas ao Banco Central e seu presidente neste mês.
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Um grande momento de indefinição — no Brasil e no resto do mundo.
É assim que economistas e analistas de mercado estão vendo a economia, o que explica as grandes oscilações no mercado brasileiro vistas nos últimos dias.
Nos últimos dias, indicadores de mercado mostraram um aumento do pessimismo:
O dólar já se valorizou mais de 16% desde o começo do ano frente ao real. Na terça-feira (1/7), a moeda estava cotada a R$ 5,66 — o recorde do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) até agora;
Em junho, a Bolsa brasileira chegou a cair mais de 8% no ano — apesar de ter se recuperado um pouco desde então;
O título prefixado do Tesouro Brasileiro para 2031 pagava juro de 10,70% no começo do ano. Hoje, paga 12,50%. Um juro mais alto sinaliza expectativas mais pessimistas do mercado em relação à economia.
Na terça-feira (2/7), o presidente disse que o real estaria sendo alvo de um ataque "especulativo" e que estava analisando o que o governo poderia fazer a respeito.
A fala de Lula foi interpretada por parte do mercado como um sinal que medidas seriam tomadas para controlar o câmbio, mas o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), negou que essa possibilidade estava em estudo.
Nesta quarta-feira (3/7), Lula se reúne com Haddad e outros integrantes da equipe econômica para discutir os problemas financeiros.
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Mas o que explica esse cenário?
Pelo menos três problemas atraem a atenção de investidores — que no fim das contas são quem define preços e juros, pois são eles quem negociam os valores nos mercados: as falas do presidente sobre o Banco Central, as incertezas sobre os rumos da economia global (sobretudo nos Estados Unidos) e os problemas fiscais brasileiros.
O que agrava o momento econômico e deixa os mercados "hiper-sensíveis com o noticiário" — nas palavras do economista-chefe da XP, Caio Megale — é que, com os dados disponíveis no momento, é muito difícil prever o que vai acontecer nos próximos meses, porque não há uma tendência clara à vista.
É possível vislumbrar cenários radicalmente opostos — e ambos são considerados igualmente prováveis.
Pode haver um alívio nas tensões internas e domésticas que levem o real próximo ao patamar de R$ 5,10. Ou pode haver agravamento em ambos os cenários que levem o real a se desvalorizar ainda mais.
O economista André Perfeito, no entanto, apontou que, na opinião dele, há um ataque especulativo contra o real em andamento.
"É óbvio que a situação do Brasil está melhor que anos atrás, temos empresas públicas dando lucro, estabilidade de preços e apesar das rusgas o Banco Central tem independência (tanto é que parou de cortar os juros ao arrepio do que o Planalto desejaria)", disse em mensagem a clientes.
"Como diria um banqueiro: enfiamos o nariz num copo d'água e estamos achando que estamos nos afogando no meio do Pacífico", acrescentou.
Entenda a seguir os motivos que explicam a forte desvalorização do real.
1. Lula e o Banco Central
No último mês, Lula fez críticas fortes ao presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto:
Em 18 de junho, Lula disse: "Nós só temos uma coisa desajustada no Brasil nesse instante: é o comportamento do Banco Central. Essa é uma coisa desajustada. Um presidente do Banco Central que não demonstra nenhuma capacidade de autonomia, que tem lado político e que, na minha opinião, trabalha muito mais para prejudicar o país que para ajudar o país".
Em 28 de junho, afirmou: "A taxa de juros de 10,50% é irreal para uma inflação de 4%. Isso vai poder melhorar quando eu puder indicar o presidente [do Banco Central]".
Na segunda-feira (1/7), Lula voltou às críticas: "O que você não pode é ter um Banco Central que não está combinando adequadamente com aquilo que é o desejo da nação. Não precisamos ter política de juro alto neste momento, a taxa Selic a 10,5% está exagerada".
Desde a primeira fala de Lula, no dia 18, o dólar já subiu mais de 4% — passando de R$ 5,44 para mais de R$ 5,64.
