Acidentes com mortes e amputações aumentam nas lavouras de café e período de colheita exige cuidado com máquinas

Lula recebe Haddad e equipe econômica para reuniões nesta quarta em meio à alta do dólar e necessidade de corte de gastos
De acordo com a Superintendência Regional do Trabalho do Espírito Santo, o estado apresentou um aumento de mortes e amputações em acidentes nos cafezais do estado. Homem morre em acidente com colheita de café no ES
A morte de mais um trabalhador durante a colheita de café no Espírito Santo acende o alerta para o aumento de acidentes de trabalho em meio ao avanço da mecanização nas lavouras. Ademar Pereira da Vitória, de 45 anos, morreu atropelado por uma colheitadeira que estava acoplada a um trator (assista acima).
O acidente aconteceu no dia 25 de junho em Linhares, na Região Norte capixaba, mas não se trata de um caso isolado. De acordo com a Superintendência Regional do Trabalho do Espírito Santo, o estado apresentou um aumento de mortes e amputações em virtude dessas ocorrências.
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“Observamos um aumento gradativo desses acidentes. Acidentes graves, com mutilações graves, que até trouxeram óbitos em nosso estado, a maioria na Região Norte”, disse o auditor fiscal e superintendente Alcimar Candeias.
Em todo o ano de 2023, o Espírito Santo registrou 50 acidentes de trabalho nos cafezais do estado. Já em primeiro semestre deste ano, 24 ocorrências já foram recebidas pela Superintendência.
"Às vezes, o acidente acontece, mas as empresas não informam que foi acidente de trabalho à Superintendência. Dessa forma, ocorrem as subnotificações. Acreditamos que o número pode ser muito maior", comentou.
O auditor fiscal e superintendente Regional do Trabalho completou ainda que o produtor rural pode ser multado caso seja identificado irregularidades nas condições de trabalho.
"Se o auditor visitar uma propriedade e identificar que a máquina oferece riscos graves, nós teremos que interditar os equipamentos, o que levará à suspensão das colheitas naquela propriedade", completou.
Acidentes fatais
Ademar Pereira da Vitória, de 45 anos
Reprodução/TV Gazeta
No caso do Ademar, segundo relatos de testemunhas à polícia, o condutor do trator era um enteado de dele, que estava utilizando o equipamento para recolher lonas da lavoura, quando de repente a vítima caiu embaixo do maquinário.
Quando as pessoas que estavam no local foram socorrer, Ademar já não tinha mais sinais de vida. Uma equipe do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) constatou o óbito e acionou a perícia.
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Os amigos de Ademar disseram que suspeitam que o trabalhador tenha passado mal ou tropeçado, mas ninguém soube explicar o que realmente aconteceu.
O enteado da vítima fez o teste de bafômetro, que deu negativo. Ele não tem Carteira Nacional de Habilitação (CNH) e nem especialização em operação de máquinas. O caso continua em investigação.
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Outro acidente registrado ainda neste ano tirou a vida de Lucimar Arrivabene, em Rio Bananal, também na Região Norte. Em maio, o trabalhador morreu enquanto fazia uma manutenção no fosso do elevador da propriedade, quando morreu.
O Corpo de Bombeiros do Espírito Santo (CBMES) suspeita que a causa da morta tenha sido sufocamento devido ao processo de fermentação do grão, que gerou um ambiente com pouco oxigênio.
O trabalhador Lucimar Arrivabene morreu enquanto fazia uma manutenção no fosso do elevador da propriedade em maio de 2024, no Espírito Santo
Reprodução/TV Gazeta
“Ele caiu em um poço de 4 a 5 metro sem ventilação, com a fermentação dos frutos do café que gerou uma atmosfera sem oxigênio e provocou o desmaio. Provavelmente, foi sufocamento.”, explicou o sargento Rovetta, do Corpo de Bombeiros.
Também em 2024, um incêndio em uma secadora foi registrado em Jacupemba, em Aracruz. Na ocasião, o fogo tomou conta da máquina e todo o café que estava dentro foi perdido. Ninguém ficou ferido e os próprios trabalhadores conseguiram apagar as chamas.
Mecanização exige cuidado
Acidentes com secadores de grãos aumentam com início da colheita do café no ES
A cafeicultura movimenta mais de R$ 1 bilhão por ano no Espírito Santo. Todo esse lucro é gerado com a ajuda de máquinas, como as colheitadeiras e os secadores, que operam a todo vapor durante o período de colheita.
