Privatização da Sabesp: como comprar ações e o que dizem analistas sobre a companhia

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Período de reserva de ações começou nesta segunda-feira (1°) e vai até dia 15. Especialistas estão otimistas com o futuro da empresa, mas destacam riscos para o investimento. Caixas de tratamento de água da Sabesp no estado de São Paulo.
Divulgação/Sabesp
O período para a reserva de ações da Sabesp começou nesta segunda-feira (1°) e vai até o próximo dia 5, em meio ao processo de privatização da empresa de saneamento básico paulista.
O objetivo do governo do Estado de São Paulo é reduzir sua participação acionária na companhia de 50,3% para 18%. Os outros 49,7% dos papéis já eram listados em bolsa de valores.
Do total de ações disponibilizadas para a desestatização da empresa, 15% foram abocanhadas pelo grupo Equatorial Participação e Investimentos, que passa a ser o acionista de referência da companhia. Outros 17% podem ser adquiridas por qualquer investidor, inclusive pessoas físicas.
A principal forma de conseguir comprar ações da Sabesp neste processo é por meio da reserva de papéis, processo simples que pode ser realizado por meio da conta do investidor em qualquer corretora de valores.
Veja abaixo como fazer a reserva de ações e qual a opinião de analistas do mercado financeiro sobre o investimento na companhia.
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Como reservar ações da Sabesp?
Para participar da oferta das ações da Sabesp que serão disponibilizadas ao mercado, o investidor precisa acessar o ambiente logado de sua corretora de valores.
Neste portal, basta procurar pela opção de "ofertas públicas" e escolher a Sabesp, que é negociada na bolsa de valores brasileira, a B3, sob o código SBSP3.
No momento da reserva, ainda não há a definição de qual será o preço da ação da empresa quando ela for disponibilizada ao mercado. Isso só é definido ao fim do período de reservas, a depender da busca pelo papel.
Então, ao reservar as ações, o investidor precisa indicar:
O valor financeiro que quer desembolsar no investimento;
O preço máximo que aceita pagar por ação.
O primeiro item é a quantia que o investidor quer desembolsar nas ações (como R$ 500, por exemplo). Já o segundo, é quanto ele quer dar por cada papel (como R$ 50 para cada, no máximo).
Assim sendo: se o preço de cada ação ficar, de fato, em R$ 50, o investidor passará a deter 10 papéis da companhia com os R$ 500 indicados na reserva.
No caso da Sabesp, a Equatorial pagou cerca de R$ 67 por cada ação que adquiriu. Então, é provável que o valor fixado para acionistas pessoas físicas na reserva de ações seja algo próximo ao que foi pago pelo grupo acionista de referência.
⚠️ ATENÇÃO: Caso você não tenha uma conta em nenhuma corretora de valores e queira participar da reserva de ações da Sabesp, é importante criar o cadastro o quanto antes. A instituição pode levar alguns dias para aprovar o perfil e, então, liberar o acesso ao portal e aos investimentos.
Governo de SP vai manter 18% das ações da Sabesp após privatização
Mercado financeiro está otimista
Segundo especialistas ouvidos pelo g1, a oferta de ações da Sabesp pode ser uma boa oportunidade para os investidores que estão familiarizados com o mercado de ações, desde que mapeando muito bem os riscos envolvidos.
A maior vantagem, explicam, é justamente o setor de atuação da Sabesp. O saneamento básico é um serviço essencial para a sociedade, independentemente do momento financeiro.
"Isso, por si só, traz alguns diferenciais, como maior previsibilidade de receitas e reajustes, possibilidade da expansão dos serviços nas regiões geográficas sob concessão, entre outros. Dessa forma, as empresas tendem a ser mais estáveis", comenta Alexandre Pletes, líder de renda variável da Faz Capital.
Robert Machado, analista CNPI da CM Capital, pontua que, até aqui, "a Sabesp tem apresentado eficiência operacional e números consistentes em seus balanços, reforçando sua posição como boa pagadora de dividendos".
No primeiro trimestre de 2024, por exemplo, a companhia registrou um lucro de mais de R$ 800 milhões e distribuiu Juros Sobre Capital Próprio (JCP) de R$ 1,4404 por ação. E apesar de a empresa já entregar números positivos, os analistas enxergam grande chance de valorização da companhia nos próximos meses, caso a privatização seja concluída com sucesso.