Qual é a relação entre as falas de Lula e tensões no mercado financeiro?
O problema central envolve a definição da taxa de juros da economia brasileira — a Selic.
Esse juro — atualmente em 10,5% ao ano — define quanto custa para pessoas e empresas tomarem empréstimos para consumir ou investir nos seus negócios.
O juro básico tem enorme repercussão na economia, porque acaba influenciando em todos os preços e nas expectativas futuras de inflação.
Quem define a taxa de juro básica da economia é o Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central.
E existe uma diferença de opiniões entre Lula e o Copom. Lula quer que o juro seja mais baixo — o que permitiria crescimento maior da economia, potencialmente gerando mais empregos e renda.
O Copom vinha cortando a taxa de juros quase que mensalmente, como quer Lula, alegando que a economia estava dando sinais de melhora.
Mas em junho, o Copom manteve a taxa inalterada, em 10,5%, interrompendo uma trajetória de queda que já durava um ano.
O Comitê acredita que é preciso manter a taxa neste nível para evitar a alta da inflação. O efeito colateral disso seria queda no rendimento real das pessoas e aumento da desigualdade.
A ata da reunião de junho disse que o Copom "unanimemente, optou por interromper o ciclo de queda de juros" e citou cenário global externo e elevação nas projeções de inflação no Brasil.
Essa diferença de opiniões sobre os juros é marcada por duas questões políticas.
A primeira delas é a autonomia do Banco Central. O presidente da República não tem poderes para demitir o presidente do Banco Central. Roberto Campos Neto foi indicado pelo antecessor de Lula, Jair Bolsonaro, e seu mandato acaba apenas no final deste ano.
Lula: estamos colocando as contas em ordem
A autonomia do Banco Central foi aprovada em 2021 e estabelece mandatos fixos de quatro anos para o presidente da instituição que não coincidentes com o do Presidente da República.
O objetivo é justamente impedir que haja alguma interferência do governo que está no poder na definição dos juros.
O PT sempre foi contra a autonomia do Banco Central.
O segundo problema é que Lula acusa Roberto Campos Neto de atuação política.
Campos Neto participou de encontros públicos com o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), que é cotado para liderar a oposição e o bolsonarismo nas eleições de 2026.
Campos Neto foi homenageado pela Assembleia Legislativa de São Paulo ao lado de Tarcísio e foi recebido em um jantar pelo governador.
O PT entrou com uma ação popular contra Campos Neto, dizendo que ele tem atuação político-partidária à frente do Banco Central — uma crítica feita pelo próprio Lula.
Qual o impacto dessas falas de Lula no mercado?
Para Caio Megale, da XP, o problema para o mercado financeiro é a falta de clareza sobre o que Lula quer dizer com suas críticas recentes.
"As declarações do presidente são contra o presidente do Banco Central? Ou são contra a maneira como o Banco Central está conduzindo a política econômica."
Não existe muita dúvida no mercado que Roberto Campos Neto continuará tendo poder dentro do Copom até o final do ano, já que ele está amparado pela lei.
Mas, no final do ano, Lula terá direito de indicar o seu próprio presidente — e é isso que muitos analistas tentam entender a partir das falas recentes de Lula.
Haveria uma mudança radical na política econômica implementada pelo novo presidente da instituição?
O economista Victor Gomes, professor da Universidade de Brasília (UnB), diz que o presidente do Banco Central tem um perfil mais político do que necessariamente técnico — e isso contribuiria para a cotação do dólar ser mais volátil diante de um embate com o presidente, porque Campos Neto seria mais suscetível a tomar decisões ideológicas sobre o câmbio.
Gomes acredita que um exemplo de decisão menos técnica e mais política de Campos Neto aconteceu em 2020, quando o Banco Central baixou os juros para 2%.