A colheitadeira é um equipamento que combina diversas tarefas agrícolas, como colheita, debulha e limpeza de culturas de grãos; já os secadores, são equipamentos com uma tecnologia para auxiliar no processo de secagem do café.
Sem essas tecnologias, todo o café produzido no Espírito Santo teria que ser colhido e secado artesanalmente, uma logística impossível considerando que o estado produz milhões de sacas por ano. Para evitar que uma solução se transforme em um problema, os produtores têm que tomar uma série de cuidados para prevenir acidentes.
Colheitadeira de café conta com mecanismos de segurança para evitar acidentes.
Reprodução/TV Gazeta
A mecanização é importante, mas sem abrir mão de segurança. Na colheitadeira, por exemplo, foi instalado um botão de ligar e desligar a máquina, o que contribui para o controle do condutor.
Já no caos dos secadores, um cuidado fundamental é com a emissão de fumaça. Neste caso, as prefeituras fiscalizam os horários em que a palha pode ou não ser utilizada nas fornalhas. Segundo a legislação, antes das 8h e após as 17h, o produtor só pode usar a lenha com o objetivo de evitar que a fumaça tome conta das estradas e prejudique a visibilidade dos motoristas.
O secretário de Meio Ambiente de Rio Bananal, Leonardo Vasconcelos, acrescentou ainda que a fiscalização ambiental exige uma fonte de água perto do maquinário justamente para evitar acidentes como estes.
"Dentro da licença ambiental que eles recebem, automaticamente eles recebem uma série de orientações e recomendações que devem seguir justamente para que não venham a ocorrer acidentes e para que impactos ambientais dessa atividade sejam mitigados”, explicou o secretário.
Secadores de café: máquinas precisam ser manuseadas com cuidado para evitar acidentes.
Reprodução/TV Gazeta
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Treinamento para evitar acidentes
Outra iniciativa para evitar o crescimento do número de acidentes que está sendo utilizado pelos produtores rurais é o treinamento de trabalhadores antes de iniciar o trabalho.
Sem os secadores de café, processo seria manual, dificultando o escoamento da safra no Espírito Santo
Reprodução/TV Gazeta
De acordo com o presidente do Sindicato Rural de Linhares, Antonio Roberte Bourguignon, a entidade oferece capacitação e trabalho em parceria com órgãos fiscalizadores.
"Nós estamos com treinamentos contínuos para os trabalhadores usarem as máquinas corretamente e sem imprudência. A maioria dos acidentes são por imprudência. Com essa capacitação, junto com o melhoramento da máquina, acredito que vamos passar sem acidentes nas lavouras de café", destacou Bourguignon.
Produtores colhendo café
Reprodução/TV Gazeta
Um dos produtores rurais que exige o treinamento como pré-requisito para trabalhar nas lavouras de café é Almir Gaburro, que tem uma propriedade em Linhares. Segundo ele, a parceria é feita com o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) durante o processo de contratação.
“Só aceitamos o colaborador após o curso do Senai, seja para o tratorista ou operador da máquina. Eu faço a agenda, marco com o Senar. Daí, além do trabalhador ir lá. O Senar também faz um curso local na propriedade”, comentou o produtor.
Um dos trabalhadores que fez este treinamento foi Domingos Danilo Ferreira, que trabalha na propriedade do Almir. "O Senar explica tudo para que você entenda com o que está trabalhando, com o que está labutando, para a sua segurança", finalizou Danilo.
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Órgão ligado ao governo manda Meta suspender, no Brasil, uso de dados de usuários para treinar inteligência artificial

Lula recebe Haddad e equipe econômica para reuniões nesta quarta em meio à alta do dólar e necessidade de corte de gastos
Despacho da ANPD foi publicado nesta terça e prevê multa de R$ 50 mil. Uso dos dados para treinar IA consta em nova política de privacidade; Meta diz estar 'desapontada' com decisão. A Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD) determinou que a Meta – big tech responsável pelo Facebook, Instagram e WhatsApp – suspenda, no Brasil, a validade da nova política de privacidade da empresa sobre o uso dos dados pessoais dos brasileiros. O órgão é uma autarquia federal ligada ao Ministério da Justiça.