João Victor Parente, analista de ações da AZ Quest, explica que, atualmente, a Sabesp é negociada por valores abaixo do seu potencial, por conta de "um histórico de ineficiências regulatórias e operacionais".
"Assim, com uma nova regulação, e com maior eficiência operacional advinda da desestatização, a empresa poderia negociar a múltiplos maiores", completa.
O analista-chefe da EQI Research, Luís Moran, compartilha do mesmo ponto de vista e destaca que a empresa está em um "ponto de inflexão", em que, prestes a ser privatizada, "tem aumentado sua eficiência, reduzindo custos e otimizando investimentos".
O analista afirma que redução de custos e do custo de capital próprio são os principais potencializadores de valor para a tese de investimentos. "Vemos uma significativa geração de valor com o programa de investimentos de aproximadamente R$55 bilhões nos próximos anos, a um custo de capital próprio mais baixo".
"Além disso, a Sabesp privatizada pode ser a maior plataforma de investimentos em saneamento no Brasil, capturando oportunidades e gerando valor em um mercado que deve requerer quase R$900 bilhões em investimentos nos próximos 10 anos", diz Moran.
Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, também acredita que a privatização pode impulsionar os resultados da companhia, principalmente tendo a Equatorial como acionista de referência.
Ele relembra outras privatizações de empresas brasileira, como Vale e Eletrobras, que "reavaliaram suas operações em diversas regiões, implementaram planos de demissão voluntária para reduzir custos e adotaram novos sistemas e processos".
"Essas mudanças tornaram essas empresas mais lucrativas ao longo do tempo. A Equatorial, que tem um histórico de sucesso em tornar grandes estruturas mais enxutas e lucrativas, é um exemplo relevante e sugere que a Sabesp pode se tornar uma opção atraente para investidores nos próximos anos", diz Cruz.
Quais são os riscos?
Embora o mercado financeiro veja com bons olhos a privatização, há um grau de incerteza sobre o processo por se tratar de um repasse para a iniciativa privada de um serviço essencial para população. Isso pode gerar contestações ao modelo na Justiça e pressões à gestão da Sabesp.
"O grande risco diz respeito à eventual não materialização do processo de privatização, eventual judicialização do pleito e o risco de execução do plano de investimentos caso a privatização se materialize", afirma Vitor Sousa, analista de saneamento da Genial Investimentos.
Como mostrou o g1 em dezembro, críticos da proposta de privatização destacam a Sabesp como um exemplo de empresa pública de saneamento competente, e que as métricas de sucesso do mercado financeiro podem não estar alinhadas com o objetivo de uma empresa de serviço público.
"Uma empresa privada é exigida, por exemplo, em termos de distribuição de resultados. Já uma empresa pública é muito menos cobrada nesse sentido. É uma questão que pode criar problemas relativos à continuidade e à qualidade dos serviços, inclusive ao custo da tarifa", afirmou à época o professor Marco Antonio Rocha, do Instituto de Economia da Unicamp.
Em um paralelo próximo, de privatização de serviços públicos básicos, a Enel — empresa de energia elétrica que detém a concessão do serviço em São Paulo e assumiu o lugar da antiga Eletropaulo — foi alvo de seguidas críticas no início do ano por quedas de energia e demora em reestabelecer o fornecimento.
Até o governado de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), que é entusiasta da privatização da Sabesp, criticou a Enel à época e defendeu que contrato não seja renovado.
Além disso, os analistas ouvidos pelo g1 destacam:
o risco hidrológico, que pode impactar os serviços e receitas da empresa em períodos de seca;
a chance de a empresa não elevar suas tarifas acompanhando a inflação;
os riscos dos investimentos elevados que a companhia deve realizar para aumentar o fator de universalização do atendimento;
mudanças no comando da companhia podem colocar os negócios em direções opostas ao esperado pelo mercado;
o próprio contexto de renda variável, em que o preço das ações pode variar a todo momento, com altas ou quedas expressivas.