"Nós temos um presidente de Banco Central que é mais ativista. Ele não poderia ter feito isso [baixar os juros para 2%]. Havia muita volatilidade e os modelos não estavam funcionando para prever [o juro ideal]. Ele fala que isso foi uma decisão técnica, mas não foi. Foi um erro técnico."
O mercado entende que não haverá mudanças radicais caso Lula venha a indicar o atual diretor de política monetária do BC, Gabriel Galípolo, para o Copom.
Galípolo assumiu o cargo poucos meses após ter assumido como secretário executivo do Ministério da Fazenda do terceiro mandato do governo Lula, por indicação de Haddad.
Analistas acreditam que continuará havendo um certo grau de autonomia para a instituição.
'Só temos uma coisa desajustada no Brasil: é o comportamento do Banco Central', diz Lula
Mas, recentemente, Lula disse que seria necessário ter um presidente mais experiente e calejado — sinalizando que pode escolher outro nome que não Galípolo, que é jovem.
Isso levou muitos a especularem que Lula poderia escolher nomes como Guido Mantega, Aloísio Mercadante ou André Lara Resende — economistas que tenderiam a seguir políticas mais alinhadas com o que quer Lula.
"Se a visão do Lula é ter um Banco Central que atenda a demandas políticas e reduza taxa de juros, então daí as expectativas de inflação vão subir, a credibilidade da política econômica e da moeda cai e o real se desvaloriza", diz Caio Megale.
2. Problemas fiscais brasileiros
Outra pergunta que é feita nos mercados é: os juros deveriam parar de cair no Brasil? Por que eles não seguem na sua trajetória de queda?
Afinal de contas, alguns bancos estão revisando para cima as projeções de crescimento do Produto Interno Bruno (PIB) para este ano (para cerca de 2,5%) e o desemprego também está em queda. Em maio, a taxa caiu para 7,1% — a menor para o mês em dez anos.
Com a economia se mostrando levemente mais forte, seria de se esperar que os juros brasileiros também caíssem.
Mas o Copom afirma em sua ata que existe um risco de a inflação voltar a subir no Brasil.
A ata fala em "aumento das projeções de inflação de médio prazo" e da necessidade de uma política "mais contracionista e mais cautelosa, de modo a reforçar a dinâmica desinflacionária".
Economistas dizem que há mais dúvidas sobre a capacidade do governo brasileiro de produzir superávits fiscais — ou seja, de gastar menos do que arrecada e manter um equilíbrio fiscal.
Para Victor Gomes, da UnB, um dos problemas são as desonerações — uma política de 2012 em que alguns setores produtivos eram beneficiados com renúncias fiscais.
O governo tentou acabar com as desonerações neste ano — o que provocaria um aumento da arrecadação —, mas foi derrotado no Congresso. A questão está sendo discutida na Justiça.
"Conseguir reduzir o tamanho das desonerações não me parece que seja algo muito factível hoje, apesar de que o governo deveria investir nisso", diz Gomes.
Para Caio Megale, da XP, outro problema fiscal que surgiu com força neste último mês foram os gastos previdenciários.
"Na política fiscal, de abril para cá, principalmente em maio, as despesas deram uma acelerada, com concessão de alguns benefícios previdenciários. A pergunta é: o que o governo vai fazer a respeito disso?", diz Megale.
"Em maio, o gasto da Previdência surpreendeu em R$ 5 bilhões. E isso é uma despesa recorrente e obrigatória. Se esse valor for permanente, nós precisamos então colocar R$ 5 bilhões a mais por mês para sempre nas contas?"
Novamente existe aqui uma falta de clareza no mercado sobre como o governo pretende lidar com problemas fiscais.
No mês passado, dois ministros de Lula sinalizaram ações do governo para conter despesas.
Haddad falou que haveria uma revisão "ampla, geral e irrestrita" dos gastos públicos. A ministra do Planejamento, Simone Tebet (MDB), falou que cortar gastos era um "dever de casa" do governo.
