Warren Buffett define testamento e deixa fortuna de R$ 720 bi para fundo de caridade supervisionado por filhos, diz jornal

‘Influencers do lixo’: os brasileiros que fazem sucesso mostrando o que americanos jogam fora
Seus três filhos terão que decidir o destino de sua fortuna de forma unânime, disse Buffett ao jornal americano 'The Wall Street Journal' em entrevista exclusiva. O bilionário empresário disse também que as doações à Fundação Bill Gates chegarão ao fim após sua morte. Warren Buffett, CEO do Berkshire Hathaway.
Rick Wilking/Reuters
O empresário Warren Buffett, de 93 anos, definiu seu testamento e deixará fortuna de US$ 130 bilhões (cerca de R$ 727 bi) para um fundo de caridade supervisionado pelos três filhos, revelou em entrevista exclusiva ao jornal americano "The Wall Street Journal".
O CEO da Berkshire Hathaway disse também que suas doações para a Fundação Bill & Melinda Gates, à qual ele já doou bilhões, chegarão ao fim quando ele morrer.
Desde 2006, o bilionário americano de Omaha, Nebraska, já doou mais da metade de suas ações da Berkshire, a empresa que ele assumiu em 1965 e transformou em uma potência. Após a última rodada de doações na sexta-feira (28) –de US$ 5,3 bilhões (R$ 29,6 bi) para cinco instituições de caridade — Buffett possui quase US$ 130 bilhões (cerca de R$ 727 bi) em ações da empresa.
O destino dessa fortuna terá que ser decidido de forma unânime entre seus três filhos, Susie, Howie e Peter Buffett –Susie e Howie fazem parte do conselho da Berkshire. Warren disse que não deu ordens específicas sobre qual causa filantrópica eles deveriam apoiar, mas compartilhou sua perspectiva pessoal sobre doações.
“Sinto-me muito, muito bem com os valores dos meus três filhos, e confio 100% em como eles vão executar as coisas. (…) O dinheiro deve ser usado para ajudar as pessoas que não tiveram a mesma sorte que nós tivemos”, disse Warren Buffett ao jornal americano.
Quando começou com a filantropia, Warren Buffett prometeu fazer doações anuais ao longo de sua vida para a Fundação Bill Gates e outras quatro fundações ligadas à sua família. O que ele faria com sua fortuna após sua morte estava incerta até então.
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Pela 1ª vez desde abril de 2022, governo aciona bandeira amarela, e conta de luz fica mais cara em julho

Motivos para o acionamento da bandeira amarela são previsão de chuvas abaixo da média no segundo semestre e temperaturas mais altas. Conta encarece R$ 1,88 a cada 100 kilowatt-hora. Pela primeira vez desde abril de 2022, o governo acionou a bandeira amarela para tarifas de energia elétrica para este mês de julho. Com isso, haverá cobrança adicional no valor, deixando a conta de luz mais cara pra famílias e empresas.
Nos últimos 26 meses, a bandeira permaneceu verde. Ou seja, sem necessidade de acréscimo na conta.
Com a bandeira amarela:
A tarifa aumenta R$ 1,88 a cada 100 kilowatt-hora (kWh).
O consumo médio em uma casa brasileira na zona urbana é de aproximadamente 150 kWh a 200 kWh (sem ar-condicionado).

‘Da forma como estão as contas públicas, vamos caminhar para uma nova crise fiscal’, diz economista

Para Marcelo Fonseca, economista-chefe da Reag Investimentos, a PEC da transição e o fim do teto de gastos com a aprovação do arcabouço colocaram as contas públicas em uma "trajetória absolutamente insustentável". Entrevista: Dólar dispara em meio a falas de Lula sobre o BC
O dólar fechou em alta nesta sexta-feira (28), encerrando o primeiro semestre de 2024 com valorização de mais de 15%. Cotado a R$ 5,5884, a moeda americana chegou ao maior patamar desde 10 de janeiro de 2022 (R$ 5,6742).
Em entrevista à GloboNews, o economista-chefe da Reag Investimentos, Marcelo Fonseca, explicou que dois problemas são responsáveis pela oscilação da moeda: o "descontrole profundo das contas públicas", que tem sido agravado por um problema político, onde se encaixam os discursos do presidente Lula, e a eliminação do testo de gastos com a criação do arcabouço fiscal (veja a entrevista acima).
