Comissão do Senado adia votação de proposta que amplia autonomia e transforma Banco Central em empresa pública

Haddad se reúne fora da agenda com Lula em busca de saídas para a alta do dólar e o corte de gastos
Senado analisa Proposta de Emenda à Constituição em um momento de ataques de Lula à chefia do BC e à autonomia operacional do órgão. Texto pode ser votado na semana que vem. Fachada do Banco Central do Brasil em Brasília
Marcello Casal/Agência Brasil
A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado adiou a votação de uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que amplia a autonomia e transforma o Banco Central – atualmente uma autarquia de natureza especial – em uma empresa pública.
A PEC estava na pauta da CCJ nesta quarta-feira (3). Após o relator da proposta, senador Plínio Valério (PSDB-AM) ler seu relatório favorável à PEC, com a apresentação de uma nova versão do texto, foi concedida vista coletiva, ou seja, mais tempo para os senadores analisarem a proposta.
A previsão é que a PEC retorne à pauta na semana que vem. Se for aprovada pela CCJ, ainda terá de passar pelo plenário principal do Senado.
De acordo com defensores da proposta, o objetivo do texto é "conceder a autonomia orçamentária e financeira", complementando a lei de 2021 que conferiu autonomia operacional à instituição.
A proposta foi protocolada no Senado em novembro do ano passado. O texto foi assinado por 42 senadores e tem como primeiro signatário o senador Vanderlan Cardoso (PSD-GO).
Entenda os motivos da alta do dólar
A PEC que amplia a autonomia do Banco Central é discutida no Senado no contexto de uma série de ataques do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao presidente do BC, Roberto Campos Neto, que foi indicado para o cargo por Jair Bolsonaro (PL). O mandato de Campos Neto termina no final deste ano.
Desde que assumiu o terceiro mandato, Lula tem externado insatisfações com o patamar da taxa básica de juros da economia brasileira. A Selic é fixada pelo Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central e, atualmente, está em 10,5% ao ano.
Para Lula, o atual cenário da economia brasileira, com inflação dentro da meta, permite uma taxa de juros menor, o que, na visão do presidente, facilitaria a realização de investimentos no país.
O petista também tem feito críticas à lei da autonomia operacional do BC, aprovada em 2021 pelo Congresso Nacional.
A legislação estabeleceu que os presidentes da instituição terão mandatos de quatro anos e não coincidentes com os mandatos do presidente da República. Por isso, os primeiros dois anos deste governo Lula tiveram o Banco Central presidido por um indicado por Bolsonaro.
As ofensivas de Lula sobre o Banco Central e as falas dele sobre aumento de gastos têm gerado instabilidade no mercado financeiro e são apontadas com razões para a alta do dólar no país.
Relator critica Lula
Após a leitura do relatório, o senador Plínio Valério fez críticas ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em relação a sua posição em relação ao Banco Central.
“Essa discussão que deveria ser uma discussão de Estado está se tornando em picuinha entre o presidente do Banco Central e o presidente Lula, que não cansa de prejudicar o país”, disse o senador.
Mercado é 'quem quer o BC autônomo', diz Lula
Dólar atinge maior cotação em mais de dois anos: R$ 5,65
Na última segunda-feira (3), Lula afirmou em uma entrevista que "quem quer o BC autônomo é o mercado". Após a entrevista, a cotação do dólar subiu e atingiu o maior valor em 2 anos e meio, custando R$ 5,65.
Nesta quarta-feira (3), o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, se reuniu com Lula no Palácio da Alvorada para tratar da situação cambial e de cortes de gastos no país. Segundo interlocutores do Ministério da Fazenda, a tendência é que Haddad passe o dia em reuniões internas e eventos no Palácio do Planalto.
Ao longo do dia, devem ser discutidas saídas para o momento atual da economia, marcado por fortes tensões entre governo e mercado.

