Em um ano, 70% das indústrias do país registraram ao menos um episódio de queda de energia, diz CNI

Pesquisa realizada pela Confederação Nacional da Indústria mostra que 51% dos executivos de indústrias brasileiras registraram mais de cinco falhas no fornecimento de energia ao longo de 1 ano. 21% tiveram problemas mais de 10 vezes no período. Um levantamento da Confederação Nacional da Indústria (CNI) divulgado nesta segunda-feira (1º) mostra que 70% das indústrias brasileiras tiveram pelo menos um episódio de interrupção no fornecimento de energia em um ano. Dentre as indústrias que identificaram falta de energia, mais da metade (51%) registraram a interrupção pelo menos cinco vezes no período.
Nos últimos meses, tem causado preocupação no governo a qualidade do serviço prestado pelas empresas distribuidoras de energia elétrica. No início do mês, o Ministério de Minas e Energia anunciou a antecipação da renovação dos contratos. E, junto com a antecipação, regras mais rigorosas para punir as empresas ou até mesmo cancelar a concessão em caso de falha reiterada no serviço.
Um dos casos que mais causaram alerta no governo foi o da Enel, que fornece energia para São Paulo. Regiões da capital e do estado passaram por apagões entre o fim de 2023 e início de 2024.
A queixa da CNI sobre falta de energia é mais um capítulo nas falhas do mercado de energia.
Segundo a entidade, empresas da indústria registraram falta de energia no último ano na seguinte proporção:
21%: mais de 10 vezes
6%: entre 9 e 10 vezes
7%: entre 7 e 8 vezes
17%: entre 5 e 6 vezes
34%: Entre 2 e 4 vezes
9%: 1 vez
'Gato' corresponde a 17% da energia elétrica no Brasil
O estudo ouviu 1.002 executivos de pequenas, médias e grandes indústrias de todas as regiões o país entre os dias 30 de abril e 24 de maio de 2024.
Balanço divulgado pela Agência Nacional de Energia Elétrica em março mostra que, no ano passado, o consumidor brasileiro ficou 10,4 horas sem energia e teve cinco interrupções de fornecimento no ano em média. )
Para a CNI, é importante que existam regras e procedimentos que garantam o fornecimento de energia para o setor. O estudo ainda revela que 82% dos executivos consideram que a infraestrutura da rede elétrica brasileira precisa de investimentos para atender melhor à demanda industrial.
“O maior problema da queda de energia para a indústria é a paralisação da produção. A depender do tipo de empresa e da linha de produção, há perdas de matéria-prima, produtos e horas de trabalho. São prejuízos consideráveis, que acabam impactando em custos elevados para as indústrias”, explica o gerente de Energia da CNI, Roberto Wagner Pereira.
Apesar das quedas de energia, a pesquisa indica que há uma percepção de que as indústrias têm gastado mais com a conta de luz. Para 53% das empresas, houve um aumento na conta de luz nos últimos 12 meses.

O Último Plano #1: O Reino do Caos

No episódio de estreia do novo podcast do g1 sobre os 30 anos da criação do Plano Real, uma viagem no tempo para mostrar um passado irreal e a loucura da hiperinflação. Disponível no g1 e nas plataformas de áudio, O Último Plano terá quatro episódios, com novas publicações sempre às segundas-feiras.
Um passado irreal: preços sendo alterados três vezes ao dia, a perda da referência do valor das coisas, 60% do país sem conta no banco, dinheiro evaporando mais rápido do que sorvete no asfalto quente.
O episódio de estreia de O Último Plano, novo podcast do g1, volta no tempo para mostrar tentativas frustradas de conter a inflação na segunda metade dos anos 1980, o gostinho ilusório do congelamento de preços, desabastecimento nas lojas, fiscais do Sarney mandando prender gerente de supermercado.
E aí um plano que roubou o dinheiro dos brasileiros, um impeachment e a chegada de um presidente amante do Fusca que, quem diria, iria acabar com a inflação.
O Último Plano foi criado e produzido por Renata Ribeiro, Lucas Paulino e Renato Ghelfi. O roteiro é assinado por Valentina Castello Branco e Mariana Pinheiro; edição: Thiago Kaczuroski; coordenação e supervisão: Cláudia Croitor; pesquisa no acervo: Jeferson Ferreira e Fábio Luci; trilha sonora: Marion Lemonnier
O trauma público e as reviravoltas políticas
Uma história real, de gente real, com um enredo repleto de reviravoltas e acontecimentos improváveis. Assim é O Último Plano, novo podcast do g1 lançado nesta segunda-feira (1º), dia em que o Plano Real completa 30 anos.