"Quando o então novo governo eleito propôs a PEC da transição, propondo o aumento dos gastos públicos da ordem de aproximadamente R$ 200 bilhões, em torno de dois pontos percentuais do PIB. Havia uma necessidade reconhecida por todo mundo que mantivesse os programas sociais, já que a gente saia de uma pandemia, mas as contas feitas pelos especialistas apontavam que seriam necessários para fazer isso valores muito menores, por volta de R$ 60 bilhões, R$ 70 bilhões. Num ato de irresponsabilidade política de todo sistema político, fizemos uma situação de gastos muito forte", explicou Marcelo Fonseca.
A substituição do teto de gastos pelo novo arcabouço foi outro ponto importante para o cenário atual, segundo Fonseca.
"O novo arcabouço não tem os elementos necessários para permitir uma gestão crível, consistente das contas públicas. A PEC da transição e o fim do teto de gastos com a aprovação do arcabouço colocaram as contas públicas em uma trajetória absolutamente insustentável".
Para o economista, é preciso ficar alerta com o que está acontecendo com as contas públicas.
"A percepção é que não existe em Brasília alguém que venha segurar as rédeas desse processo e tomar as medidas necessárias para 'reancorar' as expectativas sobre as contas públicas. Da forma como estão, vamos caminhar para uma nova crise fiscal, parecida com a que tivemos em 2014-2016", completou Marcelo Fonseca.
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‘Pix Garantido’: BC avança na modalidade que poderá ser alternativa ao cartão de crédito

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Modalidade ainda está em desenvolvimento e não tem data para ser lançada. Diferentemente do cartão de crédito, é necessário ter o dinheiro disponível em conta para usar o Pix Garantido, explica a Febraban. Pedidos de pix e transferências por celular são feitos por criminosos no Espírito Santo.
Marcelo Camargo/Agência Brasil
O Banco Central trabalha no desenvolvimento do chamado "PIX Garantido", que possibilitará o parcelamento de compras pelos clientes no futuro por meio desse sistema de pagamentos — assim que implementado.
A modalidade poderá ser uma alternativa ao parcelamento no cartão de crédito, que é muito popular nas compras de produtos de maior valor. O BC não deu mais detalhes sobre o PIX Garantido, nem informou se haverá cobrança de juros nessa modalidade.
"O PIX Garantido (parcelado) é um produto na agenda evolutiva do PIX, porém ainda não foi lançado pelo Banco Central e não há previsão de lançamento. Nada impede que os bancos, desde já, ofertem crédito e a possibilidade de pagamento em parcelas com o PIX aos seus clientes. É um produto de cada banco", informou o Banco Central.
Algumas instituições financeiras, como observado pelo BC, se anteciparam e já oferecem a alternativa, na maior parte das vezes como uma operação de crédito (veja mais abaixo nessa reportagem).
A Federação Brasileira de Bancos (Febraban) explicou que, no caso do PIX garantido, será necessário que os clientes tenham dinheiro na conta corrente para realizar os pagamentos nas datas de vencimento das parcelas.
"Diferentemente do cartão de crédito, é necessário ter o dinheiro disponível em conta para usar o PIX Garantido. A expectativa é que o PIX complemente as atuais formas de pagamento, com maior comodidade ao usuário", informou a entidade.
▶️Em tese, caso o cliente não tenha recursos para honrar as parcelas no vencimento do futuro PIX Garantido, ele acaba entrando no limite do cheque especial (se houver). Nesse caso, a transação acaba se convertendo em operação de crédito — com a cobrança de juros na modalidade do cheque especial.
▶️Ainda não há definição sobre o que pode acontecer no PIX garantido se o cliente não tiver dinheiro na conta, ou limite no cheque especial, para honrar o pagamentos, no dia do vencimento. Pois essa modalidade ainda não foi regulamentada pelo BC.
▶️No cartão de crédito, o valor da compra é pago aos lojistas pela instituição financeira no mês da aquisição do produto ou serviço, ou de forma parcelada (se a compra for feita dessa forma).