Os novos termos de uso passaram a permitir que a empresa use dados de publicações abertas de usuários, como fotos e textos, para treinar sistemas de inteligência artificial (IA) generativa.
⚠️ Por que isso importa? Porque o conteúdo que milhões de pessoas postam no Instagram e no Facebook está servindo para treinar inteligência artificial sem a empresa oferecer contrapartidas, nem informações detalhadas sobre onde a ferramenta poderá ser usada.
A prática foi alvo de questionamento na Europa e, no Brasil, pelo Instituto de Defesa de Consumidores (Idec).
Em nota, a Meta disse estar "desapontada" com a decisão da autoridade nacional e defendeu que a abordagem da empresa para a inteligência artificial está de acordo com a legislação brasileira.
"Treinamento de IA não é algo único dos nossos serviços, e somos mais transparentes do que muitos participantes nessa indústria que têm usado conteúdos públicos para treinar seus modelos e produtos," diz o comunicado.
"Nossa abordagem cumpre com as leis de privacidade e regulações no Brasil, e continuaremos a trabalhar com a ANPD para endereçar suas dúvidas. Isso é um retrocesso para a inovação e a competividade no desenvolvimento de IA, e atrasa a chegada de benefícios da IA para as pessoas no Brasil", prossegue a Meta.
O que a Meta diz sobre a coleta de dados para treinar IA e como desativar
Por que a prática está sendo questionada?
Como impedir Instagram e Facebook de usarem suas fotos para treinar IA
Meta passa a coletar dados das redes para IA. Saiba passo a passo para desativar
O despacho da ANPD foi publicado no "Diário Oficial da União" desta terça-feira (2) e prevê multa de R$ 50 mil por dia de descumprimento "em virtude do risco iminente de dano grave e irreparável ou de difícil reparação aos direitos fundamentais dos titulares afetados".
A decisão foi tomada pelo Conselho Diretor da ANPD, e o documento é assinado pelo diretor-presidente da autoridade, Waldemar Gonçalves. Segundo o despacho, a ordem é para cumprimento imediato.
A medida acontece após o Idec alertar a ANPD, a Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon) e o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) sobre a nova prática da Meta.
Para o instituto de defesa do consumidor, a forma como a empresa está usando dados viola leis brasileiras porque os usuários não foram avisados de antemão, a opção que permite se opor à prática é "pouco intuitiva", e pode haver uma vantagem excessiva para a empresa (saiba mais).
No prazo de cinco dias, a partir de quando for intimada, a Meta deve apresentar ao governo:
documentação que ateste a mudança da Política de Privacidade dos serviços da empresa, para excluir esse trecho sobre o uso dos dados pessoais para treinar IAs generativas;
declaração assinada por representante legal atestando que o uso dos dados foi suspenso.
Dados pessoais para 'treinar' IA
O caso ganhou atenção em 4 de junho, depois que a Meta informou na União Europeia e no Reino Unido que a sua política de privacidade passaria a prever a possibilidade de usar dados de usuários para treinar sua IA.
Com a repercussão negativa, a empresa voltou atrás e adiou a mudança da política na Europa – mas não fez o mesmo para o Brasil.
Quando o Idec acionou o governo contra a nova política de privacidade desses serviços, a Meta afirmou que o uso das informações para treinar uma inteligência artificial é de seu legítimo interesse, bem como de seus usuários e outras pessoas.
"Estamos comprometidos em desenvolver a inteligência artificial na Meta – nossa coleção de recursos e experiências generativas de inteligência artificial junto com os modelos que os alimentam – de forma segura, responsável e atendendo as regulações de privacidade no Brasil", disse a companhia ao g1 em 23 de junho.
Treinamentos de modelos de inteligência artificial envolvem o uso de grandes quantidades de dados e são necessários para que, em uma etapa seguinte, eles sejam capazes de analisar informações e até gerar conteúdo por conta própria.
O passo a passo para desativar a coleta de informações no Instagram
g1
Grupo Globo atualiza princípios editoriais para incluir uso de inteligência artificial

Decisão contra a Meta no Brasil não impede inovação em IA, dizem especialistas

Lula recebe Haddad e equipe econômica para reuniões nesta quarta em meio à alta do dólar e necessidade de corte de gastos
Meta, dona do Instagram e do Facebook, disse que decisão contra uso de fotos e textos de usuários para treinar sua inteligência artificial 'é um retrocesso'. Pesquisadores ouvidos pelo g1 afirmaram que argumento já foi usado em outras ocasiões e que não há evidências para a alegação da empresa. Meta Inteligência Artificial
Reuters/Dado Ruvic/Illustration/File Photo
O argumento usado pela Meta, dona do Instagram e do Facebook, contra a ordem do governo para suspender o uso de dados como fotos e textos para treinar sua inteligência artificial (IA) é questionado por especialistas.