Lula diz que decisão do Copom foi 'uma pena'
Mas, na semana seguinte, Lula sinalizou em entrevista que talvez não concorde com essa avaliação.
"O problema não é que tem que cortar. O problema é saber se precisa efetivamente cortar ou aumentar a arrecadação. Precisamos fazer esta discussão", disse Lula.
Outro problema doméstico que aumenta a perspectiva de inflação é a própria alta do dólar registrada nesses meses.
Com o real desvalorizado, sobem os preços dos produtos importados — aumentando a inflação interna.
3. Futuro incerto nos EUA
A desvalorização da moeda nacional frente ao dólar não é um problema brasileiro.
A valorização do dólar é uma tendência mundial este ano. Tudo passa pela inflação americana, que não dá sinais de que está se desacelerando.
O ano de 2024 começou com a expectativa de que a inflação nos EUA e na Europa caísse — dando fim ao maior ciclo de alta de inflação e juros em quatro décadas. Seria o fim da crise econômica provocada pela pandemia, e o começo de uma retomada mundial.
Mas isso não se confirmou. A inflação nos Estados Unidos seguiu em alta — e, no mês, passado o Federal Reserve (o Banco Central americano) já sinalizava que cortaria os juros básicos da sua economia apenas uma vez neste ano.
Com isso, houve uma reversão de expectativas — e de investimentos nos mercados internacionais. Os papéis do título do governo americano passaram a pagar retornos maiores.
Para investidores, é muito atraente ter um retorno de mais de 4% ao ano em dólares, em vez de investirem em ativos de riscos ou títulos de países emergentes, como o Brasil.
Por isso, existe um grande fluxo de dinheiro internacional para os Estados Unidos, o que provoca a desvalorização das demais moedas do mundo frente à americana.
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Victor Gomes, da UnB, lembra que antes da pandemia o dólar tinha uma cotação mais próxima dos R$ 3. Desde que os americanos passaram a subir seus juros, a cotação está mais próxima ou acima dos R$ 5 e nunca mais voltou.
O Brasil não é o único país que sofre com esse movimento — mas combinado com os problemas domésticos o real tem sido uma das moedas que mais se desvalorizou esse ano.
Apesar dos problemas cambiais, existe uma notícia boa para o Brasil que vem do exterior: as commodities estão em alta nos mercados internacionais, o que beneficia empresas de minérios e petróleo, que têm grande peso na bolsa brasileira.

Cerca de R$ 10 bilhões do pacote de corte de gastos anunciado pelo governo dependem do Congresso

Governo prevê revisão no Cadastro Único, no Bolsa Família e em benefícios da Previdência; medidas vão buscar coibir fraudes e pagamentos indevidos e devem economizar R$ 25,9 bilhões, segundo Haddad Parte do pacote de corte de despesas anunciado pelo governo nesta semana vai depender de aprovação no Congresso Nacional. Ou seja, vai depender de negociação e ainda não está garantido.
Cálculos preliminares indicam que cerca de R$ 10 bilhões só serão efetivados após aval dos parlamentares. Isso representa mais de um terço de toda a economia com os cortes esperada para o próximo ano – de R$ 25,6 bilhões.
Ainda não há data prevista para o Palácio do Planalto enviar as propostas ao Congresso. Integrantes do governo reconhecem que algumas medidas são duras e devem gerar debate na Câmara e no Senado, mas a equipe econômica confia na aprovação dos projetos apesar de o prazo ser mais curto nesse semestre por causa das eleições municipais.
Nesta quarta-feira (3), o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, fez uma declaração na qual anunciou os cortes após seguidas reuniões com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O objetivo foi dar uma sinalização ao mercado financeiro. O dólar chegou a bater R$ 5,70 nos últimos dias em meio ao embate entre Lula e o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, em torno da política de juros e das contas públicas.
Haddad anunciou um corte de R$ 25,9 bilhões em despesas obrigatórias para 2025. No entanto, o ministro não deu mais detalhes sobre o pacote.