Volkswagen Polo é o veículo novo mais vendido no 1º semestre de 2024; veja a lista

Haddad se reúne fora da agenda com Lula em busca de saídas para a alta do dólar e o corte de gastos
Dados são da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave). No período, país registrou 1.143.796 novos emplacamentos, alta de 14,59% em relação a igual período de 2023. Volkswagen anuncia início da produção do Polo Track, sucessor do Gol na fábrica de Taubaté
Volkswagen/ Divulgação
O Volkswagen Polo é o veículo novo mais vendido no primeiro semestre de 2024, segundo dados divulgados pela Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave) nesta quarta-feira (3).
O modelo mantém a liderança ao longo do ano, deixando para trás a Fiat Strada, que liderou a lista de mais vendidos de 2021 a 2023.
Nos seis primeiros meses do ano, foram emplacadas 57.862 unidades do Polo. Da Strada, foram vendidas 56.597 unidades.
Veja a lista de mais vendidos no 1º semestre.
Volkswagen Polo: 57.862 unidades
Fiat Strada: 56.597 unidades
GM/Chevrolet Onix: 43.603 unidades
Hyundai HB20: 42.696 unidades
Fiat Argo: 39.624 unidades
Fiat Mobi: 32.240 unidades
Volkswagen T-Cross: 31.519 unidades
Hyundai Creta: 30.531 unidades
GM/Chevrolet Onix Plus: 29.907 unidades
GM/Chevrolet Traker: 28.865 unidades
Emplacamentos até junho
No primeiro semestre de 2024, o país registrou 1.143.796 novos emplacamentos, um aumento de 14,59% em relação a igual período de 2023.
O número considera automóveis, comerciais leves, caminhões e ônibus. O g1 considera motos à parte e não contabiliza implementos rodoviários.
Em junho de 2024, a federação registrou 214.289 novos emplacamentos.
Em relação a maio, houve alta de 10,32% (194.237 unidades);
Em relação a junho de 2023, registrou aumento de 13,09% (189.491 unidades).
O mercado automotivo está em momento de aquecimento neste ano, em meio a um ciclo histórico de investimentos, que ultrapassam os R$ 125 bilhões anunciados por montadoras que atuam por aqui, para ampliação de produção e desenvolvimento de tecnologia no país.
A Fenabrave atribui a melhora do setor às melhores condições de crédito ao longo de 2024. A entidade faz menção ao ciclo de redução da taxa básica de juros desde agosto do ano passado, o que ajudou a reduzir os patamares de inadimplência no setor.
“Quando a inadimplência cai, os bancos ficam mais confortáveis para aprovar novas fichas de crédito. Isso já está contemplado no crescimento que temos aqui”, diz Andreta Jr., presidente da Fenabrave.
“Estávamos vendendo carros que os bancos não aprovavam o financiamento. Agora, essa recusa diminuiu.”
Juros mais baixos e alta de emplacamentos: vai ficar mais fácil comprar um carro zero em 2024?
Projeções para 2024
A Federação também divulgou novas projeções para o crescimento do setor automotivo ao longo deste ano, mais otimistas que as anteriores.
Segundo a Fenabrave, a estimativa é de:
um crescimento que passa de 12% para 15% em novos emplacamentos de automóveis e comerciais leves, para 2.506.267 veículos;
uma alta que passa de 10% para 12% de caminhões, para 116.654 unidades;
manutenção do avanço projetado de 20% em ônibus, para 24.622 veículos.
A melhora de projeções contrasta com o momento de alta do dólar, interrupção do ciclo de cortes da taxa básica de juros e pressão na inflação de itens básicos. Seriam dados que, na teoria, desestimulariam o consumidor a trocar de carro.
Para Andreta Jr., contudo, o fator fundamental para manter o otimismo é desembaraçar o endividamento dos consumidores, para que o fluxo de compras persista.