Interrupção nos cortes de juros ‘tem a ver muito mais com ruídos que criamos’, diz presidente do BC

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Roberto Campos Neto deu palestra em evento do Banco Central Europeu em Portugal. Presidente do BC não detalhou quais 'ruídos' estão afetando a economia, na visão dele. Presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto
Reuters/Brendan McDermid
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, avaliou nesta terça-feira (2) que a interrupção do ciclo de corte de juros pela instituição, em junho deste ano, "tem a ver muito mais com ruídos que nós criamos do que com os fundamentos [da economia]".
Ele não detalhou, na declaração, quem criou os ruídos citados.
A declaração foi dada durante palestra no Forum on Central Banking, promovido pelo Banco Central Europeu (ECB), em Portugal (Sintra).
"Isso [interrupção dos cortes de juros] tem a ver muito mais com ruídos que nós criamos do que com os fundamentos [da economia]. E os ruídos estão relacionados com dois canais: um é a expectativa do caminho da política fiscal [arrecadação e gastos públicos], e o outro é a expectativa sobre o futuro da política monetária [decisões sobre a taxa de juros]. Então quando você tem esses dois [ruídos] ao mesmo tempo, criou-se uma incerteza suficiente que, para nós, precisávamos interromper e ver como podíamos arrumar esse canal, e como nós podemos nos comunicar melhor para eliminar esses ruídos", disse Campos Neto.
De acordo com Campos Neto, há uma "grande desconexão" entre os dados correntes da economia, como as informações sobre as contas públicas, e as informações sobre política monetária (inflação e seu impacto na taxa de juros) e as expectativas dos agentes do mercado financeiro.
"O que aconteceu no Brasil é que as expectativas começaram a subir apesar de os dados correntes [de inflação] estarem vindo conforme o esperado", explicou o presidente do BC.
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Declarações do presidente Lula
O aumento do dólar, nas últimas semanas, tem acompanhado declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre cortes de gastos, ou a ausência de uma sinalização mais forte de que isso será levado adiante pelo governo, e sobre críticas à atuação do Banco Central.
Nesta terça-feira (2), o dólar voltou a operar em alta e encostou nos R$ 5,68, com investidores ainda repercutindo as mais recentes críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao Banco Central do Brasil (BC), em especial as dirigidas à presidência da instituição.
Às 11h30, o dólar subia 0,45%, cotado a R$ 5,6784. Na máxima do dia, chegou a R$ 5,6869. No dia anterior, o dólar teve alta de 1,15%, cotado a R$ 5,6527. Veja mais cotações.
Em entrevista à Rádio Sociedade, em Salvador (BA), Lula disse que há um "jogo de interesse especulativo" contra o real e que a reação de alta da moeda americana após as críticas feitas por ele ao Banco Central e ao seu presidente, Roberto Campos Neto, "não têm explicação".
Ainda ontem, Lula disse que o próximo presidente da instituição olhará para o Brasil "do jeito que ele é, e não do jeito que o sistema financeiro fala". Após esses comentários, o dólar encerrou o dia vendido a R$ 5,6527, no maior patamar desde 10 de janeiro de 2022.

Reforma tributária: objetivo é manter alíquota em 26,5% e carga neutra, diz grupo de trabalho

O relatório do projeto que vai regulamentar a reforma tributária aprovada em 2023 pelo Congresso terá o objetivo de manter a alíquota total em 26,5% e a "neutralidade" sobre a carga tributária – ou seja, um formato que não aumente o peso atual dos impostos.
A informação é do deputado Claudio Cajado (PP-BA), membro do grupo de trabalho na Câmara que está fechando o relatório em cima do texto enviado pelo governo. O material deve ser apresentado ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), nesta quarta-feira (3).
"Estamos fechando o relatório, não podemos antecipar antes de apresentá-lo ao presidente Arthur Lira e aos líderes partidários. Nosso objetivo é não elevar a alíquota geral de 26,5%, é mantê-la. E garantir que a carga tributária será neutra para os setores da economia", afirmou Cajado ao blog.
O deputado admite, no entanto, que vários setores estão pressionando neste momento de fechamento do relatório.
“Quem não está na cesta básica isenta de impostos quer entrar, quem está na alíquota geral quer cair para a faixa de 60%, é normal que isso aconteça. Mas nossa missão é evitar que a alíquota geral suba, o que seria ruim para o país”, afirmou.
O presidente Lula, por exemplo, quer que as carnes entrem na cesta básica. E já há consenso para a inclusão do frango, por exemplo, mas não para as carnes bovinas.
Os deputados receberam do Ministério da Fazenda os impactos de cada mudança no projeto original encaminhado ao Legislativo. Eventuais mudanças de última hora, no entanto, preocupam setores que podem ser prejudicados pela "perda de competitividade".
Deputados discutem alterações na regulamentação da Reforma Tributária
Setores se movimentam
Dois setores vão tentar barrar propostas na regulamentação que podem prejudicá-los.
O setor de mineração, que pode ter um imposto seletivo de 1% sobre produção para consumo no país e exportação, e o setor da construção civil, que pode perder fontes de financiamento com a possibilidade de tributação dos fundos imobiliários.
O presidente do Instituto Brasileiro de Mineração, Raul Jungmann, diz que a regulamentação pode fazer algo que o mundo todo está ou já abandonou, a tributação sobre exportações.
E isso, segundo ele, num setor que ganha cada vez mais importância com a exploração de minerais críticos, usados pela nova economia, como a de semicondutores.
“O Brasil, na busca de modernizar seu modelo tributário, pode retroceder num setor importante para o futuro do país”, diz ele. Ele lembra que o Brasil tem vários minerais críticos e precisa explorá-los, mas a tributação pode acabar tornando o país mais caro em relação a outros fornecedores destes produtos.
No caso da construção civil, o setor teme que a tributação sobre os fundos imobiliários desestimule a aplicação nestes investimentos, retirando uma parte da fonte de financiamento do setor.