A série mergulha nos bastidores da criação da nossa moeda atual e mostra, em detalhes, as movimentações que antecederam o fim de uma era caótica em que a hiperinflação chegou a 2.000% ao ano, gerando graves consequências à vida dos brasileiros. Idealizado e apresentado pela jornalista Renata Ribeiro, o podcast traça uma linha do tempo com os principais marcos políticos e históricos que influenciaram o declínio econômico brasileiro e o plano que pôs fim a ele.
Também ilumina a perspectiva de quem vivenciou esse turbilhão de acontecimentos entre cidadãos comuns, jornalistas e economistas que lideraram a criação do Real. “Esse não é um podcast de economia. A explicação econômica sobre como tudo isso aconteceu é muito interessante. Mas as histórias de quem fez isso acontecer são muito mais”, diz Renata.
Batizado de ‘O Reino do Caos’, o episódio de estreia mostra as tentativas frustradas de conter o caos financeiro. “A inflação vem de antes de eu nascer e cresceu bem mais rápido do que eu nos anos1980. Nessa época, eu ficava atrás da porta ouvindo meus pais cogitarem a venda do carro, da casa ou me tirar da escola. A economia descontrolada era parte de uma realidade indiscutível e o Brasil tinha um problema sem solução. Talvez tenha sido para entender tudo isso que eu fui ser repórter de economia”, revela Renata.
Com preços subindo três vezes ao dia, uma sucessão de planos econômicos fracassados, gente dormindo na fila do supermercado, racionamento de comida e salários-mínimos que não chegavam à metade do mês, a obra deixa claro ao ouvinte como era impossível viver em paz.

Bolsa Família 2024: veja calendário de pagamentos em julho

‘Percebi que estava com nome sujo com 19 anos’, diz jovem que perdeu R$ 50 mil com caça-níqueis online
Primeiros a receber serão os beneficiários com Número de Identificação Social (NIS) com final 1. Pagamento previsto é de R$ 600 por família, com possíveis adicionais; valores serão pagos de forma escalonada até o fim do mês. Calendário do Bolsa Família 2024 é divulgado.
MDS
A Caixa Econômica Federal inicia os pagamentos de julho do Bolsa Família no dia 18. Os primeiros a receber serão os beneficiários com Número de Identificação Social (NIS) com final 1. (veja mais abaixo o calendário completo)
De acordo com o Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS), o benefício será pago durante os últimos 10 dias úteis de cada mês, de forma escalonada — com exceção de dezembro, quando o calendário é antecipado.
Há exceção também para os moradores de municípios em situação de emergência ou estado de calamidade pública reconhecidos pelo governo federal. Para essas pessoas, o pagamento será realizado de forma unificada, no primeiro dia do repasse, independentemente do número final do NIS.
O Bolsa Família prevê o pagamento de, no mínimo, R$ 600 por família. Há também os adicionais de:
R$ 150 por criança de até 6 anos;
R$ 50 por gestantes e crianças e adolescentes de 7 a 17 anos;
R$ 50 por bebê de até seis meses.
Confira o calendário do Bolsa Família para julho de 2024:
Final do NIS: 1 – pagamento em 18/7
Final do NIS: 2 – pagamento em 19/7
Final do NIS: 3 – pagamento em 22/7
Final do NIS: 4 – pagamento em 23/7
Final do NIS: 5 – pagamento em 24/7
Final do NIS: 6 – pagamento em 25/7
Final do NIS: 7 – pagamento em 26/7
Final do NIS: 8 – pagamento em 29/7
Final do NIS: 9 – pagamento em 30/7
Final do NIS: 0 – pagamento em 31/7
Ao longo do ano, a previsão de pagamentos é:
Agosto: de 19/8 a 30/8;
Setembro: de 17/9 a 30/9;
Outubro: de 18/10 a 31/10;
Novembro: de 18/11 a 29/11;
Dezembro: de 10/12 a 23/12.
Bolsa Família 2024: pagamentos começam nesta quinta-feira; veja calendário
Veja abaixo perguntas e respostas sobre o Bolsa Família.
Quem pode receber o Bolsa Família?