“Vendas de carros e comerciais leves são baseadas na disponibilidade do crédito. E o crédito automotivo é a Selic mais o spread. Isso depende mais do histórico de crédito desse consumidor”, diz.
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Sobre a piora das expectativas econômicas, o presidente da entidade espera que as turbulências sejam passageiras e não devem ter efeitos prolongados.
“Poderíamos até melhorar a projeção se a tendência de queda de juros continuasse, se o dólar estivesse estabilizado. Mas faremos novas projeções em outubro.”
Andreta Jr. diz que outro fator que pode causar revisão dos números é a tragédia no Rio Grande do Sul, com as enchentes de maio e junho. O mercado, segundo a Fenabrave, representa quase 5% do número total e chegou a ser inteiramente interrompido.
“Vamos ter que repor esses carros perdidos. Dependendo da retomada, pode ter um crescimento ainda mais forte. […] Mas já vão retomar as vendas? Em que velocidade?”, diz Andreta Jr.
Segundo a entidade, 280 concessionárias e comerciantes foram afetados no estado e o Detran local inundou. Mesmo automóveis que estavam disponíveis para a venda não saíram, porque não se podia licenciar os novos automóveis.
“Estamos preparando um trabalho para que busquem financiamento e retomem bem as atividades.”

Dólar opera em queda, à espera de reunião de Lula e Haddad e de ata do Fed; Ibovespa tem alta forte

Haddad se reúne fora da agenda com Lula em busca de saídas para a alta do dólar e o corte de gastos
No dia anterior, a moeda americana fechou em alta de 0,22%, cotado a R$ 5,6652 e no maior patamar em dois anos e meio. O Ibovespa fechou em alta de 0,06%, aos 124.787 pontos. Notas de dólar.
Reuters
O dólar opera em queda nesta quarta-feira (3), com o mercado ainda cauteloso com as críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao Banco Central do Brasil (BC), mas com sinais mais positivos de controle da inflação nos Estados Unidos animando os mercados.
Por aqui, investidores aguardam pela reunião de Lula com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e a equipe econômica do governo. Oficialmente, o governo diz somente que a reunião de Lula e Haddad tratará do "tema fiscal", mas o mercado acredita que medidas para tentar conter o avanço do dólar também podem ser discutidas.
A moeda americana vive semanas de disparada e, ontem, encerrou o dia cotada a R$ 5,66, depois de bater os R$ 5,70 durante a tarde. Esse é o maior patamar em dois anos e meio e reflete, sobretudo, a cautela do mercado com as recentes críticas de Lula ao BC e seu presidente, Roberto Campos Neto.
ENTENDA: Juros nos EUA, cenário fiscal e declarações de Lula: veja a cronologia da disparada do dólar
Na terça-feira (2), Lula disse que há um "jogo de interesse especulativo" contra o real e que o governo avalia medidas. O presidente diz que a reação de alta da moeda americana após as críticas feitas por ele ao Banco Central e ao seu presidente, Roberto Campos Neto, "não têm explicação".
Isso levou à terceira alta seguida do dólar. Em 27 de junho, custava R$ 5,5079. De lá até o último pregão, nesta terça, a moeda já avançou 16 centavos.
No exterior, ontem, o presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) disse que a inflação nos Estados Unidos deve voltar à meta de 2% ao ano até 2025. Hoje, o Fed divulga a ata de sua última reunião, que pode trazer mais sinais sobre o futuro dos juros no país.
Veja abaixo o resumo dos mercados.
Dólar
Às 11h36, o dólar caía 1,58%, cotado a R$ 5,5755. Veja mais cotações.
No dia anterior, o dólar teve alta de 0,22%, cotado a R$ 5,6652. Na máxima do dia, chegou a R$ 5,7007.
Com o resultado, acumulou:
avanço de 1,37% na semana;
ganho de 1,37% no mês;
alta de 16,75% no ano.