▶️O crédito rotativo do cartão é cobrado dos clientes somente quando não é pago o valor total da fatura na data do vencimento — o que inclui as parcelas mensais de compras, se for o caso. Essa é a linha de crédito mais cara do mercado financeiro.
Cuidado com o golpe do pix
Alternativa de parcelamento
Em agosto do ano passado, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, afirmou que o PIX garantido será uma alternativa de parcelamento aos clientes.
Naquele momento, uma das propostas em discussão, que acabou não sendo implementada, era fim do rotativo do cartão de crédito, e o parcelamento do saldo devedor com juro menor.
Em linha com lei aprovada pelo Congresso. o governo acabou limitando o saldo devedor do cartão de crédito, medida que entrou em vigor em janeiro deste ano.
"É super importante, a gente está fazendo várias políticas com o PIX crédito, que vão desafogar e dar alternativas. Mas a nossa ideia era dar uma opção que passasse por ter um parcelamento, e não ter o [crédito] rotativo [do cartão]. De tal forma que a gente conseguisse equilibrar os números por produto", declarou Campos Neto, do Banco Central, em agosto de 2023.
Atrito entre bancos e 'maquininhas'
A discussão sobre os juros do cartão de crédito rotativo gerou atrito entre os bancos e credenciadoras independentes, as chamadas maquininhas.
Como pano de fundo das discussões, está o parcelado sem juros no cartão de crédito, questionado pelos bancos, mas defendido pela equipe econômica e pelos credenciadores independentes.
A Febraban informou, no ano passado, que "não há qualquer pretensão de se acabar com as compras parceladas no cartão de crédito", mas questionou as operações com número maior de prestações.
Segundo a entidade, a inadimplência das "compras parceladas em longo prazo é bem maior do que na modalidade à vista, cerca de 2 vezes na média da carteira e 3 vezes para o público de baixa renda".
No fim de 2023, entidades de defesa do consumidor e ligadas ao setor de comércio e serviços lançaram o movimento "Parcelo Sim!", que busca "salvar o parcelado sem juros". A petição conta com mais de 1 milhão de assinaturas.
"Todos sabem que o Parcelado Sem Juros ajuda muito o brasileiro a conseguir conquistar seus sonhos. Também é importante para quem passa por um momento de dificuldade e precisa parcelar", dizem as entidades.
Setor financeiro antecipa PIX parcelado
Os maiores bancos do país, assim como várias fintechs (pequenas empresas de tecnologia do setor financeiro), já oferecem o parcelamento por meio do PIX.
Essa alternativa, entretanto, está sujeita às regras de cada banco.
Na maior parte das vezes, o PIX parcelado disponível no sistema financeiro funciona como uma operação de crédito, ou seja, há cobrança de juros e incidência de IOF. Por isso, os clientes devem ficar atentos às regras na hora de fazer a contratação.
A taxa de juros cobrada costumar variar de acordo com número de parcelas, do valor da compra, o relacionamento do cliente com cada banco e seu nível de risco de crédito.
Esse parcelamento é diferente daquele disponível no cartão de crédito, onde o crédito só é contratado, com incidência de juros e do IOF, quando o valor total da fatura não é quitado.
No Banco do Brasil, por exemplo, a instituição "possibilita parcelar o valor da transferência por meio de empréstimo pessoal", ou seja, há incidência de juros e IOF. "Basta escolher a quantidade de parcelas como preferir e confirmar a contratação do crédito e do Pix na mesma transação no celular", diz a instituição.
O Santander oferece a funcionalidade, também como operação de crédito. Na internet, a instituição informa que é possível parcelar em até 24 vezes, mas que é "necessário contratar um crédito no valor da sua transferência", com incidência de IOF.
No Itaú, o banco informa que "adianta o crédito para realização da transferência ou pagamento". "Para quem compra utilizando esta modalidade, a vantagem é que é possível parcelar valores de 12 a 24 vezes com juros mais atrativos do que os dos cartões de crédito convencionais", diz a instituição.
PIX automático e agendado
Enquanto trabalha nas regras para o PIX garantido (parcelado nas compras de produtos e serviços), O Banco Central se prepara para lançar, em outubro deste ano, duas novas modalidades: o PIX automático e o PIX agendado recorrente.