Para a Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD), há "indícios de violação de direitos" na coleta de dados pessoais pela Meta.
A Meta reagiu dizendo que a decisão "é um retrocesso para a inovação e a competitividade no desenvolvimento de IA, e atrasa a chegada de benefícios de IA para as pessoas no Brasil" (veja ao final a íntegra do posicionamento).
A gerente de Campanhas Globais da organização Digital Action, Bruna Martins Santos, destacou que o posicionamento usado agora pela Meta já foi adotado por gigantes de tecnologia em outras ocasiões.
"O argumento de que uma coisa vai barrar a inovação é a carta mais antiga do baralho de políticas de tecnologia no Brasil. A gente ouviu esse argumento quando discutiu o Marco Civil da Internet, quando discutiu a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD)".
O que diz a Lei Geral de Proteção de Dados? Veja perguntas e respostas
Para o codiretor da Data Privacy Brasil, Rafael Zanatta, não há evidências para o argumento da Meta. "Não há estudos, nenhum dado científico que mostre que certos tipos de escolhas de proteção de dados pessoais vão travar o desenvolvimento econômico".
"Inclusive, o contraponto é que talvez traga mais segurança jurídica saber a fronteira do que pode e do que não pode, do que ficar essa zona meio cinzenta. Acho que a ANPD, na verdade, ajuda o segmento econômico", disse Zanatta ao g1.
Para Bruna, o posicionamento da empresa não contribui para a discussão. "Coloca a Autoridade Nacional de Proteção de Dados como um ator contrário à inovação, o que não é o caso. A atuação da ANPD visa tentar defender direitos fundamentais, como o direito à privacidade e à proteção de dados", afirmou.
Por que a prática da Meta está sendo questionada?
Usuários enfrentam 'labirinto'
Em sua decisão, a ANPD destacou que, para impedir a coleta de seus dados pela IA, o usuário "precisa passar por diversas etapas, chegando à necessidade de clicar em oito opções no caso do aplicativo Facebook".
O processo também é chamado de "opt-out", termo em inglês que se refere ao direito de se opor a uma prática. Mas a autoridade entendeu que o caminho criado pela Meta não está de acordo com a LGPD, que exige opções fáceis para usuários tirarem o consentimento sobre um tratamento de dados.
Pela política da Meta, mesmo após completar o processo de saída, não há garantia de que o uso dos seus dados pela IA será interrompido. A empresa diz que os pedidos serão analisados de acordo com as leis de proteção de dados relevantes.
"Se a sua solicitação for atendida, ela será aplicada a partir do momento que for aceita", diz a companhia, em seu site.
Como impedir a Meta de usar suas fotos e postagens para treinar inteligência artificial
A LGPD estabelece várias obrigações para empresas após o usuário ter dado seu consentimento ou aceitado os termos de uso. Uma delas é a necessidade de ser transparente com usuários.
Segundo Bruna Martins dos Santos, é preciso "informar titulares de dados sobre o direito de retirar o consentimento e sobre como isso pode ser feito".
"Links de descadastramento têm que ser colocados em lugares de fácil acesso para que o usuário saiba onde pode exercer esse direito", afirmou.
"Qualquer coisa que entre no caminho ou que crie alguma espécie de resistência a esse direito é uma limitação do direito de 'opt-out', é uma limitação dos princípios e deveres que estão colocados na LGPD".
Para Rafael Zanatta, o modelo oferecido pela Meta é uma espécie de "labirinto" por conta da dificuldade de chegar à opção.
"A ANPD enxergou que existe um obstáculo muito grande para pessoas conseguirem fazer o 'opt-out', para desativar o treinamento de dados para a IA do grupo Meta", afirmou.
"Não é razoável instituir oito etapas até a pessoa chegar no processo de saída. A Meta pode, por uma escolha de design, fazer isso em uma ou duas etapas. Não são coisas extremamente custosas", avaliou.