Ibovespa
No mesmo horário, Ibovespa subia 1,34%, aos 126.454 pontos.
Na véspera, o índice teve alta de 0,06%, aos 124.787 pontos.
Com o resultado, acumulou:
alta de 0,71% na semana;
ganhos de 0,71% no mês;
perdas de 7% no ano.

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O que está mexendo com os mercados?
A queda do dólar no início deste pregão é motivada pelo cenário internacional, sobretudo os Estados Unidos. Na véspera, o presidente do Fed afirmou acreditar que, até o fim de 2025, a inflação americana deve estar de volta à meta e destacou que o mercado de trabalho no país dá sinais de arrefecimento.
Uma inflação mais controlada permite que o Fed reduza os juros na maior economia do mundo, hoje entre 5,25% e 5,50% ao ano. Quando o mercado de trabalho está muito aquecido, isso gera uma tendência de maior inflação, já que mais dinheiro vai para a mão da população. Por isso, um arrefecimento na criação de vagas é visto como sinal positivo pelo mercado.
"Nos Estados Unidos, o relatório JOLTS de abertura de vagas de trabalho veio acima das expectativas de mercado, mas continuou mostrando uma tendência de desaceleração, com a relação de vagas e o número de desempregados atingindo 1,24", destaca a XP Investimentos, em análise.
Os analista, porém, ressaltam que Powell reforçou que "ainda são necessárias evidências adicionais para se determinar se a tendência de queda é sustentável."
Hoje, o mercado aguarda ainda a divulgação da ata do Fed, que pode mostrar quais são os próximos passos da instituição em relação aos juros, e novos dados de emprego nos Estados Unidos.
Já no cenário doméstico, em meio às recentes tensões entre o presidente Lula e o presidente do BC, Campos Neto, o destaque do pregão desta quarta-feira segue com investidores repercutindo as falas de Lula sobre o BC, enquanto aguardam um desfecho da reunião com Haddad.
Ontem, Lula disse que "não se pode inventar crises" e "jogar a culpa" da disparada do dólar nas últimas semanas nas declarações que ele deu.
"É um absurdo. Obviamente que me preocupa essa subida do dólar. Há uma especulação. Há um jogo de interesse especulativo contra o Real nesse país. Eu tenho conversado com as pessoas o que a gente vai fazer. Estou voltando quarta-feira, vou ter uma reunião. Não é normal o que está acontecendo", argumentou Lula.
Ele voltou a falar, também, sobre o comando do BC, defendendo que a instituição seja autônoma e que Campos Neto tem um viés político.
"A gente precisa manter o Banco Central funcionando de forma correta, com autonomia, para que o presidente do Banco Central não fiquei vulnerável às pressões políticas. (…) Quando você é autoritário você resolve fazer com que o mercado se apodere de uma instituição que deveria ser do Estado. Ele não pode estar à serviço do sistema financeiro, ele não pode estar à serviço do mercado".
Na segunda, Lula já havia dito que o próximo presidente do BC deve olhar para o Brasil "do jeito que ele é e não do jeito que o sistema financeiro fala".
"Eu estou há dois anos com o presidente do Banco Central do [ex-presidente Jair] Bolsonaro, não é correto isso", afirmou o presidente nesta segunda-feira, ponderando que a autonomia do BC foi aprovada pelo Congresso e será respeitada.
"Eu tenho que, com muita paciência, esperar a hora de indicar o outro candidato, e ver se a gente consegue… ter um presidente do Banco Central que olhe o país do jeito que ele é, e não do jeito que o sistema financeiro fala", acrescentou, destacando que "quem quer BC autônomo é o mercado".
O mandato de Campos Neto acaba em 2024 e que, desde 2021, a legislação brasileira determina a autonomia do BC, que deve tomar suas decisões sem interferência política. No entanto, Lula afirmou que vai indicar para a presidência da instituição alguém com "compromisso com o crescimento do país".