A principal regra para receber o benefício é ter renda mensal familiar de até R$ 218 por pessoa.
Para se enquadrar do programa, é preciso somar a renda total e dividir pelo número de pessoas. Caso o valor fique abaixo dos R$ 218, a família está elegível ao Bolsa Família.
Os beneficiários também precisam arcar com contrapartidas, como:
manter crianças e adolescentes na escola;
fazer o acompanhamento pré-natal (no caso de gestantes);
manter as carteiras de vacinação atualizadas.
Onde se cadastrar?
Os beneficiários precisam se inscrever no Cadastro Único (CadÚnico) — principal instrumento do governo federal para a inclusão de famílias de baixa renda em programas sociais — e aguardar uma análise de enquadramento.
Estar no Cadastro Único não significa a entrada automática nos programas sociais do governo, uma vez que cada um deles tem regras específicas. Mas o cadastro é pré-requisito para que a inscrição seja avaliada.
VEJA COMO FAZER O CADASTRO ÚNICO DO GOVERNO FEDERAL
Como sacar o Bolsa Família?
Os beneficiários recebem e podem movimentar os valores pelo aplicativo Caixa TEM e internet banking. Assim, não é necessário ir até uma agência da Caixa Econômica Federal — que é responsável pelo pagamento do Bolsa Família — para realizar o saque.
Segundo a Caixa, os beneficiários também podem utilizar o cartão do programa para realizar compras nos estabelecimentos comerciais, por meio da função de débito.
Além disso, há a opção de realizar saques nos terminais de autoatendimento, casas lotéricas e correspondentes Caixa Aqui, além das agências da Caixa.

Rotativo do cartão: portabilidade gratuita começa nesta segunda-feira; veja como fazer

‘Percebi que estava com nome sujo com 19 anos’, diz jovem que perdeu R$ 50 mil com caça-níqueis online
Mudança determinada pelo CMN permite que o devedor leve seu saldo para outra instituição financeira que ofereça condições mais vantajosas de pagamento, além de exigir dos bancos que tenham mais transparência no formato das faturas. Dívidas de cartão de crédito lidera
Fecomércio-MT/Divulgação
Os clientes com dívida no cartão de crédito rotativo poderão, a partir desta segunda-feira (1º), fazer a portabilidade gratuita do saldo devedor de uma instituição financeira para outra que lhe ofereça melhores condições de pagamento.
A possibilidade havia sido determinada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) em dezembro do ano passado. O órgão também passou a exigir uma maior transparência no formato das faturas de cartão.
O rotativo do cartão é uma das linhas mais caras oferecidas no mercado de crédito. Segundo dados do Banco Central (BC), por exemplo, as taxas de juros cobradas na modalidade para pessoas físicas ficaram em 422,5% ao ano em maio — o que corresponde a 14,77% ao mês.
Entenda nesta reportagem as principais mudanças determinadas pelo CMN, e veja como fazer a sua portabilidade da dívida do cartão de crédito.
Quais foram as mudanças?
Como fazer a portabilidade gratuita da dívida do rotativo do cartão?
Custo efetivo e outros pontos de atenção
O que fazer se a instituição se recusar a prestar informações?
Cartão de crédito: clientes poderão fazer portabilidade e fatura será mais clara
Quais foram as mudanças?
No caso da portabilidade das dívidas do cartão de crédito, ficou definido:
a proposta da nova instituição deve ser realizada por meio de uma operação de crédito consolidada, ou seja, que contemple restruturação da dívida antiga;
a instituição credora original que realizar uma contraproposta deve apresentar ao cliente, no mínimo, uma proposta de mesmo prazo da operação proposta pela outra, para fins de comparação dos custos.
caso aconteça, a portabilidade do crédito deve ser feita de forma gratuita.