Confira a íntegra da nota enviada pela Meta:
"Estamos desapontados com a decisão da ANPD. Treinamento de IA não é algo único dos nossos serviços, e somos mais transparentes do que muitos participantes nessa indústria que têm usado conteúdos públicos para treinar seus modelos e produtos. Nossa abordagem cumpre com as leis de privacidade e regulações no Brasil, e continuaremos a trabalhar com a ANPD para endereçar suas dúvidas. Isso é um retrocesso para a inovação e a competividade no desenvolvimento de IA, e atrasa a chegada de benefícios da IA para as pessoas no Brasil".
O passo a passo para desativar a coleta de informações no Instagram
g1
Meta passa a coletar dados das redes para IA. Saiba passo a passo para desativar

O que é a ANPD, que determinou que Meta pare de usar dados de brasileiros para treinar inteligência artificial

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Órgão do governo federal foi criado em 2020 para zelar pela proteção de dados pessoais e fiscalizar as regras definidas pela Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD). Entre os objetivos da Lei Geral de Proteção de Dados está assegurar o direito à privacidade e à transparência no trato dessas informações.
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A Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD), que determinou que a Meta pare de usar dados que brasileiros postam em suas redes sociais para treinar inteligência artificial, foi criada 2020.
É o órgão da Presidência da República responsável por zelar pela proteção de dados pessoais e fiscalizar as regras definidas pela Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), que começou a vigorar naquele ano.
A LGPD estabelece quais dados são pessoais ou sensíveis e como essas informações devem ser tratadas e armazenadas por empresas, como as que gerenciam redes sociais, e pelo poder público.
São exemplos de dados pessoais: nome, endereço, e-mail, idade, estado civil, CPF e situação patrimonial.
As empresas e o poder público têm obrigação de informar aos cidadãos, de forma clara, quais dados são coletados e o que é feito com eles. E os usuários precisam concordar com a prática.
➡️ É por isso que sites, plataformas e aplicativos pedem que você se declare ciente de suas políticas de privacidade (ou termos de uso) quando você se cadastra neles, por exemplo.
Nem sempre uma empresa terá que solicitar o seu consentimento. Quando a companhia precisar cumprir uma obrigação legal ou elaborar um contrato, por exemplo. E também existem exceções para fins de segurança pública ou segurança do Estado.
Cabe à ANPD fiscalizar se essas regras estão sendo cumpridas. É ela também que precisa ser acionada pelas empresas ou o poder público se ocorrer um vazamento de dados.
O caso da Meta
No caso da Meta, a ANPD mandou que a empresa pare de usar fotos e textos de perfis brasileiros em suas redes sociais — Facebook e Instagram — para treinar a sua inteligência artificial. Isso porque a autoridade constatou "indícios de violação de direitos" nessa coleta de dados.
Como impedir Instagram e Facebook de usarem suas fotos e postagens para treinar a IA
A prática, que afeta usuários do mundo todo, não foi anunciada antecipadamente pela Meta.
Ela veio à tona no mês passado, depois que a companhia informou na União Europeia e no Reino Unido que a sua política de privacidade passaria a prever a possibilidade de usar dados de usuários para treinar sua IA.
Com a repercussão negativa, a empresa voltou atrás e adiou a mudança da política na Europa – mas não fez o mesmo para o Brasil.
Como a prática violaria a LGPD
Um dia antes de o governo determinar que a Meta suspenda essa coleta de dados, o Instituto de Defesa de Consumidores (Idec) anunciou que havia alertado a ANPD, a Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon) e o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) sobre os riscos dessa prática.
Para o Idec, a forma como a empresa está usando dados viola leis brasileiras porque os usuários não foram avisados de antemão e a opção que permite que eles se oponham à prática é "pouco intuitiva".
Meta passa a coletar dados das redes para IA. Saiba passo a passo para desativar
A ANPD também apontou que o tratamento dos dados de crianças e adolescentes deveria ser feito de um modo diferente das demais pessoas, como previsto pelo Estatuto da Criança e do Adolescente.
E entendeu que a Meta não pode justificar a utilização dos dados pessoais para treinamento da IA como "legítimo interesse", que é quando a empresa não tem intenção de colocar em risco as informações coletadas.