A legislação determina que o presidente e os diretores do BC terão mandatos de 4 anos não coincidentes com a presidência da República — um novo presidente assume o BC, então, no terceiro ano de mandato de cada presidente da República. Cabe ao presidente da república indicar nomes para o comando do BC, mas estes só serão aprovados com aval do Senado Federal.
Lula também disse que preza pela responsabilidade fiscal e que inflação baixa é sua obsessão, usando como exemplo a decisão do governo de manter a meta para a evolução dos preços em 3%. O presidente ainda afirmou, ontem à noite, que não tem que prestar contas "a nenhum ricaço desse país, a nenhum banqueiro".
"Tenho que prestar contas ao povo pobre, trabalhador deste país, que precisa que a gente tenha cuidado e que a gente cuide deles".
As falas recentes do presidente se juntam às críticas feitas por ele à instituição desde a semana passada. Lula disse que "a taxa de juros de 10,5% é irreal para uma inflação de 4%", reiterando que a Selic deve melhorar quando ele indicar o substituto de Campos Neto.
Nesta terça-feira, presidente do Banco Central deu uma resposta. Afirmou que a interrupção do ciclo de corte de juros pela instituição, em junho deste ano, "tem a ver muito mais com ruídos que nós criamos do que com os fundamentos [da economia]".
Ele não detalhou, na declaração, quem criou os ruídos citados. A declaração foi dada durante palestra no Forum on Central Banking, promovido pelo Banco Central Europeu (ECB), em Portugal (Sintra).
"Isso [interrupção dos cortes de juros] tem a ver muito mais com ruídos que nós criamos do que com os fundamentos [da economia]. E os ruídos estão relacionados com dois canais: um é a expectativa do caminho da política fiscal [arrecadação e gastos públicos], e o outro é a expectativa sobre o futuro da política monetária [decisões sobre a taxa de juros]", disse.
"Então, quando você tem esses dois [ruídos] ao mesmo tempo, criou-se uma incerteza suficiente que, para nós, precisávamos interromper e ver como podíamos arrumar esse canal, e como nós podemos nos comunicar melhor para eliminar esses ruídos", afirmou Campos Neto.
De acordo com ele, há uma "grande desconexão" entre os dados correntes da economia, como as informações sobre as contas públicas, e as informações sobre política monetária (inflação e seu impacto na taxa de juros) e as expectativas dos agentes do mercado financeiro.
"O que aconteceu no Brasil é que as expectativas começaram a subir apesar de os dados correntes [de inflação] estarem vindo conforme o esperado", explicou o presidente do BC.
Além do conflito entre governo e BC, o mercado segue atento ao cenário fiscal do país, principalmente após o resultado consolidado do setor público ter revelado um déficit superior às projeções do mercado, na semana passada.

Dólar opera em queda, à espera de reunião de Lula e Haddad e de ata do Fed; Ibovespa tem alta

Haddad se reúne fora da agenda com Lula em busca de saídas para a alta do dólar e o corte de gastos
No dia anterior, a moeda americana fechou em alta de 0,22%, cotado a R$ 5,6652 e no maior patamar em dois anos e meio. O Ibovespa fechou em alta de 0,06%, aos 124.787 pontos. Notas de dólar.
Reuters
O dólar opera em queda nesta quarta-feira (3), com o mercado ainda cauteloso com aa críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao Banco Central do Brasil (BC), mas com sinais mais positivos de controle da inflação nos Estados Unidos animando os mercados.
Por aqui, investidores aguardam pela reunião de Lula com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e a equipe econômica do governo. Oficialmente, o governo diz somente que a reunião de Lula e Haddad tratará do "tema fiscal", mas o mercado acredita que medidas para tentar conter o avanço do dólar também podem ser discutidas.