Dólar opera em alta e bate R$ 5,66, ainda com falas de Lula no radar; Ibovespa sobe

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No dia anterior, a moeda americana subiu 1,15%, cotada em R$ 5,6527. O Ibovespa, principal índice da bolsa de valores, teve alta de 0,69%, aos 124.765 pontos. Dólar
Karolina Grabowska/Pexels
O dólar opera em alta nesta terça-feira (2), com investidores ainda repercutindo as mais recentes críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao Banco Central do Brasil (BC), em especial as dirigidas à presidência da instituição.
Ontem, Lula disse que o próximo presidente da instituição olhará para o Brasil "do jeito que ele é, e não do jeito que o sistema financeiro fala". Após esses comentários, o dólar encerrou o dia vendido a R$ 5,6527, no maior patamar desde 10 de janeiro de 2022.
Mais tarde, durante a noite, Lula afirmou em discurso que que não tem que prestar contas a "banqueiro" ou a "ricaço", mas sim ao povo pobre do país.
Já o Ibovespa, principal índice de ações da bolsa de valores, opera em alta.
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Veja abaixo o resumo dos mercados.
Dólar
Às 10h15, o dólar subia 0,14%, cotado a R$ 5,6608.Veja mais cotações.
No dia anterior, o dólar teve alta de 1,15%, cotado a R$ 5,6527.
Com o resultado, acumulou:
avanço de 1,15% na semana;
ganho de 1,15% no mês;
alta de 16,49% no ano.

Ibovespa
O Ibovespa opera em alta de 0,43%, aos 125.249 pontos.
Na véspera, o Ibovespa teve alta de 0,69%, aos 124.765 pontos.
Com o resultado, acumulou:
alta de 0,69% na semana;
ganhos de 0,69% no mês;
perdas de 7,02% no ano.

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O que está mexendo com os mercados?
Sem grandes destaques na agenda econômica, as críticas feitas ontem pelo presidente Lula à condução de política monetária do Banco Central continuam repercutindo nos mercados.
Segundo Lula, o próximo presidente do BC deve olhar para o Brasil "do jeito que ele é e não do jeito que o sistema financeiro fala".
"Eu estou há dois anos com o presidente do Banco Central do [ex-presidente Jair] Bolsonaro, não é correto isso", afirmou o presidente nesta segunda-feira, ponderando que a autonomia do BC foi aprovada pelo Congresso e será respeitada.
"Eu tenho que, com muita paciência, esperar a hora de indicar o outro candidato, e ver se a gente consegue… ter um presidente do Banco Central que olhe o país do jeito que ele é, e não do jeito que o sistema financeiro fala", acrescentou, destacando que "quem quer BC autônomo é o mercado".
Lula ainda disse que preza pela responsabilidade fiscal e que inflação baixa é sua obsessão, usando como exemplo a decisão do governo de manter a meta para a evolução dos preços em 3%.
O presidente ainda afirmou, durante a noite, que não tem que prestar contas "a nenhum ricaço desse país, a nenhum banqueiro". "Tenho que prestar contas ao povo pobre, trabalhador deste país, que precisa que a gente tenha cuidado e que a gente cuide deles".
As falas recentes do presidente se juntam às críticas feitas por ele à instituição na semana passada. Lula disse que "a taxa de juros de 10,5% é irreal para uma inflação de 4%", reiterando que a Selic deve melhorar quando ele indicar o substituto de Roberto Campos Neto, atual presidente do BC. O mandato de Campos Neto termina no final deste ano.
Além disso, o mercado segue atento ao cenário fiscal do país, principalmente após o resultado consolidado do setor público ter revelado um déficit superior às projeções do mercado, na semana passada.
Já no exterior, as atenções se voltam para a atividade econômica dos Estados Unidos. Segundo dados do Departamento do Comércio norte-americano, os gastos com construção caíram inesperadamente em maio, uma vez que as taxas de hipoteca mais altas pesaram sobre a construção de residências unifamiliares. O indicador teve queda de 0,1%, após alta de 0,3% em abril.
Além disso, informações do Instituto de Gestão de Fornecimento (ISM, na sigla em inglês), indicaram que o setor manufatureiro dos EUA se contraiu pelo terceiro mês seguido em junho, de 48,7 para 48,5. Uma leitura acima de 50 indica crescimento no setor manufatureiro.