Por serem modalidades que permitirão o agendamento de débitos nas contas dos clientes, se assemelham ao PIX garantido (parcelado).
Pela regulamentação do PIX automático e agendado, no caso de não haver recursos na conta de quem deve fazer os pagamentos, no dia do vencimento, serão enviadas notificações aos clientes e novas tentativas serão feitas nos dias seguintes.
O Pix automático poderá ser usado, por exemplo, para pagar:
contas de água e luz
escolas e faculdades
academias, condomínios
parcelamento de empréstimos
Esse tipo de pagamento já pode ser feito através do débito automático, mas na avaliação do Banco Central, o Pix automático terá a capacidade de alcançar mais pessoas.
Com o Pix automático, a empresa não precisará firmar um contrato com cada instituição financeira, bastará fazer um único acordo com um banco que esteja ofertando a modalidade às empresas.
A oferta do serviço do Pix automático vai funcionar da seguinte forma:
Para pessoas físicas: os bancos serão obrigados a ofertar a modalidade para os clientes.
Para as empresas: os bancos escolhem se querem ou não ofertar esse produto para determinada empresa.
O Pix agendado poderá ser usado, por exemplo, para:
Mesada
Doação
Aluguel entre pessoas físicas
Prestação de serviço recorrentes por pessoas físicas (como diarista, terapia, etc.)

‘Influencers do lixo’: os brasileiros que fazem sucesso mostrando o que americanos jogam fora

‘Influencers do lixo’: os brasileiros que fazem sucesso mostrando o que americanos jogam fora
Americanos jogam produtos novos, comidas e itens de luxo no lixo – e brasileiros têm conquistado muitos fãs mergulhando nessas caçambas em uma espécie de caça ao tesouro. O 'mergulhador' de lixeiras André da Silva tem mais de 300 mil seguidores
Facebook/Mais 1 Silva Por Aí
A fila dava volta no Parque Villa Lobos, área nobre de São Paulo, em uma tarde de junho.
Depois de minutos de espera, algumas pessoas choravam de emoção pela chance de encontrar a youtuber brasileira Adeline Camargo, que mora nos Estados Unidos e virou uma referência em vídeos de dumpster diving.
A expressão em inglês significa “mergulhar na lixeira” — e quer dizer isso mesmo: pessoas que entram e vasculham caçambas de lixo em busca por produtos em boas condições e até novos que são descartados pelos americanos.
“Sei que muita gente quer uma lembrancinha do dumpster”, registra no vídeo Adeline, que trouxe para o encontro no Brasil dezenas de produtos que ela encontrou assim para sortear entre os seguidores. São maquiagens, bolsas, objetos de decoração…
O encontro em São Paulo reflete o fenômeno entre brasileiros ávidos por vídeos sobre o lixo dos Estados Unidos.
São dezenas de canais no YouTube e perfis no Instagram, alguns de famílias inteiras, que mostram essa prática comum no país.
“Os brasileiros ficam muito curiosos, porque os americanos esbanjam muita coisa, é um desperdício que te deixa alucinado. Tem muita coisa nova”, diz Alessandra Gomes, capixaba que também se filma “mergulhando” no lixo, no Estado de Massachusetts. Ela já recolheu edredons, sofás, mesas e muita comida.
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Nos Estados Unidos, de forma geral, a atividade não é ilegal, mas navega em uma zona cinzenta.
Em 1988, no caso que ficou conhecido como California contra Greenwood, a Suprema Corte do país decidiu que não há “privacidade” no lixo deixado na calçada.
Mas regras específicas em Estados e cidades sobre a questão das lixeiras podem se sobrepor.
A atividade, por exemplo, pode ser considerada ilegal se envolver invasão de propriedade privada, se houver alguma placa indicando que é proibido mexer ou a lixeira estiver fechada com algum cadeado.
Entrar nessas áreas sem permissão pode resultar em acusações de invasão. Também pode haver denúncias sobre incômodo público ou risco à segurança na atividade.
Nos vídeos gravados pelos brasileiros, em geral, não é possível saber se eles invadiram propriedades ou se desrespeitaram proibições.