A moeda americana vive semanas de disparada e, ontem, encerrou o dia cotada a R$ 5,66, depois de bater os R$ 5,70 durante a tarde. Esse é o maior patamar em dois anos e meio e reflete, sobretudo, a cautela do mercado com as recentes críticas de Lula ao BC e seu presidente, Roberto Campos Neto.
ENTENDA: Juros nos EUA, cenário fiscal e declarações de Lula: veja a cronologia da disparada do dólar
Na terça-feira (2), Lula disse que há um "jogo de interesse especulativo" contra o real e que o governo avalia medidas. O presidente diz que a reação de alta da moeda americana após as críticas feitas por ele ao Banco Central e ao seu presidente, Roberto Campos Neto, "não têm explicação".
Isso levou à terceira alta seguida do dólar. Em 27 de junho, custava R$ 5,5079. De lá até o último pregão, nesta terça, a moeda já avançou 16 centavos.
No exterior, ontem, o presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) disse que a inflação nos Estados Unidos deve voltar à meta de 2% ao ano até 2025. Hoje, o Fed divulga a ata de sua última reunião, que pode trazer mais sinais sobre o futuro dos juros no país.
30 anos do Real: como era a vida antes do plano econômico que deu origem à moeda brasileira
Veja abaixo o resumo dos mercados.
Dólar
Às 10h, o dólar caía 0,91%, cotado a R$ 5,6136. Veja mais cotações.
No dia anterior, o dólar teve alta de 0,22%, cotado a R$ 5,6652. Na máxima do dia, chegou a R$ 5,7007.
Com o resultado, acumulou:
avanço de 1,37% na semana;
ganho de 1,37% no mês;
alta de 16,75% no ano.

Ibovespa
O Ibovespa abriu em alta de 0,81%, aos 125.798 pontos.
Na véspera, o índice teve alta de 0,06%, aos 124.787 pontos.
Com o resultado, acumulou:
alta de 0,71% na semana;
ganhos de 0,71% no mês;
perdas de 7% no ano.

LEIA TAMBÉM
DINHEIRO OU CARTÃO? Qual a melhor forma de levar dólares em viagens?
DÓLAR: Qual o melhor momento para comprar a moeda?
Entenda o que faz o preço do dólar subir ou cair
O que está mexendo com os mercados?
A queda do dólar no início deste pregão é motivada pelo cenário internacional, sobretudo os Estados Unidos. Na véspera, o presidente do Fed afirmou acreditar que, até o fim de 2025, a inflação americana deve estar de volta à meta e destacou que o mercado de trabalho no país dá sinais de arrefecimento.
Uma inflação mais controlada permite que o Fed reduza os juros na maior economia do mundo, hoje entre 5,25% e 5,50% ao ano. Quando o mercado de trabalho está muito aquecido, isso gera uma tendência de maior inflação, já que mais dinheiro vai para a mão da população. Por isso, um arrefecimento na criação de vagas é visto como sinal positivo pelo mercado.
"Nos Estados Unidos, o relatório JOLTS de abertura de vagas de trabalho veio acima das expectativas de mercado, mas continuou mostrando uma tendência de desaceleração, com a relação de vagas e o número de desempregados atingindo 1,24", destaca a XP Investimentos, em análise.
Os analista, porém, ressaltam que Powell reforçou que "ainda são necessárias evidências adicionais para se determinar se a tendência de queda é sustentável."
Hoje, o mercado aguarda ainda a divulgação da ata do Fed, que pode mostrar quais são os próximos passos da instituição em relação aos juros, e novos dados de emprego nos Estados Unidos.
Já no cenário doméstico, em meio às recentes tensões entre o presidente Lula e o presidente do BC, Campos Neto, o destaque do pregão desta quarta-feira segue com investidores repercutindo as falas de Lula sobre o BC, enquanto aguardam um desfecho da reunião com Haddad.
Ontem, Lula disse que "não se pode inventar crises" e "jogar a culpa" da disparada do dólar nas últimas semanas nas declarações que ele deu.