"Essa é uma hipótese legal que não pode ser usada para o tratamento de dados pessoais sensíveis, por exemplo, referentes à origem étnica, racial, vinculação política, dados de saúde, dados de religião, dados de vida sexual, enfim, esses dados não podem ser tratados com base no legítimo interesse do controlador", afirmou Miriam Wimmer, diretora da ANPD.
Como a ANPD pode punir
"Esta foi a primeira vez que adotamos uma medida efetiva, de natureza cautelar preventiva, justamente em função da existência de indícios de violação de direitos que pode gerar danos de difícil reparação ou irreparáveis", concluiu Wimmer.
Se a ANPD considerar que são necessárias sanções, a lei estabelece alguns critérios e limites. A multa só pode chegar a 2% do faturamento da empresa ou no máximo a R$ 50 milhões.
Esse dinheiro é destinado ao Fundo de Defesa de Direitos Difusos (FDD), que financia projetos que tenham como objetivo reparação de danos ao consumidor, meio ambiente, patrimônio e outros.
Ou seja, o dinheiro não é direcionado para as vítimas do descumprimento da lei. Mas, se um cidadão se sentir prejudicado, ele poderá procurar órgãos de defesa do consumidor ou a Justiça para a reparação de danos.
Nesses casos, haverá direito à indenização caso fique comprovada uma ligação entre o descumprimento da LGPD e algum prejuízo sofrido.
A ANPD também poderá optar por outras medidas, como advertência, bloqueio dos dados ou eliminação das informações.

Lula recebe Haddad e equipe econômica para reuniões nesta quarta em meio à alta do dólar e necessidade de corte de gastos

Governo diz somente que a reunião tratará do 'tema fiscal'. Mercado avalia que falas de Lula contra o Banco Central têm gerado dúvidas sobre o comprometimento da política fiscal do governo. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebe nesta quarta-feira (3) o ministro da Fazenda, Fernando Haddad. O encontro, já anunciado por Haddad, ocorre em meio a um momento de tensão na economia do país:
o dólar, em disparada, tem atingido os maiores valores em dois anos e meio
o governo busca formas de cortar gastos públicos para garantir equilíbrio fiscal
Lula tem confrontado o mercado, que gostaria de ações mais claras do governo no sentido de conter despesas
Oficialmente, o governo diz somente que a reunião de Lula e Haddad tratará do "tema fiscal".
No Orçamento deste ano, o governo prevê um déficit zero nas contas públicas. Isso significa que despesas e receitas têm que se equivaler. Se as despesas forem maiores, o governo registrará um déficit fiscal, o que gera no sistema financeiro e no setor produtivo uma dúvida quanto à capacidade do governo de saldar suas dívidas e manter a inflação sob controle. Isso dificulta a vinda de investimentos para o país.
A reunião de Lula com Haddad ainda não tem horário divulgado.
Às 16h, no Palácio do Planalto, o presidente terá outro encontro, desta vez com a Junta de Execução Orçamentária (JEO), responsável pelo assessoramento direto ao Presidente da República na condução da política fiscal do governo. Fazem parte da JEO Haddad e outras autoridades da Fazenda.
'Ruídos'
Nesta segunda, Haddad reconheceu que o dólar está em patamar alto (ultrapassou os R$ 5,65). O ministro atribuiu esse movimento a "muitos ruídos" de comunicação.
Para Haddad, o governo precisa melhorar a comunicação sobre os bons resultados na economia.
"Atribuo a muitos ruídos [a alta no dóçar]. Já falei isso no conselho, Conselhão [Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável], falei disso. Precisa comunicar melhor os resultados econômicos que o país está atingindo, por exemplo, tive hoje mais uma confirmação sobre atividade econômica e arrecadação de junho. Fechou hoje, mês de junho ficou acima do previsto pela Receita Federal. Ou seja, nós estamos no sexto mês de boas notícias na atividade econômica e na arrecadação", disse o ministro.
Economistas avaliam que falas de Lula criticando a política do Banco Central e pedindo menor taxa de juros pressionam o dólar para cima, assim como declarações recentes em que o presidente disse que não tem que dar satisfações ao mercado.
Também na segunda, Haddad já havia adiantado que teria uma conversa nesta semana com Lula.
"Eu tenho conversado com ele com bastante frequência nos últimos dias. Estive com ele semana passada umas duas ou três vezes conversando sobre isso [cenário fiscal]. E ficamos de retomar", disse o ministro.