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Congresso discute, na regulamentação da tributária, quais produtos vão compor a cesta básica. Há certo consenso para incluir o frango, mas carnes vermelhas ainda geram debate. Lula concede entrevista à rádio de Salvador.
Reprodução/ CanalGov
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu nesta terça-feira (2) que o país inclua na cesta básica apenas cortes específicos de carne, levando em consideração o que as populações mais pobres consomem.
A lista de produtos que fará parte da cesta básica – e com isso, terá imposto menor ou até zerado – é discutida na regulamentação da reforma tributária, aprovada em 2023 pelo Congresso. A inclusão do frango e da carne bovina na lista será debatida pelo governo e pelos parlamentares.
"Eu sou favorável [às carnes na cesta básica]. Já conversei isso com Haddad, já conversei isso com Galípolo, já conversei com pessoal do Tesouro", disse Lula em entrevista à rádio Sociedade, de Salvador (BA).
"Eu acho que temos que fazer diferenciação. Você tem vários tipos de carne, tem carne chique, de primeiríssima qualidade, que o cara que consome pode pagar um impostozinho. Agora, você tem outro tipo de carne, que é a carne que o povo consome. Frango, por exemplo, não precisa ter imposto. Frango faz parte do dia a dia do povo brasileiro, ovo faz parte do dia a dia. Uma carne, sabe, um músculo, um acém, coxão mole, tudo isso pode ser evitado", seguiu Lula.
"Eu acho que a gente precisa colocar a carne na cesta básica, sim, sem que haja imposto. Você pode separar a carne, você pode selecionar a carne. Vai comprar coisa importada, chique, tem que pagar imposto", adicionou.
Lula disse ainda que não sabe se a ideia passaria no Congresso – e que "a proposta do governo não é irrevogável, ela pode mudar".
"Eu acho que é uma sensibilidade da parte do pessoal que está trabalhando a política tributária, se não for para toda a carne, para um tipo de carne sem imposto", concluiu.
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Fiscalização seria impossível, diz Fazenda
A ideia de Lula, se aplicada, pode tornar a fiscalização da Receita Federal inviável.
A análise é do diretor de programa da Secretaria Extraordinária da Reforma Tributária do Ministério da Fazenda, Rodrigo Orair. Ele falou sobre o tema em abril, ao anunciar a proposta do governo e dos estados para a regulamentação da reforma tributária.
Segundo Orair, "do ponto de vista operacional, não dá para o fiscal da Receita fiscalizar” qual tipo de carne está em cada pacote comercializado. Ou seja: o ideal é a taxação ser uniforme.
“Divide o boi no meio e em quartos. Só tem o quarto dianteiro e o quarto traseiro. Geralmente, carnes nobres estão no quarto traseiro. Tem estados que todos chegaram lá e os bois eram bípedes, só tinha quarto dianteiro. Do ponto de vista operacional, não dá para o fiscal da receita fiscalizar. A picanha, se cortar dessa veia para frente, é picanha, para trás é coxão. Sabe que é carne bovina, suína, peixes. Entre os peixes dá, porque é espécie”, declarou Orair, à ocasião.
Naquele momento, ele também disse que, quem consome o grosso de proteína aninal, as carnes bovinas, são “majoritariamente” os mais ricos. “É impactante”, acrescentou.
Segundo ele, os mais pobres consomem, principalmente, “miudezas” e “carne de segunda”. “Exceção é o frango, carne de peixe um pouquinho, caprinos e ovinos”, disse, em abril.
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Redução da tributação sobre carnes
Mesmo enquadrando as carnes com taxação de 40% dos futuros impostos sobre valor agregado da União (CBS) e dos estados e municípios (IBS), o governo alega que haverá redução na tributação em relação ao patamar atual.
Isso ocorre porque, mesmo estando isentas de impostos federais, as carnes são taxadas pelo ICMS estadual.
O governo diz, com isso, que o peso dos impostos sobre as carnes, de uma forma geral, está em 12,7% atualmente (considerando o ICMS estadual e, também, resíduos tributários, ou seja, impostos sobre impostos).
Com a tributação parcial instituída pela reforma tributária, que vai passar a cobrar impostos não cumulativos, a área econômica diz que o peso dos tributos vai cair para 10,6%.
De acordo com o secretário Bernard Appy, do Ministério da Fazenda, a população de baixa renda, cerca de 73 milhões de pessoas, terá direito ao abatimento de 20% no chamado "cashback" — devolução do imposto pago. Para esse público, a alíquota seria menor ainda, de 8,5%.