"É um absurdo. Obviamente que me preocupa essa subida do dólar. Há uma especulação. Há um jogo de interesse especulativo contra o Real nesse país. Eu tenho conversado com as pessoas o que a gente vai fazer. Estou voltando quarta-feira, vou ter uma reunião. Não é normal o que está acontecendo", argumentou Lula.
Ele voltou a falar, também, sobre o comando do BC, defendendo que a instituição seja autônoma e que Campos Neto tem um viés político.
"A gente precisa manter o Banco Central funcionando de forma correta, com autonomia, para que o presidente do Banco Central não fiquei vulnerável às pressões políticas. (…) Quando você é autoritário você resolve fazer com que o mercado se apodere de uma instituição que deveria ser do Estado. Ele não pode estar à serviço do sistema financeiro, ele não pode estar à serviço do mercado".
Na segunda, Lula já havia dito que o próximo presidente do BC deve olhar para o Brasil "do jeito que ele é e não do jeito que o sistema financeiro fala".
"Eu estou há dois anos com o presidente do Banco Central do [ex-presidente Jair] Bolsonaro, não é correto isso", afirmou o presidente nesta segunda-feira, ponderando que a autonomia do BC foi aprovada pelo Congresso e será respeitada.
"Eu tenho que, com muita paciência, esperar a hora de indicar o outro candidato, e ver se a gente consegue… ter um presidente do Banco Central que olhe o país do jeito que ele é, e não do jeito que o sistema financeiro fala", acrescentou, destacando que "quem quer BC autônomo é o mercado".
O mandato de Campos Neto acaba em 2024 e que, desde 2021, a legislação brasileira determina a autonomia do BC, que deve tomar suas decisões sem interferência política. No entanto, Lula afirmou que vai indicar para a presidência da instituição alguém com "compromisso com o crescimento do país".
A legislação determina que o presidente e os diretores do BC terão mandatos de 4 anos não coincidentes com a presidência da República — um novo presidente assume o BC, então, no terceiro ano de mandato de cada presidente da República. Cabe ao presidente da república indicar nomes para o comando do BC, mas estes só serão aprovados com aval do Senado Federal.
Lula também disse que preza pela responsabilidade fiscal e que inflação baixa é sua obsessão, usando como exemplo a decisão do governo de manter a meta para a evolução dos preços em 3%. O presidente ainda afirmou, ontem à noite, que não tem que prestar contas "a nenhum ricaço desse país, a nenhum banqueiro".
"Tenho que prestar contas ao povo pobre, trabalhador deste país, que precisa que a gente tenha cuidado e que a gente cuide deles".
As falas recentes do presidente se juntam às críticas feitas por ele à instituição desde a semana passada. Lula disse que "a taxa de juros de 10,5% é irreal para uma inflação de 4%", reiterando que a Selic deve melhorar quando ele indicar o substituto de Campos Neto.
Nesta terça-feira, presidente do Banco Central deu uma resposta. Afirmou que a interrupção do ciclo de corte de juros pela instituição, em junho deste ano, "tem a ver muito mais com ruídos que nós criamos do que com os fundamentos [da economia]".
Ele não detalhou, na declaração, quem criou os ruídos citados. A declaração foi dada durante palestra no Forum on Central Banking, promovido pelo Banco Central Europeu (ECB), em Portugal (Sintra).
"Isso [interrupção dos cortes de juros] tem a ver muito mais com ruídos que nós criamos do que com os fundamentos [da economia]. E os ruídos estão relacionados com dois canais: um é a expectativa do caminho da política fiscal [arrecadação e gastos públicos], e o outro é a expectativa sobre o futuro da política monetária [decisões sobre a taxa de juros]", disse.
"Então, quando você tem esses dois [ruídos] ao mesmo tempo, criou-se uma incerteza suficiente que, para nós, precisávamos interromper e ver como podíamos arrumar esse canal, e como nós podemos nos comunicar melhor para eliminar esses ruídos", afirmou Campos Neto.