Já em relação à maior transparência, o CMN determinou que as faturas de cartão passem a ter as seguintes informações:
uma área de destaque, onde deve estar apenas as informações essenciais para a tomada de decisão pelo titular da conta: valor total; data de vencimento da fatura do período vigente e limite total de crédito;
uma área para alternativas de pagamento, onde deve estar apenas as informações que possibilitem ao titular da conta pós-paga comparar as opções disponibilizadas para liquidar sua dívida; nessa área, devem estar, exclusivamente, as seguintes informações: valor do pagamento mínimo obrigatório;
valor dos encargos a ser cobrado no período seguinte no caso de pagamento mínimo; opções de financiamento do saldo devedor da fatura, apresentadas na ordem do menor para o maior valor total a pagar pelo titular; e taxas efetivas de juros mensal e anual, além do Custo Efetivo Total (CET), relativos às operações de crédito passíveis de contratação;
uma área com informações complementares, onde devem estar as informações como lançamentos realizados na conta de pagamento, por evento; identificação das operações de crédito contratadas; valores relativos aos juros e encargos cobrados no período vigente; valor total de juros e encargos financeiros cobrados referentes às operações de crédito contratadas;
identificação das tarifas cobradas; data de encerramento dos lançamentos na fatura do período seguinte; identificação dos usuários finais beneficiários; limites individuais para cada tipo de operação; saldo total consolidado das operações futuras, além de outras que a instituição emissora do instrumento de pagamento julgar conveniente.
O CMN ainda determinou que as emissoras de cartão de crédito deverão enviar gratuitamente ao titular da conta, por meio de canais eletrônicos, informações sobre:
o vencimento da fatura, com pelo menos dois dias de antecedência, incluindo esclarecimentos de que o não pagamento do valor total da fatura resulta na cobrança de juros e encargos;
as consequências do eventual não pagamento do valor obrigatório indicado na fatura, do atraso no pagamento, bem como orientações para acesso às informações sobre as formas e opções disponíveis para a liquidação, inclusive antecipadamente, e o financiamento do saldo devedor da fatura, a partir do dia útil imediatamente posterior à data de vencimento da fatura;
o início de eventual parcelamento do saldo do crédito rotativo e da fatura correspondente;
o início da cobrança da tarifa de anuidade, após eventual período de isenção da cobrança, se houver, com pelo menos um mês de antecedência contado da data de início da cobrança.
Veja como funciona nova regra dos juros do rotativo do cartão de crédito
Como fazer a portabilidade gratuita da dívida do rotativo do cartão?
Segundo o Banco Central, a solicitação de portabilidade de crédito por parte do cliente pode ser realizada online ou presencial, a depender dos procedimentos oferecidos por cada instituição financeira.
De modo geral, no entanto, a instituição afirmou que o passo a passo para a portabilidade do rotativo deve acontecer da mesma forma que a portabilidade de crédito de outras linhas.
Veja abaixo:
Primeiro, o cliente deve solicitar informações sobre sua dívida — tais como o saldo devedor, o número de parcelas a vencer e as taxas de juros, por exemplo — na instituição financeira com a qual fez o empréstimo. No caso do rotativo, é a instituição emissora do cartão de crédito.
Depois, com essas informações em mãos, ele deve negociar as condições da nova operação com uma instituição financeira interessada em conceder um novo crédito.
Com a negociação feita, os recursos obtidos serão destinados a quitar o saldo devedor da operação original. Ou seja, a instituição que vai conceder o novo crédito transfere o dinheiro diretamente para a instituição anterior, quitando a dívida antecipadamente. Os custos relacionados à transferência de recursos não podem ser repassados ao cliente.
Além disso, na portabilidade de pessoas físicas há uma restrição: o valor e o prazo da nova operação não podem ser superiores ao valor do saldo devedor e ao prazo restante da operação original.
Vale ressaltar também que a instituição que havia concedido o crédito primeiro tem até cinco dias para eventualmente renegociar com seu cliente e oferecer condições mais vantajosas ou enviar as informações necessárias à instituição que está propondo o novo crédito para finalizar o pedido de portabilidade.
Caso o cliente desista da portabilidade, ele deve formalizar a desistência com a instituição credora original, que vai comunicar o banco que havia proposto o novo crédito.
Em nota, o BC afirmou que a resolução nº 5.057/2022 do CMN determina que as instituições financeiras devem “divulgar a seus clientes as informações necessárias para o exercício do direito à portabilidade, bem como os procedimentos para a sua solicitação, em local e formato visíveis ao público”.
O g1 procurou os cinco maiores bancos do país — Banco do Brasil, Bradesco, BTG Pactual, Caixa Econômica Federal, Itaú Unibanco e Santander Brasil — questionando qual o passo a passo previsto por cada um para a portabilidade da linha, mas não obteve respostas até a última atualização desta reportagem.