Ao menos uma destas pessoas disse à BBC News Brasil que já foi detida pela polícia após uma loja denunciá-la e precisou pagar fiança e passar por uma audiência na Justiça.
Vídeos que mostram os brasileiros sendo “pegos no flagra” acumulam muita audiência — na maioria, são funcionários de lojas que pedem para eles saírem ou simplesmente permitem que continuem.
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André da Silva busca por produtos novos nas caçambas
Acervo pessoal
“Já fui flagrado pela polícia algumas vezes”, diz André da Silva, de 49 anos, que se mudou do Rio de Janeiro para Rhode Island há 23 anos e hoje tem mais de 300 mil seguidores apenas no Facebook com seus vídeos.
"Mas, em geral, só perguntam o que estou fazendo, e eu explico que gravo vídeos. Eles ficam até chocados com as coisas que encontramos."
Apesar do fenômeno recente nas redes sociais em países como Brasil ou El Salvador, a atividade faz parte da rotina de americanos há décadas, explica Jeff Ferrell, sociólogo e professor emérito da Universidade Cristã do Texas (TCU, na sigla em inglês) que, há 50 anos, se debruça sobre o fenômeno — seja como pesquisador ou "mergulhando" ele mesmo em lixeiras.
Autor do livro Empire of Scrounge: Inside the Urban Underground of Dumpster Diving, Trash Picking, and Street Scavenging (Império dos catadores: dentro do submundo urbano da busca em lixeiras, coleta de lixo e garimpagem na rua, em tradução livre), ele passou oito meses sobrevivendo apenas com o que achava no lixo.
Ferrell explica que o perfil de "mergulhadores" de lixeiras é variado. Alguns, como ele, são movidos por ideologia.
Podem ser os chamados freegans, que por princípio de vida boicotam o consumo e sobrevivem com o que é descartado, ou organizações de caridade que distribuem esses bens e comida a moradores de rua ou necessitados.
“Muitas pessoas acreditam em uma redistribuição de recursos. Isso é tirar dos ricos e dar para os pobres, porque o lixo dos ricos em geral tem coisas de muita qualidade, coisas que ainda são muito úteis”, diz o pesquisador.
Mas os imigrantes, na maioria sem os documentos necessários para residir nos Estados Unidos, diz Ferrell, também sempre formam um grupo relevante nessa caça ao tesouro nas lixeiras.
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Alessandra Gomes chegou nos Estados Unidos há cinco anos, aos 19, em busca de um futuro melhor para ela e seu filho, na época com menos de 2 anos.
Ela saiu de Ecoporanga, no Espírito Santo, onde vivia uma relação conturbada com a família humilde na zona rural da cidade, para cruzar a fronteira do México rumo aos Estados Unidos.
Quando chegou a Massachusetts, ela conta, via muitas pessoas fazendo o dumpster diving.
“Foi quando fiz o primeiro vídeo, mostrando umas vasilhas e louças que achei. O vídeo viralizou, e eu vi que era um ramo que dava muita audiência”, diz Alessandra, que foca nas lixeiras de lojas e supermercados, porque encontra nelas muitos produtos ainda novos que foram descartados.
Segundo a capixaba, os brasileiros que assistem aos seus vídeos se dividem em dois grupos: os que se revoltam com o consumismo americano e a cultura do desperdício e os que ficam fascinados com os produtos e desejam imigrar para fazer o mesmo.
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Alessandra Gomes doa e vende objetos que encontra no lixo
Acervo pessoal
Os "mergulhadores" que se aventuram no lixo aprendem o dia da coleta de cada região e ficam ligados quando há uma renovação no estoque de uma loja.
O carioca André da Silva, de 49 anos, explica, por exemplo, que quando há uma nova coleção de roupas de cama, as lojas tendem a jogar fora edredons, fronhas e lençóis que são da temporada passada.
Ex-dançarino no Brasil e ex-lavador de pratos nos Estados Unidos, André administra o tempo entre sua empresa de demolição e a busca por caçambas.
Foi em um trabalho para uma loja há seis anos que ele percebeu o quanto os americanos jogavam coisas novas no lixo.
“Quando cheguei no dumpster, eu tomei um susto”, diz André.