De acordo com ele, há uma "grande desconexão" entre os dados correntes da economia, como as informações sobre as contas públicas, e as informações sobre política monetária (inflação e seu impacto na taxa de juros) e as expectativas dos agentes do mercado financeiro.
"O que aconteceu no Brasil é que as expectativas começaram a subir apesar de os dados correntes [de inflação] estarem vindo conforme o esperado", explicou o presidente do BC.
Além do conflito entre governo e BC, o mercado segue atento ao cenário fiscal do país, principalmente após o resultado consolidado do setor público ter revelado um déficit superior às projeções do mercado, na semana passada.

Haddad se reúne fora da agenda com Lula em busca de saídas para a alta do dólar e o corte de gastos

Presidente e ministro devem passar o dia juntos, em cerimônias do Plano Safra e reuniões. Mercado avalia que falas de Lula contra o BC têm pressionado dólar e gerado dúvidas sobre política fiscal. Haddad se reúne com Lula no Palácio da Alvorada
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, chegou ao Palácio da Alvorada por volta das 8h20 desta quarta-feira (3) para uma reunião com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
A TV Globo registrou a chegada do carro de Haddad à residência oficial da Presidência da República. A reunião já era esperada para esta quarta, mas o horário não tinha sido divulgado.
Segundo interlocutores do Ministério da Fazenda, a tendência é que o ministro Haddad passe o dia em reuniões internas e eventos no Palácio do Planalto.
Nesses encontros, Lula e Haddad devem discutir saídas para o momento atual da economia, marcado por fortes tensões entre governo e mercado:
o dólar, em disparada, tem atingido os maiores valores em dois anos e meio;
o governo tenta achar espaço no orçamento para cortar gastos públicos;
Lula voltou a fazer duras críticas ao presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e ao nível da taxa de juros da economia, hoje em 10,5% ao ano;
o presidente elevou o tom das reclamações contra o mercado, a quem acusa de especular em cima da alta do dólar.
A agenda oficial de Lula prevê dois eventos de lançamento do Plano Safra – um pela manhã, para as linhas voltadas à agricultura familiar, e outro à tarde para o agronegócio.
Lula também convocou uma reunião no Planalto às 16h30 com a equipe econômica. Além de Haddad, foram chamados os ministros Rui Costa (Casa Civil), Simone Tebet (Planejamento e Orçamento), Esther Dweck (Gestão e Inovação).
Participam do encontro, ainda, o secretário-executivo de Haddad, Dario Durigan, e o secretário de Análise Governamental da Casa Civil, Bruno Moretti.
Lula e Haddad vão debater pauta econômica nesta quarta
Incerteza na economia
A sequência de reuniões ocorre em meio a um momento de tensão na economia do país:
o dólar, em disparada, tem atingido os maiores valores em dois anos e meio
o governo busca formas de cortar gastos públicos para garantir equilíbrio fiscal
Lula tem confrontado o mercado, que gostaria de ações mais claras do governo no sentido de conter despesas
No Orçamento deste ano, o governo prevê um déficit zero nas contas públicas. Isso significa que despesas e receitas têm que se equivaler.
Se as despesas forem maiores, o governo registrará um déficit fiscal, o que gera no sistema financeiro e no setor produtivo uma dúvida quanto à capacidade do governo de saldar suas dívidas e manter a inflação sob controle.
Isso dificulta a vinda de investimentos para o país.
Nesta segunda, Haddad reconheceu que o dólar está em patamar alto (ultrapassou os R$ 5,65). O ministro atribuiu esse movimento a "muitos ruídos" de comunicação.
Para Haddad, o governo precisa melhorar a comunicação sobre os bons resultados na economia.
Edmar Bacha e Silvia Faria comentam efeito das declarações de Lula sobre a economia