Custo efetivo e outros pontos de atenção
Ainda segundo o BC, é importante que o cliente solicite o valor do Custo Efetivo Total (CET) com a instituição que está propondo o novo crédito antes mesmo de realizar a portabilidade.
O CET corresponde a todas as despesas e encargos incidentes na operação de crédito. Essa, segundo o BC, é a forma mais fácil de comparar os valores cobrados pelas instituições.
“Vale verificar também todas as condições do novo contrato, com relação a número de prestações, taxas de juros, tarifas, para confirmar que essa transferência seja realmente vantajosa”, informa o BC em seu site oficial.
O BC também alerta que a instituição credora original deve obrigatoriamente informar ao cliente o valor do saldo devedor para quitação antecipada, sempre que lhe for solicitado, além de prestar esclarecimentos solicitados e fornecer ao cliente uma planilha de cálculo que possibilite que ele confira a evolução da sua dívida.
“É obrigação da instituição fornecer ao cliente cópia do contrato, no momento da formalização da operação, assim como posteriormente, mediante solicitação”, diz o BC.
As instituições devem fornecer aos clientes em até um dia útil, contado a partir da data de solicitação, as seguintes informações relativas às suas operações de crédito:
Número do contrato;
Saldo devedor atualizado;
Demonstrativo da evolução do saldo devedor;
Modalidade;
Taxa de juros anual, nominal e efetiva;
Prazo total e remanescente;
Sistema de pagamento;
Valor de cada prestação, especificando o valor do principal e dos encargos; e
Data do último vencimento da operação.
O que fazer se a instituição se recusar a prestar informações?
Caso a instituição não preste as informações requeridas para realização da portabilidade, o cliente pode recorrer à ouvidoria da instituição financeira ou à do próprio Banco Central.

‘Percebi que estava com nome sujo com 19 anos’, diz jovem que perdeu R$ 50 mil com caça-níqueis online

‘Percebi que estava com nome sujo com 19 anos’, diz jovem que perdeu R$ 50 mil com caça-níqueis online
Ansiedade e promessas de lucros mais fáceis têm levado apostadores a buscar jogos de caça-níquel online na madrugada. Dados mostram que jogos online populares tiveram picos entre as 2h e as 3h. Ansiedade e promessas de lucros mais fáceis têm levado apostadores a buscar jogos de caça-níquel online na madrugada.
Dados da última semana do Google Trends, que medem o volume de buscas na internet, mostram que expressões como "Fortune Tiger", "Fortune OX" e "Fortune Rabbit" – três tipos populares de jogos online – tiveram picos entre as 2h e as 3h (veja abaixo).

"Eu jogava principalmente de madrugada, por não ter que me preocupar com as crianças, que já estavam dormindo, e porque eu li que pagava mais. Porém, não ganhava nada, e me dava mais ansiedade para jogar de novo e tentar algum lucro. Cheguei a dar murro na minha cabeça, puxar meus cabelos, me morder. Isso não é vida", conta Laysa Gonçalves, de 24 anos, moradora de Aracaju (SE).
Laysa conta que começou a jogar em janeiro de 2022, a partir de um anúncio que viu em um grupo de WhatsApp de gestantes. Segundo ela, a mensagem indicava que os jogos eram uma forma de ganhar dinheiro extra, principalmente na madrugada.
No começo, ela colocou R$ 20 e perdeu, mas, em seguida, ganhou R$ 200. "Na hora, pensei, paga mesmo", disse. Algumas semanas depois, ela apostou R$ 1 mil e lucrou 5 vezes mais. "Foi então que virou um vício".
Desde que começou a jogar, entretanto, Laysa conta que perdeu R$ 20 mil – e que chegou a apostar dinheiro que seria usado para comprar comida para os filhos.
"Hoje em dia, eu sofro ansiedade, depressão. Meu filho nasceu prematuro por conta de tanto nervosismo."
Laysa Gonçalves, de 24 anos, com o filho, Davi Gael
Arquivo pessoal
Nome sujo aos 19 anos
Assistente-administrativa Eduarda Candido, de 19 anos, de Joinville (SC), afirma que jogava principalmente de madrugada porque, durante o dia, conseguia prestar a atenção em outras coisas. Além disso, a ansiedade causada pelas perdas a empurrava para fora da cama.
"Eu comecei a me afundar um pouco mais porque ficava jogando e, quando eu ia trabalhar, estava morta de sono e tinha perdido o dinheiro que era para eu pagar o cartão da minha madrasta. E ficava pensando no que eu ia fazer", conta.