“Era tudo novo, empacotado, toalhas caras, travesseiros. Chamei o gerente da loja, porque achei que eles tinham se enganado. Aí, ele disse que era o lixo mesmo, porque eles perdem dinheiro guardando isso no estoque.”
André teve que alugar um caminhão para buscar o tanto de produtos que estavam sendo descartados naquele dia.
O 'mergulhador' de lixeiras André da Silva tem mais de 300 mil seguidores
Facebook/Mais 1 Silva Por Aí
Para o professor Jeff Ferrell, que aos quase 70 anos segue vasculhando os lixos alheios no Estado do Texas, como os EUA são o principal país capitalista do mundo, a produção incessante de bens de consumo estimula o descarte.
“É inerente à cultura do consumo: haverá uma grande quantidade de lixo toda vez que um estilo de moda mudar ou novas tecnologias forem introduzidas”, diz Ferrell.
"Quanto mais orientamos nossa economia em torno da produção e consumo de bens, inevitavelmente, mais resíduos produzimos."
Além dos objetos em si, a comida também é parte importante do trabalho dos catadores-produtores de conteúdo.
Hoje, Alessandra e o marido focam na busca em caçambas de mercados que vendem alimentos. Esse, inclusive, é o aspecto que mais tem chocado a família.
“Tem muita coisa boa para consumo que jogam fora. Algumas passaram da validade, mas ainda servem. É chocante”, diz.
Segundo o Serviço de Inspeção e Segurança Alimentar dos Estados Unidos (FSIS, na sigla em inglês), "os fabricantes fornecem datas para ajudar consumidores e varejistas a decidir quando os alimentos estão na melhor qualidade".
"Exceto para fórmulas infantis, as datas não são um indicador da segurança do produto e não são exigidas pela lei federal", diz o FSIS em seu site oficial. Mas, ainda assim, muito é jogado fora.
Segundo Alessandra, a atividade de vasculhar o lixo rende de US$ 200 (cerca de R$ 1.100) a US$ 300 (R$ 1620) por mês com o que ela consegue vender. A audiência dos vídeos chega a render mais US$ 100 (R$ 540). O marido também trabalha como pintor.
O pesquisador Jeff Ferrell tem um quarto inteiro de coisas que acha no lixo
ACERVO PESSOAL
É lixo ou luxo?
Tocadores de música, bolsas, brinquedos caros, joias, relógios… O que mais chama atenção dos brasileiros nos vídeos de fato são os produtos caros que vão parar na lixeira dos americanos.
Os comentários vão desde um “fico babando com tantas coisas maravilhosas” a “meu sonho é ter essas coisas, queria ir praí”.
Para o pesquisador Jeff Ferrell, que já encontrou abotoaduras da marca de luxo Tiffany e pulseiras de diamantes, a ênfase dada às marcas e ao valor dos produtos nas redes sociais acaba desviando a filosofia por trás do movimento de dumpster diving.
“Acho irônico que as pessoas estejam nessa busca por bens de consumo em lixeiras. Em outras palavras, elas estão tentando transformar o lixo de volta em um estilo de vida de consumo”, opina.
Mas os brasileiros angariam fãs mesmo com as doações que fazem.
André da Silva explica que basicamente doa tudo que encontra para famílias em necessidade ou para igrejas de Massachusetts e Rhode Island.
Brasileira se alimenta com coisas descartadas por supermercados
Acervo pessoal
Já Alessandra, que cuida de dois filhos, se divide entre doações para famílias de imigrantes na vizinhança e para o próprio consumo.
“Não tenho vergonha nenhuma de estar dentro do lixo. Vim de uma família muito pobre, então, tudo que eu puder aproveitar, eu vou pegar mesmo”. E, segundo ela, postar.
A capixaba diz que “segura na mão de Deus” e segue realizando a atividade.
É que, na região onde vive, as lojas ficaram mais hostis aos “mergulhadores" de lixeiras, já que muitas pessoas acabam mexendo e deixando lixo espalhado na calçada.
Para quem há décadas explora o lixo americano, “há uma outra ironia” no sucesso digital da prática nos Estados Unidos.
“Qual é a chave para ser um bom dumpster diver? É ser discreto e nunca chamar atenção para si mesmo. Nunca postaria nas redes sociais”, aconselha Ferrell.
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