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A TV Globo e o g1 conversaram com integrantes do governo para esmiuçar o plano de redução de despesas que acalmou o mercado e contribuiu para a queda do dólar desde quarta-feira.
CadÚnico e Bolsa Família
Uma das medidas a serem anunciadas prevê mudanças no Cadastro Único, que reúne informações da população de baixa renda e que pode ter acesso a programas sociais.
A regra diz que, a cada três anos, a pessoa precisa atualizar os dados fornecidos ao Cadastro. No entanto, essa não tem sido a prática. Por isso, a ideia é que, se o beneficiário está com informações desatualizadas há mais tempo, os pagamentos poderão ser suspensos até que o cadastro seja regularizado.
Essa parte do pacote deve precisar de aval do Congresso.
Em relação ao Bolsa Família, o governo quer passar um “pente-fino” e encontrar quem fraudou informações para se enquadrar como família unipessoal – quando uma pessoa diz que não tem filhos nem é casada.
Desde o início do governo, um dos problemas encontrados pela equipe de Lula foi a explosão de cadastros de famílias solo após o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) ter estabelecido um valor mínimo a ser pago independente do tamanho da família.
A maior suspeita de fraude é quando a família se divide para conseguir dois cadastros e receber dois benefícios do programa social. Uma forma de conseguir identificar irregularidades é pelo endereço da pessoa que está no Bolsa Família e cuja informação poderá ser cruzada com a de parentes.
Entre novembro de 2021 e novembro de 2022, logo após a eleição presidencial, o número de "beneficiários solos" saltou de 2,2 milhões para 5,8 milhões.
Pescadores
O governo também planeja fechar o cerco contra o pagamento do seguro defeso, que é um auxílio dado ao pescador durante o período em que ele fica impedido de exercer a atividade por causa da preservação das espécies.
Para 2024, estão previstos R$ 6 bilhões com esse benefício, que é pago em média a mais de 800 mil pessoas. Governos anteriores já miraram em fraudes nesses pagamentos, mas pouco se avançou.
Por isso, a equipe de Haddad prepara um projeto a ser enviado ao Congresso para mudar o formato de inscrição nesse benefício. Hoje, não é concentrado. O governo federal recebe as informações das cidades (comunidades pesqueiras) e o cadastro é feito quase que automaticamente.
O objetivo é ampliar o controle para ter acesso ao benefício cujo valor é de um salário mínimo (R$ 1.412,00).
Previdência
Outro pilar do pacote foi anunciado pelo ministro da Previdência Social, Carlos Lupi, que comandará um "pente-fino" em benefícios previdenciários temporários, como o auxílio por incapacidade temporária (auxílio-doença), a partir de agosto deste ano.
Segundo ele, há uma previsão de que esse tipo de revisão aconteça a cada dois anos. Entretanto, no caso dos benefícios temporários, o processo não era realizado desde 2019.
Outras medidas
O governo também prevê apertar regras para municípios. A ideia é deixar claro que as prefeituras precisam registrar os funcionários contratados pelo regime CLT. Se isso não for feito, o município poderá perder benefícios como repasses da União para a prefeitura.
Outra mudança deve ser nas regras de pagamento de contribuição previdenciária nos casos de servidores públicos federais que são cedidos para cargos em governo estaduais ou municipais. Ou vice-versa, servidores estaduais e municipais que vão trabalhar no governo federal. O objetivo é estabelecer um acerto de contas entre os entes.
Contingenciamento
Na quarta-feira, Haddad também anunciou que, se necessário, haverá um congelamento de despesas previstas até o fim de 2024. Isso deve ser feito até dia 22 de julho.
"A Receita está terminando de fazer a compilação do semestre, o relatório de julho pode apresentar significar algum contingenciamento e algum bloqueio que serão suficientes que o arcabouço seja cumprido", completou o ministro.
Integrantes do Ministério da Fazenda dizem que vai ser um valor robusto, mas afirmam que os cálculos ainda não estão concluídos.