Eduarda afirma que perdeu cerca de R$ 50 mil com os jogos online entre abril de 2022 e maio de 2024.
"Eu percebi que com 19 anos, eu estava com o nome sujo. Então, me abri com a minha família, que me ajudou com a dívida e prometi nunca mais jogar. Entendi então que esse jogo só iria destruir minha vida".
Eduarda
Arquivo pessoal
Minutos pagantes
"Eles falavam que tinha um tal minuto pagante [na madrugada], diz Fabio Costa, de 30 anos, morador de Vilhena (GO).
Minuto pagante é uma promessa de lucro fácil em jogos online feita por divulgadores. Segundo eles, seriam momentos em que os jogos tendem a pagar mais prêmios: se o minuto pagante for 9, o jogo poderia pagar mais em horários que terminam em 9, como 12h59 ou 15h19.
Especialistas e o próprio setor, entretanto, dizem se tratar de uma fraude. Isso porque, nesse tipo de jogo, por princípio, resultados devem ser gerados de forma aleatória, sem padrão definido, e ser imprevisíveis. Se a estratégia funcionar, há uma fraude na plataforma (entenda aqui).
Fabio afirma que, quando começou a jogar, há cerca de um ano, chegou a ter alguns ganhos, na casa de R$ 1 mil. Porém, em menos de 1 ano, entretanto, estima que teve um prejuízo de R$ 100 mil com esse tipo de jogo, mudou para uma casa menor e vendeu o carro.
"No começo, você pode até ter ganhos mínimos, mas você sempre vai perder no final", afirmou Costa. "Acabei caindo no papo deles [sobre os minutos pagantes]".
Promoções de jogos de caça-níquel online
Reprodução YouTube e Palver
Estímulo dos jogos é mais forte que o do descanso
O psiquiatra responsável pelo ambulatório do tratamento de dependências de comportamentos do Programa de Orientação e Atendimento de Dependentes da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Aderbal Vieira, afirma que a madrugada é um momento que as pessoas ficam mais vulneráveis à ansiedade, já que as preocupações pessoais e profissionais foram resolvidas normalmente de manhã e de tarde.
"Quando dá meia-noite e não existe mais preocupação na mente, o prazer de ganhar ou perder é muito mais satisfatório do que dormir. Esse estímulo de sensações é muito mais imediato do que o descanso. Então as pessoas jogam", afirma.
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O que são caça-níqueis online
Segundo a Associação Nacional de Jogos e Loterias (ANJL), a Lei nº 14.790, de 2023, que regulamentou o mercado de apostas esportivas, autoriza o oferecimento de jogos online do tipo quota fixa – nos quais se enquadram jogos de caça-níqueis online (ou de slots).
"Por estar (…) diretamente ligado ao conceito de aleatoriedade, o 'Jogo do Tigrinho' (e os demais jogos slot) consiste em um jogo de chance, na modalidade de quota fixa, e não um jogo de azar, proibido pela Lei de Contravenções Penais", afirma a associação.
Para que uma empresa sediada no Brasil possa oferecer esse tipo de jogo, entretanto, é preciso cumprir uma série de regras e obter uma autorização do Ministério da Fazenda. Procurada, a pasta diz que a portaria que vai tratar de jogos online ainda está em elaboração.
"Com esta, serão estabelecidos critérios técnicos e jurídicos, para que um jogo on-line possa ser reconhecido como cumpridor de requisitos legais e, apenas assim, permitidos pelo ordenamento jurídico nacional a serem ofertados pelos operadores de apostas autorizados", afirma a pasta.
Por esse motivo, segundo a pasta, ainda não é possível dizer se os jogos atualmente ofertados obedecem aos critérios legais ou não.
Segundo Magnho José, presidente do Instituto Jogo Legal, entretanto, a maioria das plataformas que oferecem os cassinos online para apostadores que estão no Brasil estão estabelecidas no exterior.
"A maioria das plataformas de apostas esportivas e jogos online estão hospedadas em Malta, Curaçao, Gibraltar e Reino Unido, mesmo que tenham sócios brasileiros", afirma José.
E, segundo Fabiano Jantalia, advogado especialista em direito de jogos e apostas, "desde que o país onde essa plataforma esteja sediada tenha autorização, também não há nenhuma irregularidade."